A Igreja de Nossa Senhora do Rosário, invadida no último final de semana por um grupo de manifestantes liderado pelo vereador de Curitiba Renato Freitas (PT), não receberá nenhuma celebração especial no próximo sábado (12). A paróquia confirmou à Gazeta do Povo que haverá apenas a realização da santa missa às 17h, como é feito todas as semanas, e não um ato pela paz, como chegou a ser divulgado anteriormente.
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A mudança na programação foi confirmada à reportagem pela Arquidiocese de Curitiba. A nova orientação do arcebispo Dom José Antonio Peruzzo é que em todas as comunidades do território arquidiocesano sejam celebradas missas pela paz. A única exceção é a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, no Largo da Ordem, onde a programação litúrgica deve seguir sem alterações.
Segundo a assessoria de comunicação da Arquidiocese, a mudança é vista não como um recuo, mas como uma ampliação do entendimento anterior, uma vez que a orientação – não obrigatória – de realizar celebrações pela paz se estende agora a todas as paróquias, capelanias e igrejas reitorais. Sobre o cancelamento do ato na igreja invadida, a assessoria informou apenas que “o momento não é o mais propício, uma vez que os ânimos ainda seguem muito exaltados sobre o que ocorreu por lá”.
Apesar dessa avaliação sobre o atual momento, a Arquidiocese não informou sobre planos futuros para realizar alguma celebração diferenciada na Igreja de Nossa Senhora do Rosário.
Relembre o caso
O vereador Renato Freitas, do PT, liderou uma invasão da Igreja Nossa Senhora do Rosário, em Curitiba, no último dia 5 de fevereiro, durante uma missa. Dezenas de pessoas, com bandeiras do PT e do PCB, entraram à força no templo e começaram a gritar palavras como "racistas" e "fascistas".
O vereador Renato Freitas publicou uma nota confirmando ter feito o protesto em memória e por justiça pelas mortes de Moïse Mugenyi e Durval Teófilo Filho. De acordo com Freitas, durante a manifestação realizada em frente ao templo, "um diácono responsável pela igreja, solicitou que os manifestantes fossem para outro local, sob a justificativa de que o ato não deveria coincidir com a saída dos religiosos da missa que havia se encerrado".
Imagens da missa mostram o momento em que o padre Luiz Hass comenta com fiéis sobre a manifestação realizada em frente à igreja e também mostram quando o grupo entrou no templo. O protesto era realizado no Largo da Ordem, no centro da capital. O ato, porém, acabou culminando na invasão da igreja.
Sem atender aos pedidos do padre, que queria continuar a missa, Freitas fez um discurso dizendo, no meio do templo, que os católicos tinham apoiado um "policial que está no poder". Para ele, os assassinatos de Moïse e Durval teriam relação com a conivência das pessoas com fé católica a autoridades "fascistas".
De acordo com o artigo 208 do Código Penal brasileiro, escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso; ou ainda "impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso", como fizeram os manifestantes em Curitiba, são considerados crimes contra o sentimento religioso. A pena prevista é de detenção de um mês a um ano, ou ainda pagamento de multa. Quando há emprego de violência, a pena pode ser aumentada em um terço.
Na manhã de segunda-feira (7), a Arquidiocese de Curitiba divulgou uma nota oficial sobre o incidente, sem informar se irá processar os organizadores do ato. Assinada pelo arcebispo dom José Antonio Peruzzo, o texto considerou a ação dos manifestantes como "agressividades e ofensas". A nota ainda ressalta que "a posição da Arquidiocese de Curitiba é de repúdio ante a profanação injuriosa".
Os diretórios do Partido dos Trabalhadores do Paraná e de Curitiba divulgaram nota conjunta afirmando que o partido “não participou da decisão momentânea de adentrar o templo religioso, assim como não fazia parte da coordenação do ato”.
Uma onda de reações negativas à conduta do parlamentar se sucedeu à invasão. Pedidos de cassação do mandato de Freitas foram protocolados na Câmara Municipal de Curitiba. Quatro dessas representações foram admitidas pela Mesa Diretora da casa. O processo agora será enviado ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, para instauração de procedimento de investigação que pode resultar nas seguintes penalidades: censura pública; suspensão de prerrogativas regimentais; suspensão temporária; ou perda de mandato. Também há a possibilidade de arquivamento das representações.
O vereador pediu desculpas em sessão da Câmara na quarta-feira (9). “Algumas pessoas se sentiram profundamente ofendidas [pela manifestação contra o racismo ter adentrado à igreja] e a elas eu peço perdão, pois não foi, de fato, a intenção de magoar ou ofender o credo de ninguém, até porque eu mesmo sou cristão”, falou o petista.
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