De todos os gêneros musicais, o jazz talvez seja o que mais concentre fãs com o discurso “bom era na minha época” ou a variação “isso era legal até a década de 60, depois foi ladeira abaixo”. Mesmo competindo com os roqueiros, que são cada vez mais revivalistas, os ouvintes de jazz se destacam nesse quesito e a justificativa para tal comportamento é óbvia.
Muito da melhor produção do estilo floresceu até a metade do século passado, com subgêneros seguindo vitais até meados dos anos 1970, nada muito além disso. Mas os bons músicos de jazz nunca entraram em extinção, como comprova uma turma boa escalada para a segunda edição do C6 Fest, que acontece no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, entre 17 e 19 de maio.
O evento vem de uma formidável estreia em 2023, no mesmo local, quando também fez apostas em renovadores do estilo centenário. Aqui mesmo, na editoria de Cultura da Gazeta do Povo, destacamos os shows de Samara Joy, uma revelação do jazz já agraciada pelo Grammy, e Jon Baptiste, um artista cheio de atributos e prêmios, que neste ano concorreu até ao Oscar.
Ambos fizeram apresentações consagradoras, assim como a dupla juvenil DOMi & JD Beck, provando que a nova geração tem o seu borogodó. Neste ano, a missão cabe ao supergrupo encabeçado pelo saxofonista Kamasi Washington, pelo multi-instrumentista Terrace Martin e pelo pianista Robert Glasper. Juntos, eles atendem pelo nome de Dinner Party.
O C6 Fest também oferece atrações para quem gosta de indie rock (Pavement), folk (Cat Power cantando Bob Dylan) e blues rock (Black Pumas), entre outros estilos. Mas, como filhote do Tim Festival e do Free Jazz Festival, é natural que o evento chame a atenção pela parte jazzística do line up.
Além do Dinner Party, o palco do Auditório Ibirapuera receberá a lenda viva Charles Lloyd, que aos 86 anos segue soprando seu sax tenor e representando uma linhagem nobre do jazz que se estabeleceu a partir dos idos de 1960.
Outro nome que merece os holofotes é Chief Adjuah, trompetista que já se apresentou outras vezes no Brasil quando ainda atendia por Christian Scott – ele foi rebatizado para honrar suas raízes indígenas e africanas. Adjuah deve participar do show do Dinner Party, além de fazer sua apresentação própria.
Jantar dançante
Kamasi Washington, Terrace Martin, Robert Glasper e até Chief Adjuah estão na faixa dos 40 e poucos anos. Isso significa que suas carreiras aconteceram nas primeiras décadas deste século. Esses músicos pegaram o jazz já como um gênero considerado morto na indústria cultural e conseguiram dar novo fôlego a ele, ao lado de artistas de mesmo brilho como o pianista Brad Mehldau, o trio The Bad Plus, o vibrafonista Stefon Harris, o baixista Thundercat e o cantor Gregory Porter, para citar alguns.
Além de suas carreiras individuais, Washington, Martin e Glasper colaboram com muita gente, especialmente no meio do hip hop. Essas vivências com rappers e DJs foram fundamentais para o nascimento do Dinner Party.
O supergrupo contemporâneo possui apenas dois EPs: Dinner Party (2020) e Enigmatic Society (2023). Neles, as influências de hip hop e R&B são preponderantes. Em vez de longos solos de saxofone ou piano, os instrumentistas entregam uma cama sonora manhosa, composta de faixas curtas e com participações vocais de talentos das rimas, como Phoelix e Ant Clemons.
O quarto membro do Dinner Party é o produtor de hip hop 9th Wonder, fundamental para dar a liga ao projeto. Quanto ao nome, ele acaba representando bem a proposta sonora. Experimente deixar os EPs tocando num jantar descontraído com amigos e a mágica certamente acontecerá.
Enquanto brincam em turma, os componentes do Dinner Party não descuidam de suas carreiras individuais. Na próxima sexta-feira, chega às plataformas digitais o quinto álbum de estúdio de Kamasi Washington, intitulado Fearless Movement. O saxofonista de Los Angeles tem muitos admiradores por aqui, já tendo se apresentado em casas como Audio e SESC Pompeia, em São Paulo, e no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
No show do Dinner Party, deve ter apenas uma música de sua carreira solo: Final Thought, que integra o álbum que lhe deu fama, The Epic (2015). Martin e Glasper também podem inserir números individuais na apresentação, mas a ideia do Dinner Party é mesmo congraçar expoentes do jazz moderno tocando algo mais palatável, voltado para os sons urbanos modernos. A oportunidade parece única, visto que suas agendas não permitem que o supergrupo se reúna toda hora.
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