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Steve Martin tem carreira esmiuçada em documentário de duas partes
Steve Martin tem carreira esmiuçada em documentário dividido em duas partes| Foto: Apple TV+/Divulgação

“À medida que você envelhece, você se torna sua pior ou sua melhor versão”, reflete o comediante e ator Steve Martin. Ele é o objeto de um documentário em duas partes lançado pelo Apple TV+, com o engenhoso nome STEVE! (martin). Enquanto o primeiro capítulo, chamado  Antigamente, dá ênfase ao humorista em sua fase mais batalhadora e hilária, a última parte, Atualmente, mostra o veterano muito bem em sua velhice, bastante focado no presente.

A escolha de dividir o produto em duas partes foi uma boa sacada de Morgan Neville, cineasta que realizou formidáveis longas sobre figuras tão diferentes quanto o cozinheiro e apresentador Anthony Bourdain, o diretor Orson Welles e o roqueiro Keith Richards. Além de permitir mais espaço para que as (muitas) histórias de Martin sejam contadas, a divisão também permite abordagens completamente diferentes.

Para construir a história em Antigamente, o documentarista utilizou apenas imagens de arquivo e depoimentos em áudio de Martin e figuras como o comediante Jerry Seinfeld e Lorne Michaels, chefão da televisão americana e responsável pela criação do programa Saturday Night Live. Com grande estilo na edição, tal falta de material inédito em vídeo não deixa a película esfriar. Os clipes antigos são muito bem selecionados e reforçam que, nessa primeira parte de sua vida, Steve Martin vivia em sua cabeça, tomado pela ansiedade de se tornar um grande comediante até os 30 anos.

O caminho para chegar lá foi tortuoso: ele trabalhou na Disneylândia vendendo jornais, depois se tornou um mágico, cursou filosofia e lógica avançada e, enfim, botou seu foco totalmente na comédia. Esse trajeto faz o espectador compreender o estilo nonsense que Martin tinha em seus stand-ups nos anos 1960 e 1970, marcados pelo uso de adereços e piadas ocasionalmente ilógicas. Também faz entender o porquê de o comediante precisar de 15 anos para finalmente estourar no  mainstream. Tudo era uma questão de timing, tanto que uma hora ele para de se apresentar para apenas 17 pessoas e conquista o primeiro disco de platina de um comediante, com mais de um milhão de cópias vendidas.

Mesmo que seja o momento mais interessante de sua carreira, ele estava exibindo sua “pior versão”, conforme admite. Martin sofria com crises de pânico, nunca tinha um relacionamento fixo e “não conseguia um tempo sozinho, porém, quando conseguia, estava profundamente sozinho”. Nem tudo era negativo. Com o sucesso tardio, que envolveu a decisão de cortar o cabelo, colocar um terno e “parecer adulto”, o comediante foi capaz de se diferenciar de todos de sua época, fazendo uma paródia do próprio  show business e fugindo de temas políticos, tão comuns na boca de humoristas na década de 1970. Ele soube o momento exato de fazer suas transições dos palcos para a televisão e da televisão para o cinema.

Melhor idade de verdade 

A segunda parte de STEVE! (martin) muda completamente o estilo, mas não derruba o interesse do espectador. Agora os comentários do comediante e de colegas, em especial do amigo Martin Short, estão em primeiro plano, com a câmera focando em seus rostos e produzindo material inédito. Sua primeira sequência mostra Steve Martin preparando ovos e, em seguida, tentando ouvir uma fita de um antigo  stand-up seu. Ele não consegue finalizar a audição, com vergonha da sua falta de traquejo.

Cenas de Dinheiro do CéuTrês Amigos! eoutros filmes estrelados por Martin vão aparecendo, explicando sua trajetória no cinema, utilizadas de uma maneira mais interessada em revelar a evolução dele como pessoa. Sua arrogância, que antes era de mentirinha e depois se tornou real, vai reduzindo até ele se tornar o artista que é hoje, dividido entre suas apresentações tocando banjo (sim, ele é um músico respeitado na cena americana de bluegrass) e as gravações da série Only Murders in the Building, quase sempre acompanhado de Short.

A metade Atualmente é bem menos cáustica do que a Antigamente, num formato muito mais usual de documentário. Conquista o espectador pela beleza na forma de retratar um homem que está em paz consigo, depois de anos mergulhado em ansiedades. Para Martin, a velhice realmente é sua “melhor idade”, o que fornece uma espécie de ensinamento e inspiração para quem assiste, independentemente da idade. As duas partes de  STEVE! (martin) são complementares e capazes de oferecer um retrato completo de seu objeto. Não é difícil imaginar que o comediante e ator vá ganhar novos fãs a partir deste produto.

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