O personagem John Sugar, cujo sobrenome batiza a série do Apple TV+, é apresentado como uma espécie de reencarnação dos detetives do gênero noir, famoso na década de 1940 em películas protagonizadas por Humphrey Bogart; Relíquia Macabra, Uma Aventura na Martinica e À Beira do Abismo são bons exemplos. Mesmo que se passe nos dias atuais, o lançamento é permeado por um toque dessa era clássica. O detetive, especializado na busca de pessoas desaparecidas, é contratado em Los Angeles por um poderoso produtor de Hollywood para encontrar sua neta, que ele acredita ter sido sequestrada.
Com os monólogos em off de John Sugar, seu amor por carros antigos e ternos sob medida, além de fragmentos de filmes clássicos que vão aparecendo, a série poderia ter caído em uma paródia do gênero. Porém, o diretor Fernando Meirelles (Cidade de Deus, Dois Papas), em mais um projeto internacional, e o criador da série, Mark Protosevich (Eu Sou a Lenda, Thor), conseguiram evitar esse problema com um enredo complexo, mas desenvolvido com engenhosidade e clareza.
Além do cuidado com o enredo, a série oferece um retrato rico em nuances do seu protagonista, interpretado de forma excelente por Colin Farrell. Embora capaz de violência extrema, Sugar tenta evitá-la e só a utiliza como último recurso. Algum acontecimento doloroso em seu passado deixou o protagonista com sequelas psicossomáticas, mas seu domínio perfeito de vários idiomas e sua resistência ao álcool fazem dele uma espécie de super-herói.
César Charlone, colaborador de Mereilles em Cidade de Deus e O Jardineiro Fiel, e Richard Rutkowski (Os Americanos) entregam uma fotografia impecável com certos toques oníricos. Destaca-se também a eclética trilha sonora, que combina clássicos, como a prevísivel Sugar, Sugar (aqui na versão de Bob Marley), Piano Man, de Billy Joel, e The Passenger, de Iggy Pop, com canções mais recentes como A Ningún Hombre, de Rosalía.
© 2024 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol.
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