A Argentina não conseguiu fechar um acordo ontem com os fundos credores dos Estados Unidos, que a Casa Rosada chama de "abutres". Com isso, o país entra em "default iminente", de acordo com um comunicado do advogado Daniel Pollack, o mediador designado pelo juiz Thomas Griesa para as negociações entre a Casa Rosada e os fundos.
No comunicado, Pollack disse que o default "não é uma mera condição técnica, mas um evento real e doloroso que prejudica pessoas reais", inclusive cidadãos argentinos, detentores dos bônus reestruturados e os investidores holdouts. "Todas as consequências do default não são previsíveis, mas certamente não são positivas", reforçou o mediador.
O ministro da economia da Argentina, Axel Kicillof, que participou ontem da reunião de seis horas em Nova York, nega que o país tenha dado o calote. Em entrevista a jornalistas após as negociações, ele afirmou em vários momentos que o país vem pagando e vai continuar pagando seus compromissos financeiros. Recentemente, disse, a Argentina desembolsou US$ 650 milhões para o Clube de Paris. Além disso ele destacou outros recursos depositados em bancos e que o juiz Thomas Griesa impediu a distribuição aos credores. "Me surpreendeu negativamente (o comunicado de Pollack)", afirmou o ministro.
Kicillof afirmou que os fundos dos EUA não aceitaram as propostas feitas pelo governo, que buscavam adiar a execução da sentença dada em 16 de junho, que determinava o pagamento de US$ 1,3 bilhão aos fundos dos EUA até ontem. Kicillof afirmou que o país fez outra proposta, de uma troca ("swap") que daria aos "abutres" um lucro de 300%, segundo o ministro. "Mas eles não aceitaram, porque querem mais", afirmou.
Sem pagar esta dívida, o país foi impedido por Griesa de pagar cerca de US$ 830 milhões aos fundos que aderiram às reestruturações da dívida de 2005 e 2010. O país depositou, por exemplo, US$ 540 milhões no Bank of New York e o dinheiro ainda está retido na instituição. Kicillof classificou na entrevista a situação de "insólita e inédita".
Conversas frustradas
Nos últimos dias, os credores e advogados correram contra o tempo para tentar evitar o calote da Argentina. Ontem, credores com bônus denominados em euro do país entraram com um pedido de emergência para a suspensão da sentença que determina o pagamento aos holdouts. Além disso, estes fundos abriram mão da chamada cláusula Rufo, que exige os mesmos benefícios aos credores da dívida reestruturada dos oferecidos aos holdouts.
A cláusula Rufo, que vence em dezembro deste ano, foi constantemente citada pela Argentina nas conversas como o principal empecilho para o avanço das negociações.
Nota rebaixada
A agência Standard & Poors, que analisa o risco de potenciais calotes de títulos, rebaixou a nota da Argentina no fim da tarde de ontem. A nota de risco caiu de CCC- para SD (default seletivo). A notícia foi divulgada enquanto o ministro da Economia, Axel Kicillof, estava reunido com o negociador apontado pela Justiça dos EUA. Antes do rebaixamento da S&P, no mercado financeiro os ativos atrelados à negociação da dívida tiveram altas. Foi o caso da cotação dos títulos que poderiam entrar em default: passaram a valer 10,7% a mais. O principal índice da Bolsa de Buenos Aires, o Merval, subiu 6,94%.