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2020 foi bom para Bolsa de Valores, apesar da crise
IPO das Lojas Quero-Quero em plena pandemia: 2020 foi bom para Bolsa de Valores, apesar da crise| Foto: B3/Divulgação

Quando 2020 começou, os prognósticos para o mercado de capitais eram todos muito otimistas, até que veio a pandemia da Covid-19. No Brasil, a Bolsa de Valores havia atingido em janeiro um recorde de 119,5 mil pontos. Mas tombou em março: chegou a bater 61,7 mil pontos durante pregão, acionou duplo circuit breaker e amargou o pior trimestre da história. Apesar disso, houve recuperação, e o ano fecha com último pregão do ano, na quarta-feira (30) no patamar de 119,1 mil pontos (depois de ter superado os 120 mil pontos no intraday), recorde de CPFs cadastrados e oferta de ações em alta.

Apesar da crise, 28 empresas decidiram abrir capital (IPO, na sigla em inglês) e mais 23 fizeram suas ofertas secundárias (follow-on), movimentando cerca de R$ 117 bilhões.

Para 2021, o mercado aposta na vacinação contra a Covid como propulsor de um novo ano de recordes. Bancos de investimento esperam ao menos 40 IPOs e ofertas movimentando R$ 140 bilhões.

Rodrigo Moliterno, sócio e head de renda variável da Veedha Investimentos, avalia que o mercado de ações entrou em 2020 no Brasil empolgado com a situação de juros baixos e agenda de reformas – a da Previdência havia sido aprovada no fim de 2019 e havia outras na lista. A pandemia foi o banho de água fria. Mas houve resposta pronta de governos ao redor do mundo, com injeção de incentivos fiscais que aumentaram a liquidez. “Do mesmo jeito que teve um excesso na queda, teve um excesso muito rápido na alta”, observa o analista.

Esses excessos não foram exclusividades do Brasil. Outros países também registraram quedas abruptas em março e abril e agora têm recuperações vigorosas, até otimistas. Em parte, isso é reflexo da aposta que está sendo feita de vacinação em massa em diversos países, com resultados relevantes ainda no primeiro trimestre de 2021. “Está todo mundo apostando na vacina, na expectativa de as economias voltarem a tracionar”, diz.

Recorde de CPFs e ofertas bilionárias

A B3 vai fechar 2020 com 3,2 milhões de pessoas físicas cadastradas como investidoras, que possuem R$ 424 bilhões em ações. O movimento é reflexo de um cenário em que os juros baixos “obrigaram” o investidor a diversificar e arriscar para fazer o dinheiro render mais – já que a Selic está no menor patamar histórico, fixada a 2% ao ano.

“Estamos no início do processo de diversificação e de educação financeira, e acho que isso também ajudou no comportamento das pessoas físicas, que viram na queda da Bolsa uma oportunidade de entrada, e não de retirada de seus investimentos [após a forte queda do preço das ações no início da pandemia]. As pessoas físicas colocaram mais de R$ 80 bilhões diretamente em ações. O volume e a velocidade dos investimentos foram a maior surpresa no meio da crise”, diz Gilson Finkelsztain, presidente da B3.

Para ele, os mesmos juros baixos que levaram o investidor à Bolsa também impulsionaram as ofertas de ações por parte de empresas. Os IPOs e follow-ons movimentaram R$ 117 bilhões em 2020, sendo que foram 28 estreias. Ainda que algumas empresas tenham desistido ou postergado os planos por causa da pandemia, o desempenho foi excelente.

O volume de dinheiro movimentado com essas ofertas é o maior desde 2010 – naquele ano, os follow-ons impulsionaram o mercado e a Bolsa fechou o ano somando R$ 149,2 bilhões nessas ofertas. Já o recorde de IPOs ocorreu em 2007, quando as novas ações movimentaram R$ 55,6 bilhões. Em 2020, esse tipo de operação havia movimentado, até novembro, R$ 31,3 bilhões.

A procura por oferta de capital na bolsa neste ano também ocorreu com empresas médias. Para Finkelsztain, isso é reflexo do aumento de demanda, porque oferta sempre teve. “Não tinha demanda porque os fundos de ações não recebiam recursos e as pessoas físicas não compravam ações. O problema para as empresas médias abrirem capital no Brasil era a falta de demanda por causa de juro alto. O que vimos nesse ano foram empresas fazendo IPO de R$ 200 milhões a R$ 12 bilhões”.

Mais IPOs: o que esperar da Bolsa em 2021

Para 2021, bancos de investimento já projetam novas rodadas de ofertas de ação na Bolsa, por empresas de perfil diverso: desde grandes companhias, dispostas a levantar as chamadas ofertas “jumbo”, até empresas menores, algumas delas vindas de setores que ainda não estão na B3. Na fila para abertura de capital há quase 50 companhias já com documentação entregue à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

A estimativa do Itaú BBA, por exemplo, é de 50 a 70 ofertas em 2021, que podem movimentar, juntas, de R$ 110 bilhões a R$ 140 bilhões. Dentre mais aguardadas, está a abertura de capital da subsidiária de mineração da CSN, programada para movimentar R$ 8 bilhões. O Grupo Big e o banco BV também fazem parte da lista. Nas operações de menor porte há marcas como Westwing (e-commerce de decoração), Mobly (de móveis) e o Grupo Cortel, do setor funerário.

Rodrigo Moliterno, da Veedha Investimentos, reforça que o horizonte para 2021 ainda é bastante favorável, porque o período de juros baixos segue positivo para o mercado de renda variável.

Mas ele alerta para as "jabuticabas" brasileiras, que podem embolar a bolsa aqui. “A eleição da Câmara e Senado deve trazer volatilidade e nossa questão fiscal ainda está delicada. O governo precisa tomar cuidado para não estourar o teto de gastos e perder a credibilidade”, alerta. Além disso, ele considera urgente que se volte a negociar o andamento das reformas estruturais.

*Com informações do Estadão Conteúdo

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