Ouça este conteúdo
O reajuste de 7% no preço da gasolina e de 9,6% no gás de cozinha (GLP) para as distribuidoras de combustíveis, anunciado nesta segunda (8) pela Petrobras, poderá levar o IPCA para fora do teto da meta prevista pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que é de 3% com tolerância de 1,5 ponto percentual. Depois do anúncio, bancos, consultorias e corretoras começaram a rever as projeções para a inflação oficial em 2024.
Segundo o economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo, a decisão do reajuste coloca no horizonte a possibilidade de que a taxa de inflação exceda o teto do intervalo da meta. “Como a projeção antes dos reajustes era de inflação em 2024 de 4,3%, a inclusão destes reajustes levaria o IPCA para 4,49% neste ano, no limite do de metas, que é de 4,5%.”
Camargo aponta que a projeção original não leva em consideração a forte desvalorização do real frente ao dólar nos últimos 30 dias, motivada principalmente por declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra o ajuste fiscal e a política monetária empreendida pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
VEJA TAMBÉM:
“Se supusermos que a taxa de câmbio permanecerá em torno de R$ 5,50, teríamos um efeito adicional de aproximadamente 0,3 ponto percentual [com o reajuste da gasolina e do GLP], rompendo o limite superior do intervalo de metas para a inflação.”
Quem também reviu as projeções de inflação foi a Warren Investimentos. Segundo a estrategista de inflação, Andréa Angelo, o reajuste da Petrobras deve significar um aumento de 2,5% nas bombas. Isto eleva as expectativas do IPCA de 4,10% para 4,28%.
Um novo retrato das expectativas para a inflação será divulgado na próxima segunda-feira (15) pelo Banco Central (BC), quando apresentar os novos números. Nas últimas nove semanas ela tem aumentado. Nesta segunda (8), ela estava em 4,02%.
Reajuste da gasolina é considerada insuficiente pelo mercado
O aumento no preço dos combustíveis é considerado insuficiente pelo mercado e também terá impactos indiretos para o consumidor. “A gasolina mais cara com toda certeza irá puxar a inflação para cima. Haverá o aumento do custo de transporte e, consequentemente, elevará os preços dos alimentos e de outros bens que dependem da rodovia", explica Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike.
Ele pondera que, se por um lado, o aumento desagrada à população, por outro, o mercado recebe bem a alteração após longo período. O último reajuste da gasolina foi em agosto de 2023 e do gás de cozinha, em março de 2022.
A defasagem nos preços dos combustíveis continua, segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom). Para a gasolina, ela caiu de 18% para 10%. Para o diesel, que não foi reajustado, está em 12%.
A entidade diz que a Petrobras demorou a reajustar os preços e adotou uma decisão para não impactar ainda mais a inflação. “O governo tem praticado um congelamento não declarado de preços dos combustíveis”, disse o presidente da associação, Sergio Araújo ao G1.
Avaliação é vista como sinal de que Petrobras vai manter política de preços
Apesar do aumento pesar no bolso do consumidor, o mercado avaliou de forma positiva os reajustes. A alta foi a primeira na gestão da nova presidente da estatal, Magda Chambriard, que assumiu o cargo em 24 de maio.
Segundo Fábio Murad, sócio da Ipê Avaliações, a decisão de aumentar os preços em um contexto inflacionário e de alta volatilidade no mercado internacional de petróleo sinaliza uma "postura firme da gestão da empresa em relação à sua política de preços, o que tende a reduzir a percepção de risco em relação à intervenção governamental".
Além disso, a elevação dos preços é vista como um movimento positivo para melhorar as margens de lucro da companhia, o que pode resultar em uma maior distribuição de dividendos no futuro”, completa o analista.
Para o Itau BBA, o aumento de 7% é o ajuste exato necessário para realinhar os preços da gasolina da Petrobras com o limite inferior das faixas de preço das últimas três semanas. É a mesma avaliação da XP Investimentos. Ambas defendem que o reajuste manda a mensagem de que a petrolífera quer em manter a política de preços alinhada ao mercado, evitando repassar a volatilidade ao consumidor.
A corretora acredita que o novo preço da gasolina está dentro do intervalo entre o custo alternativo do cliente (similar à paridade de importação) e o valor alternativo para a Petrobras (algo acima de paridade de exportação).
Em maio de 2023, a Petrobras anunciou uma nova estratégia de preços, dando fim ao regime de preço de paridade de importação (PPI), que ajusta o preço dos combustíveis conforme variação da cotação do petróleo e do dólar.
Outro efeito dos preços novos é a possibilidade de alta nas ações. Segundo Graziela Ariosi, estrategista-chefe da Swiss Capital Invest, ao elevar o valor do combustível, a receita da empresa aumenta, o que pode gerar maior lucro. “Investidores geralmente veem empresas com lucros crescentes como mais valiosas.”