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Gigante asiático

China pisa no freio: o que isso tem de bom e de ruim para o Brasil

China enfrenta um cenário desafiador com a queda no ritmo de crescimento econômico (Foto: Vandré Kramer com Fotor)

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A China enfrenta um cenário desafiador com a queda no ritmo de crescimento econômico. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) projeta uma expansão de 4,9% no Produto Interno Bruto (PIB) para este ano e de 4,5% para 2025. A desaceleração pode ter impactos na economia brasileira, especialmente no agronegócio.

No terceiro trimestre, o país cresceu 4,6% em relação ao mesmo período de 2023, desacelerando em comparação aos três meses anteriores, segundo dados oficiais divulgados nesta sexta-feira (18). Essa desaceleração reflete uma perda de ritmo na atividade econômica.

O analista de inteligência de mercado da Hedgepoint Global Markets, Victor Arduin, afirma que, embora setores como exportações e produção industrial tenham apresentado bom desempenho, o mercado imobiliário chinês continua a desacelerar. Diante disso, há riscos para o mercado de commodities, especialmente no setor de energia, como o petróleo bruto.

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A chefe de pesquisa de mercado para a América Latina no banco francês BNP Paribas, Fernanda Guardado, destaca que um dos principais efeitos dessa situação será a queda nos preços das commodities exportadas para a China, como soja, petróleo e minério de ferro.

Gabriel Fongaro, economista sênior do Julius Baer, acrescenta que a menor demanda por produtos brasileiros pode agravar as contas externas, afetadas tanto pela queda nos preços quanto pela redução nas quantidades comercializadas.

No entanto, Guardado vê uma oportunidade no controle da inflação brasileira, que foi de 4,42% nos últimos 12 meses. "Os preços dos bens industriais importados podem cair, moderando a inflação", avalia.

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Impactos da desaceleração chinesa: agronegócio brasileiro em alerta

A renda do agronegócio brasileiro, essencial para o país, pode ser negativamente afetada se a China não conseguir impulsionar sua economia. Até agosto, o país asiático foi o destino de 73% do volume das exportações brasileiras de commodities, segundo o Itaú BBA.

Armazéns chineses estão abarrotados de grãos, e a confiança do consumidor no país está abalada, levando as famílias a reduzirem o consumo de carne e evitarem restaurantes, o que diminui a demanda por grãos e óleos.

As exportações de carne suína já refletem esse impacto, totalizando US$ 345,2 milhões entre janeiro e setembro, uma queda de 52,3% em relação ao mesmo período de 2023, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Esse é o menor valor para o período desde 2018.

Embora as vendas de carne bovina tenham se mantido estáveis em relação ao ano anterior, o Itaú BBA destaca a dependência do mercado chinês como um fator de vulnerabilidade. As vendas acumuladas nos primeiros nove meses de 2024 chegaram a US$ 4,1 bilhões.

As exportações de soja para a China também caíram, somando US$ 28,1 bilhões nos primeiros nove meses, uma diminuição de 11,7%. A produção de soja na China está aumentando, enquanto as preferências dos consumidores mudam. A pandemia de Covid-19 teve efeitos severos na economia chinesa, impactando a confiança e a demanda.

O Brasil enfrenta uma concorrência crescente de grandes produtores, como Estados Unidos e Argentina, cuja competitividade é influenciada por políticas comerciais, tarifas e acordos internacionais.

Além disso, a China tem mostrado crescente preocupação com questões ambientais e sustentabilidade nas práticas agrícolas, exigindo maior transparência sobre a origem dos produtos importados. Isso aumenta a pressão sobre o setor agroexportador brasileiro para adotar práticas mais sustentáveis.

A situação das exportações brasileiras de milho é ainda mais preocupante, com uma queda de 76,8%, e embarques totalizando apenas US$ 428,9 milhões. A seca nos rios Madeira e Tapajós prejudica a logística de exportação, aumentando o tempo de espera nos portos e reduzindo o volume exportado, o que gera preocupações sobre os efeitos prolongados das mudanças climáticas.

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Desaceleração da China foi causada pelas construtoras

O setor imobiliário da China enfrenta problemas estruturais, com a urbanização perdendo força e os jovens optando mais pelo aluguel do que pela compra de imóveis. Em queda há 38 meses, o mercado está saturado, e várias cidades têm excesso de propriedades não vendidas.

Muitas construtoras estão em dificuldades financeiras, agravadas por políticas governamentais que restringem o acesso ao financiamento para controlar o endividamento das incorporadoras. Essa situação desestimula tanto a compra quanto o investimento no setor.

Os atrasos na conclusão de projetos e na entrega de imóveis também abalaram a confiança dos compradores. Muitos investidores temem que os empreendimentos não sejam finalizados ou que o valor dos imóveis caia.

Um dos casos mais emblemáticos é o da Evergrande, uma das maiores incorporadoras da China, que entrou em crise em agosto de 2021. Suas dívidas atingiram US$ 300 bilhões, e a inadimplência recorrente levou à liquidação de seus ativos em janeiro, deixando mais de um milhão de pessoas à espera da conclusão de suas casas.

Pacote de medidas do governo chinês: impulso ou incerteza

O governo chinês lançou um pacote de medidas para impulsionar a economia, incluindo a redução da taxa de compulsório bancário. Com isso, US$ 142,2 bilhões serão injetados em novos empréstimos. Além disso, haverá cortes na entrada mínima para compra de imóveis e redução dos juros nas hipotecas existentes.

As fusões, aquisições e reorganizações corporativas serão facilitadas, e o regulador de valores mobiliários da China orientará fundos estatais a ingressar no mercado.

Segundo a XP Investimentos, a relação entre o governo e o setor privado tem melhorado. As intervenções do governo nos últimos anos prejudicaram o ambiente de negócios, mas consultas recentes dos reguladores ao setor privado indicam um relacionamento mais saudável.

Francisco Nobre, da XP, afirma que, apesar do grande pacote de medidas, os desafios estruturais persistem, como a alta taxa de poupança e o baixo consumo interno. Solange Srour, da UBS Wealth Management, ressalta a importância de estimular o consumo, para que se torne o motor da economia.

Apesar dos esforços, a incerteza permanece. O Wall Street Journal aponta que o mercado oscila entre esperança e desânimo, à medida que o governo tenta reforçar a confiança.

Angela Huyue Zhang, professora da Universidade do Sul da Califórnia, adverte, em artigo para o Project Syndicate, que, embora a China possa ter algum alívio, isso não garante prosperidade duradoura. Ela observa que o governo hesita em adotar medidas ousadas, mesmo ciente da necessidade de reduzir a dependência de investimentos em imóveis e infraestrutura.

Para um crescimento mais sustentável, a China deve adotar um modelo de governança descentralizada, restaurando a autonomia dos governos locais e permitindo iniciativas adaptadas às suas realidades regionais.

A questão central é se Pequim está disposta a renunciar a parte de seu controle em busca de um domínio econômico mais robusto no futuro.

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