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O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reafirmou nesta terça (22) a importância da autonomia da instituição e criticou líderes que tentam enfraquecer a independência dos bancos centrais. Para ele, é essencial manter a separação entre a política monetária e o ciclo político para manter a credibilidade de um país.
A crítica é um recado direto principalmente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que, rotineiramente, ataca a autonomia do Banco Central dizendo que sempre respeitou os mandatários da autoridade monetária sem estar na lei.
“Quando as pessoas têm a expectativa de que você tenha seu ciclo de política monetária separado do ciclo político, você tem mais credibilidade. Quando você tem mais credibilidade, você tem menos prêmio de risco em sua curva de taxa de juros e você tem menos risco associado ao país”, explicou em entrevista à CNBC dos Estados Unidos.
Campos Neto alertou que a tentativa de alguns governos de minar a autonomia dos bancos centrais “cria problemas” para eles próprios. Do contrário, diz, “quando temos isso, todas as outras políticas funcionam melhor”.
Ele ainda lembrou que, em 2022, a taxa básica de juros subiu de 2% para 13,75% mesmo em um período eleitoral, o que só foi possível devido à autonomia da instituição. “Foi o maior aumento na taxa de juros da história dos mercados emergentes, e isso foi bom para o país naquele momento”, afirmou.
“O Brasil foi o primeiro a aumentar os juros, mas também foi o primeiro a começar a cortá-los”, destacou. No entanto, ele alertou para o cenário internacional, em que a inflação nos Estados Unidos pode continuar alta, dificultando a redução dos juros e impactando negativamente os mercados emergentes.
Por outro lado, sobre o atual momento da economia brasileira de mercado aquecido e política monetária mais restritiva por parte do Banco Central, Roberto Campos Neto afirmou que o paós enfrenta uma “lacuna de produção no lado positivo”, mas que as expectativas de inflação começaram a desancorar.
“É muito importante comunicar que estamos falando sério sobre atingir a meta de inflação, porque o Brasil tem uma memória muito alta de inflação”, afirmou.
De acordo com ele, o Banco Central continua comprometido em manter o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) dentro da meta de 3% ao ano, enquanto as projeções de mercado indicam uma inflação no topo da meta, de 4,5%, como indicou o Relatório Focus dessa semana.
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Campos Neto também enfatizou a importância do equilíbrio fiscal para que os juros possam cair novamente. Ele relembrou o período pós-pandemia, quando os governos sincronizaram políticas fiscais e monetárias, resultando em gastos significativos para estimular as economias, o que elevou o endividamento global.
“O que estamos vendo é que a política monetária está tentando fazer seu trabalho, mas a política fiscal ainda é expansionista em muitos lugares”, disse lembrando de questões que precisam ser resolvidas pelo governo, como o aumento da dívida e o custo maior de serviço da dela.
Ele destacou que o problema fiscal é global, mas no Brasil, o impacto é ainda maior em que “toda vez que o Banco Central foi capaz de reduzir as taxas de forma estruturada, isso esteve associado a algum tipo de choque positivo na frente fiscal”. Para ele, é difícil imaginar uma situação em que o Brasil consiga sustentar taxas de juros muito mais baixas sem um ajuste significativo nas contas públicas.
“O fator mais importante é que precisamos de um choque positivo no lado fiscal”, concluiu.