Ao chegar aos cinemas americanos, no meio de 2004, Diário de uma Paixão não gerou números impressionantes. Mas, semanas depois, o romance dirigido por Nick Cassavetes havia se tornado um sleeper, expressão inglesa que indica que, sem ninguém perceber, aquela obra foi crescendo no boca-a-boca e virou um grande sucesso. Os 29 milhões de dólares investidos, em pouco tempo, viraram 117 milhões de lucro. E melhor ainda para quem apostou na produção: ela virou cult, seguiu fazendo a cabeça de novas audiências, tendência que não deve mudar tão cedo.
Isso ocorre porque Diário de uma Paixão oferta uma história de amor com aspectos que muitos espectadores conseguem se identificar. Seja para um adolescente confuso com a chegada da primeira paixão, seja para uma pessoa bem vivida que teve o privilégio de amar alguém profundamente ao longo de sua jornada na Terra, o filme tem forte apelo, mesmo não trazendo em si alguma quebra de paradigma para a sétima arte ou qualquer característica transgressora. Ele apenas toca e marca quem o assiste.
A narrativa se divide em dois momentos. Nos idos de 1940, entram em cena a jovem de 17 anos Allie, e o obstinado Noah, que se apaixona por ela à primeira vista num parque de diversões de uma cidade de veraneio. O romance se estabelece após muita insistência do rapaz, que trabalha numa madeireira local e tem sonhos modestos. Já Allie pertence a uma família abastada e está prestes a ingressar numa faculdade longe dali. Não bastasse esse complicador geográfico para o namoro, a família da garota é totalmente contra a relação por conta da diferença social.
Esse envolvimento dos dois é apresentado numa forma curiosa de flashback, com um senhor lendo um diário com o tal relato para uma senhora num asilo. Com pouco tempo de filme, fica claro que aqueles são Noah e Allie vivendo os percalços da terceira idade – ela, num estágio avançado e irreversível de demência, e ele rememorando a trajetória dos dois para ver se sua amada recobra a lucidez plena, ainda que por uns cinco minutinhos, para assim celebrarem novamente a sorte de terem se esbarrado numa roda gigante décadas atrás.
Desconhecido e não bonito
Quando o livro de Nicholas Sparks foi adquirido por um estúdio para virar longa-metragem, em 1996, o primeiro cineasta cogitado para a transposição para as telas foi Steven Spielberg, que possivelmente chamaria Tom Cruise para o papel de Noah. Questões de agenda fizeram o roteiro passar pelas mãos de outros dois diretores até ficar com Cassavetes, que apesar de uma filmografia irregular, tem trabalhos vistosos no currículo, como o que veio depois de Diário de uma Paixão, o thriller Alpha Dog (2006). Nesse estágio, a versão jovem de Noah seria interpretada por George Clooney e a idosa por Paul Newman.
Mas Cassavetes queria trabalhar com um ator desconhecido e que “não fosse bonito”. Foi assim que ele escalou a promessa Ryan Gosling, muito antes de La La Land ou de encarnar o boneco Ken em Barbie. Já a mocinha por muito pouco não caiu no colo da cantora Britney Spears, sensação em 2004, mas que provavelmente impediria o filme de sobreviver tão bem ao tempo. A sorte é que Rachel McAdams, no mesmo ano em que explodiria com Meninas Malvadas, fez o teste e arrasou. A versão veterana do casal ficou a cargo de James Garner e Gena Rowlands.
Outros atores experientes do elenco que valem ser citados são Sam Shepard (como o pai bonachão de Noah) e Joan Allen (como a mãe amargurada de Allie). James Marsden, na ocasião com dez anos de carreira televisiva, e que acaba de brilhar em Pacto de Redenção e no ano passado rendeu as melhores risadas na série Jury Duty, pegou o papel de noivo de Allie – sim, porque os protagonistas não ficam juntinhos da primeira à última cena e isso dá sabor a Diário de uma Paixão. Marsden venceu a concorrência com um ator então menos badalado do que ele: Bradley Cooper.
Nas premiações do ano seguinte, o filme foi praticamente ignorado. O grande reconhecimento veio da pouco respeitada porém divertida premiação de cinema da MTV, que deu a Ryan Gosling e Rachel McAdams o troféu de Beijo do Ano. Na disputa pela Melhor Performance Feminina, Rachel perdeu para Lindsay Lohan, sua rival em Meninas Malvadas. Mas isso não impediu que Diário de uma Paixão permanecesse no coração de muita gente (incluindo a crítica de cinema Isabela Boscov, que confessou ser fissurada no longa numa entrevista recente), com sua defesa de que enamorados devem lutar e zelar pela boa ventura da união, mesmo quando o cérebro de um dos dois já não permite mais ter a dimensão daquele amor.
- Diário de uma Paixão
- 2004
- 124 minutos
- Indicado para maiores de 14 anos
- Disponível no Max e para locação na Amazon e Apple TV
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