Já ouviu falar em “séries de antologia”? Esse tipo de produção tem se tornado cada vez mais comum nos streamings e atraem espectadores que gostam de histórias com início, meio e fim. Nestes seriados, que os americanos chamam de “anthology TV series”, cada temporada apresenta um novo elenco e uma nova história que seguem alguma premissa básica. Há diversos casos de sucesso nessa seara. Fargo, American Horror Story e The White Lotus servem como bons exemplos disso. Mas a que mais gera discussões atualmente é True Detective, que finaliza sua quarta temporada, subtitulada Terra Noturna neste domingo, no HBO Max.
Lançada há dez anos, a primeira leva de episódios fascinou a crítica e os fãs de televisão com a dupla de policiais Rustin Cohle e Martin Hart, vividos pelos astros Matthew McConaughey e Woody Harrelson. Os detetives investigavam um caso macabro, com tons de histórias de terror, enquanto tentavam se aturar com suas personalidades totalmente distintas. Cohle era esquisito e repleto de viagens filosóficas, enquanto Hart, um homem desonesto e infiel. Lendo assim, não parece uma ideia inovadora, afinal essa é a dinâmica entre policiais em grande parte das produções do gênero. Mas o True Detective de 2014 se diferenciava por seu estilo e fortíssimo roteiro – inicialmente pensado pelo criador, Nic Pizzolatto, como um romance. O texto era capaz de dar medo, gerar curiosidade e ainda levar o espectador a reflexões existencialistas em um único episódio.
Por isso, quando a segunda temporada foi lançada, logo no ano seguinte, muitos fãs se decepcionaram. Toda a inteligência do roteiro original tinha ido embora, sendo substituída por algo sem substância. As críticas da imprensa foram destruidoras, fazendo com que Pizzolatto gastasse mais de quatro anos para escrever a terceira história, lançada somente em 2019. As coisas voltaram a uma melhor forma, mas a audiência caiu forte por causa do longo tempo de espera. O projeto estava em um limbo e o bom seriado não parecia ter mais futuro, até que chegou o anúncio de True Detective: Terra Noturna.
Um reinício promissor
A temporada atual acompanha as detetives Liz Danvers, interpretada por Jodie Foster, e Evangeline Navarro, vivida pela atriz e boxeadora Kali Reis, que investigam um crime chocante em uma cidade fictícia do Alaska, nos Estados Unidos. A ocorrência envolve uma equipe inteira de cientistas como vítima e acontece bem quando a região entra em seu período anual de escuridão durante o inverno. Junto da noite para alavancar o terror, o roteiro retoma o sobrenatural que apareceu em 2014 por meio da inclusão de personagens e contos folclóricos do povo Iñupiat, uma comunidade indígena local.
A história rica e as fortes atuações de Jodie e Kali renderam críticas muito elogiosas da imprensa antes mesmo do lançamento, deixando-a avaliada com 92% de resenhas positivas na plataforma agregadora de notas Rotten Tomatoes. Mas, apesar de muito bons, os novos capítulos deveriam ter sido lançados com um nome diferente.
Em seus três primeiros episódios, Terra Noturna realmente lembra bastante o clima do True Detective de dez anos atrás. E, sem dúvidas, foi esse conjunto que rendeu inúmeros comentários elogiosos de publicações especializadas afirmando que era um retorno às origens da série. Só que o negócio muda de figura do quarto capítulo em diante.
Os dramas pessoais de Liz e Evangeline nunca chegam a ganhar a mesma importância que os de Cohle e Hart, fazendo com que o espectador mal veja a hora de chegar nas cenas do desenrolar do crime. Em paralelo, o próprio assassinato fica cada vez menos interessante do que o caso do tal do Rei de Amarelo da primeira temporada.
Energia feminina
Essas diferenças não estragam a série, mas escancaram como a mudança no controle criativo do programa o afetou e o transformou em algo diferente. Parte disso ocorre justamente pelo fato de Pizzolato, que cuidou das três temporadas anteriores, ter sido afastado do projeto, sendo trocado pela diretora e roteirista mexicana Issa López.
Apesar de Issa fazer um bom trabalho em captar a energia assustadora, reflexiva e levemente paranoica do programa original, a showrunner também tomou claras decisões para ignorar esse passado e tentar transformar a produção em um projeto mais autoral. “Enquanto True Detective é masculina e suada, Terra Noturna é fria, escura e feminina”, chegou a dizer Issa em entrevista à revista Vanity Fair, até dando a entender que uma abordagem é melhor do que a outra.
No final das contas, tudo dependerá do último episódio a ser lançado. Se ele for avassalador, pode ser que Terra Noturna consiga chegar próximo do nível da primeira temporada. Mas jamais se igualará. A dica é: assista como se essa série não tivesse nada a ver com a estrelada por McConaughey e Harrelson. Não fazer isso pode tornar a experiência muito mais arriscada para os fãs do “seriado raiz” de 2014.
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