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Na esfera do rock clássico, não houve assunto mais celebrado e debatido nas últimas semanas do que o retorno aos palcos do Rush. O trio canadense despontou para o sucesso na década de 70 e nunca foi abandonado pelos seus fãs. Prova disso é que o Rush é um dos três grupos de rock com mais discos de ouro e de platina consecutivos ao longo da trajetória. Só que ninguém estava esperando uma reunião da banda em 2025.
O motivo é claro. Mesmo não sendo um membro fundador da banda, o baterista e letrista Neil Peart (1952-2020) mudou o Rush de patamar. O vocalista e baixista Geddy Lee e o guitarrista Alex Lifeson, já estavam na estrada há seis anos quando, em 1974, Peart entrou para a formação. Com sua técnica invejável e letras que tratavam de ficção científica, filosofia, fantasia e até de temas libertários, o baterista contribuiu demais para que o trio emplacasse 19 álbuns de estúdio, com milhares de cópias vendidas e músicas que qualquer fã de rock reconhece com poucos segundos, vide Tom Sawyer, que no Brasil virou tema de abertura do seriado Profissão: Perigo, do agente secreto MacGyver.
Em 2012, Peart lançou seu último disco com o Rush: Clockwork Angels. Pouco depois, em 2015, anunciou que não faria mais shows, vencido por terríveis dores nos ombros e complicações da tendinite. Lee e Lifeson não tardaram a declarar que, sem Peart, o Rush tinha chegado ao fim. Um agressivo câncer no cérebro levou o baterista em 2020, quando ele tinha 67 anos.
A banda permaneceu inativa nesta década, a não ser por surpreendentes aparições de Lee e Lifeson no espetáculo de 25 anos do desenho South Park (em que este escriba estava presente) e no concerto em tributo ao baterista do Foo Fighters, Taylor Hawkins (1972-2022). Por mais que os aficionados desejassem rever os dois músicos remanescentes tocando as músicas do Rush, havia uma admiração muito grande pela decisão do baixista e do guitarrista em aposentar o nome da banda na ausência de Peart. Certos grupos não esperam nem o defunto esfriar para arrumar um substituto quando algum membro importante se vai. Um luto como o do Rush é coisa rara no showbiz.
Uma alemã nas baquetas
Acontece que Geddy Lee e Alex Lifeson, ambos hoje com 72 anos, estavam com vontade de voltar a tocar o repertório que os consagrou. As reuniões para participar do evento de South Park e da homenagem a Hawkins aumentaram essa volúpia. A questão era: quem chamar para sentar no banquinho do insubstituível Peart? E as comparações que surgiriam assim que o nome do infeliz fosse anunciado?
Os músicos se esquivaram dessa arapuca de uma maneira muito prosaica e aleatória. Um técnico de som que trabalha com eles um dia sugeriu: “vocês deviam levar um som com a baterista da banda do Jeff Beck (1944-2023)”. Ele estava falando de Anika Nilles, baterista alemã de 42 anos que começou a chamar a atenção no YouTube na década passada. Por ser mulher e por vir de uma escola mais ligada ao jazz, as comparações com Peart não viriam tão fortes.

Assim que o Rush surpreendeu o mundo com as primeiras datas da Fifty Something Tour e o anúncio de quem empunharia as baquetas, a família de Peart soltou um comunicado dizendo estar muito feliz com a notícia. Ou seja, mesmo que algum fã ranheta reclamasse que a banda não deveria voltar aos palcos sem seu baterista e principal compositor, o espólio do músico deu seu aval público para o pequeno giro, com datas nos Estados Unidos, Canadá e México.
O interesse pelos ingressos, obviamente, está insano. Tanto que Lee e Lifeson reapareceram nesta semana para dizer que a turnê ganharia novas datas até dezembro de 2026. Claro que para 2027, a massa que segue a banda de rock progressivo na Europa, Ásia, Oceania e América do Sul espera ver de perto a formação com Anika, formação essa que nem sequer tem algum registro em vídeo divulgada.
O que o encontro dos canadenses com a alemã já rendeu foi uma boa piada. A plateia do Rush tem a fama de ser muito masculina. Extremamente masculina. Logo após o anúncio dos shows, começaram a rolar memes dizendo que, com Anika atrás do kit, já era certo que os próximos shows do Rush teriam mais mulheres no palco do que na audiência. Um chiste que já deve ter chegado aos ouvidos e feito o boa praça Geddy Lee e o sempre animado Alex Lifeson darem boas risadas.

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