Equilibrar o impacto social e o lucro é a fórmula em que a Alicerce aposta para multiplicar sua capacidade e atingir 4 milhões de alunos nos próximos anos. A meta é ousada frente ao fato de a startup de educação, que oferece aulas de reforço escolar de português e matemática, além de atividades educativas, ter iniciado suas operações há cerca de três semanas, com quatro unidades em funcionamento na Grande São Paulo e capacidade para atender 2 mil estudantes – 120 estão matriculados.
“O que nos move é a missão em relação à educação dos jovens. Mas o fato de sermos um negócio a torna mais eficiente, pois é mais fácil atrair talentos. Nele, os pais ainda se sentem clientes, o que faz com que nos cobrem mais. Tudo isso contribui para manter a qualidade do processo”, avalia o advogado Paulo Nogueira Batista, principal sócio e CEO da Alicerce.
A metodologia da escola é outro dos fatores que devem contribuir para os resultados, na opinião dele. Inspirada no modelo adotado em países como Finlândia, Canadá, Estados Unidos e Espanha, e distante da utilizada nas escolas brasileiras, ela tira o foco do professor e o direciona para o aluno, que é estimulado a aplicar o conteúdo de forma prática em atividades realizadas em sala de aula.
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Ao chegaram à Alicerce, eles passam por um processo de avaliação e diagnóstico, que compreende seus conhecimentos em Português e Matemática e também questões relacionadas ao seu desenvolvimento socioemocional. A partir deste diagnóstico, é elaborada a chamada trilha de aprendizado para um ciclo de dois meses, período após o qual o progresso do aluno é reavaliado e, sua trilha, refeita.
“O programa de ensino é elaborado de acordo com o que o aluno precisa, e não no desafio de enquadrá-lo ao plano letivo. Esta é a grande inovação: um ensino individualizado, em escala e a custo baixo”, reforça Batista.
As turmas têm capacidade para 40 alunos, acompanhados por dois professores, que dentro do programa são chamados de líderes. São jovens universitários ou recém-formados, em sua maioria oriundos de escolas públicas, que passam por um programa de formação de 45 dias antes de entrarem em sala. A motivação e o comprometimento em “fazer diferente”, além da proximidade geracional deles com os alunos estão entre os fatores que justificam o recrutamento dos jovens, segundo o CEO.
Gargalo educacional do país é combustível para o negócio
É no déficit educacional brasileiro que está ancorada a missão e o potencial ganho de escala da Alicerce. “Estamos falando de 40 milhões de jovens em situação vulnerável, e de 11 milhões que não estão na faculdade e nem conseguem o primeiro emprego, sendo a falta de qualificação uma das causas disso. 70% dos jovens brasileiros não têm o nível básico [de conhecimento] de matemática se considerados os padrões internacionais. Nossa missão é grande”, avalia Batista.
Assim, o foco do trabalho oferecido pela startup está em quem não faz parte da “elite brasileira”, nos alunos entre 6 e 17 anos de escolas públicas oriundos de famílias das classes C e D, e também nos da classe B, matriculados em escolas particulares de bairro, mas que necessitam do reforço escolar.
Os valores cobrados pelas mensalidades demonstram o foco da empresa neste perfil sócio-econômico e a tornam uma opção viável de contraturno para os pais, que muitas vezes não têm com quem deixar os filhos enquanto estão no trabalho. A mensalidade do plano base, com aulas três vezes por semana, custa R$ 118 e engloba aulas de reforço em português, matemática, desenvolvimento socioemocional e descobertas (atividades com temas relacionados a conhecimentos da humanidade, como física, química, astronomia, música e literatura).
“Por meio do formato da descoberta, cumprimos o objetivo de expandir a cultura da criança de maneira divertida e sem cobrança. Medimos a base, inglês, português, matemática, que é o fundamental”, explica o CEO da Alicerce.
A língua estrangeira, assim como as aulas de programação, compõe o chamado plano completo, com mensalidade de R$ 178 e cinco aulas semanais. Nos dois planos os alunos podem permanecer na escola por até 5h30, sendo 3h dedicadas às aulas e 2h30 às brincadeiras e atividades lúdicas.
A Alicerce ainda oferece opção de lanche, ao custo de R$ 59 mensais, e espaço destinado ao almoço dos alunos, cuja contratação é facilitada por meio de parcerias. Além disso, conta com suporte de transporte com vans próprias e de parceiros, cujo valor parte de R$ 59 mensais para distâncias de até 3 quilômetros do polo.
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A estrutura física da startup é outra ponta que fundamenta o modelo de negócio. Instalada em imóveis locados, a escola conta com salas de aula enxutas (com área entre 65 e 70 m²), suficientes para comportar as “estações de aprendizagem” e os equipamentos necessários à realização das aulas, que vão dos tradicionais lousa e giz a tablets, jogos pedagógicos e quadro com tecnologia touch.
As mesas e cadeiras, por sua vez, são produzidas em uma fábrica própria, o que reduz drasticamente seu custo. “Fabricamos um conjunto de mesa e cadeira por R$ 50. Se fôssemos comprá-lo, ele custaria entre R$ 400 e R$ 450. A opção em manter a fábrica está em linha com o plano de escalonar o negócio”, explica Batista.
O advogado, que fez carreira no mercado financeiro e fundou a Dental Cremer, empresa de varejo online de produtos odontológicos vendida a um grupo americano, não está sozinho à frente da Alicerce. Ele tem como sócios Eduardo Mufarej (ex-CEO da Somos Educação), Jair Ribeiro (fundador da Parceiros da Educação) e o apresentador Luciano Huck, com quem compartilha as metas audaciosas.
Até o fim deste ano, por exemplo, o objetivo é abrir dez unidades por mês na grande São Paulo. Para este segundo semestre, também está prevista a abertura de polos em Belo Horizonte (4), Curitiba (3) e Belém (3). “Para fechar a equação de custo é importante ter mais de um polo em cada cidade. Esperamos fechar o ano com 50 unidades em funcionamento”, projeta o CEO.