Quem acreditou no sinal de melhora da economia que apareceu no segundo trimestre se decepcionou com a queda de 0,8% do PIB de julho, agosto e setembro, divulgado nessa semana pelo IBGE. A retração desta vez afetou todos os indicadores que compõe a atividade. O comércio exterior, apontado como uma das saídas para a crise, arrefeceu diante da queda do dólar. O consumo das famílias acumula sete quedas seguidas e continua pressionado diante do desemprego persistente, queda na renda e retração no crédito. Ao mesmo tempo, a insegurança emperra investimentos e gastos do governo, principalmente atrelados às concessões.
A maior queda registrada no terceiro trimestre vem dos investimentos (-3,1%). Entre as 12 atividades da economia, somente duas tiveram alta em relação ao período anterior: extrativa-mineral (3,8%) e serviços de informação (0,5%). Não há sinal de recuperação na indústria (-1,3%), serviços (-0,6%) ou agropecuária (-1,4%). Agora é a vez das projeções para a retomada do ano que vem derreterem. Há analistas, como os do Bradesco, que revisaram o PIB de 2017 de 1% para 0,3%. Afinal, de onde virá a força para a retomada da economia?
INVESTIMENTOS
O resultado positivo de 0,5% dos investimentos no segundo trimestre alimentou as expectativas mais otimistas de que a economia brasileira estava voltando a crescer. Embora ainda estivesse abaixo da média, a confiança de empresários e investidores deu sinais de melhora. Na época, a alta se dava, principalmente, pelas perspectivas de que o governo do então presidente interino Michel Temer reverteria os efeitos da crise com a condução de reformas que controlariam os gastos descontrolados do governo. Porém, o novo governo enfrentou um agravamento da crise política, que culminou com a saída de ministros envolvidos em denúncias. O fator político e a agenda de ajustes andando mais devagar emperraram a atividade econômica. A verdade é que confiança e otimismo não são suficientes para fazer a atividade voltar a crescer. “O que determina a realização de investimentos, além da taxa de juros, é o retorno do capital frente a demanda agregada futura, esperada no momento de realização dos investimentos. E, ainda seguimos com forte tendência de queda na renda dos trabalhadores, que por sua vez contrai a demanda. Simultaneamente, o crédito segue restritivo, postergando a retomada mais intensa da atividade”, avalia a equipe de economistas da Parallaxis Consultoria.
CONSUMO DAS FAMÍLIAS
O consumo das famílias, que nos anos de governo do PT contribuiu bastante com o crescimento do PIB, completou neste terceiro trimestre o sétimo período de queda (-0,6%). É a primeira vez que isso acontece desde o início da série histórica em 1996. O gasto das famílias sofre muita influência de outros fatores - como inflação, emprego, renda, juros e crédito -, e cenário não é favorável para ele voltar a subir. O mercado de trabalho continua deprimido, com 12 milhões de brasileiros desempregados. A inflação, embora tenha arrefecido, permanece alta. Assim como os juros, que têm influenciado negativamente a tomada de crédito para pessoas físicas, tornando negativas as taxas do ano. O cenário de deterioração da economia mantém em 23,4% o índice de consumidores inadimplentes em novembro, segundo dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Destes, 9,1% não tem como pagar as dívidas. Entre as famílias, 21,3% têm mais da metade da renda comprometida com o pagamento de dívidas.
GASTOS DO GOVERNO
O consumo do governo recuou 0,3% no terceiro trimestre. Sem capacidade de investir e com a crise nos estados se aprofundando, o governo federal tem nas renovações antecipadas de concessões o caminho mais rápido para empurrar o crescimento. Até agora, pouca coisa andou, mas há dez dias o governo Temer finalmente publicou a medida provisória que promete destravar o setor. O texto permite a resolução de pendências de concessões antigas e vincula as renovações antecipadas a investimentos por parte das concessionárias. A MP também é a principal aposta do governo para emplacar novos projetos. Apesar das boas perspectivas, há uma insegurança em relação às regras das novas concessões, principalmente ao financiamento. Além disso, o Tribunal de Contas da União tem tomado uma série de decisões contrárias às renovações antecipadas, justificando irregularidades nos processos.
COMÉRCIO EXTERIOR
A redução registrada no comércio exterior no 3º tri foi de -2,8% nas exportações e recuo de 3,1% nas importações. A diferença entre o valor embarcado de produtos brasileiros ante o que foi comprado no exterior é um dos fatores que impediu a retração mais forte no PIB no terceiro trimestre. Os números se devem se devem principalmente à valorização do dólar em comparação ao real no período. Apesar disso, as vendas de produtos brasileiros ao exterior vêm crescendo a taxas menores, enquanto as importações também vêm caindo em menor ritmo. “As exportações em quantum têm caído nos últimos meses e a sua contribuição para o PIB deve continuar em terreno negativo no quarto trimestre, salvo forte melhora nos dados de dezembro”, analisam os economistas do Bradesco.