Tesouro Direto e imóveis. Quando esses dois assuntos aparecem aqui nesta coluna, acabam ficando por algumas semanas. Não que eu goste mais ou menos deles os leitores é que mantêm esses temas na minha pauta, ao enviar dúvidas e fazer perguntas. Para mim isso significa que eles ainda são grandes desconhecidos do público.
No caso dos imóveis, creio que é fácil entender por quê. Trata-se de um investimento alto, que a maioria das pessoas fará apenas uma ou duas vezes na vida. Economias de anos estão em jogo, e um endividamento que pode durar décadas. Ninguém quer correr o risco de errar. Além disso, as regras são mutáveis, e muitos ainda estão influenciados pelas monstruosidades contratuais que ocorreram no passado, cujo resultado era a multiplicação do saldo devedor ao longo do prazo de financiamento.
Mais: quando alguém decide pôr seu dinheiro numa casa ou em um apartamento, normalmente há muito mais do que recursos financeiros envolvidos: há sonhos pessoais e familiares, desejos, expectativas. É natural que as pessoas se sintam inseguras na hora da compra.
E o Tesouro Direto? Esse é desconhecido porque é uma criança, ainda. Essa forma de investir completou dez anos em janeiro. É um dos investimentos mais seguros do mercado e tem boas perspectivas de rentabilidade. O problema é que o Tesouro Direto é um tiquinho mais complicado do que, por exemplo, a caderneta de poupança. Por isso tem gente que fica ressabiada.
Não é o caso do Guilherme, que escreveu para a coluna na semana passada. Ele fez a lição de casa, direitinho. Seu objetivo é economizar para comprar (à vista) um segundo carro ou então para trocar de apartamento. A maior parte de seus investimentos está em poupança, e o restante está em CDI. Ele não pretende mudar o que já está aplicado, mas quer dar um novo destino ao que poupar de agora em diante. Ele vem estudando o Tesouro Direto, já tem o cadastro e está habilitado para operar. "Como acho que a Selic pode cair mais um pouco, gostaria de investir em um título pré-fixado", comenta. Sua intenção é deixar o dinheiro investido por, pelo menos, um ano, e é aí que entra a dúvida. Ele só encontrou papéis com vencimento em janeiro de 2015 e janeiro de 2016 (LTNs). "Se eu precisar resgatar em setembro de 2014, qual seria minha melhor opção?", pergunta.
Em primeiro lugar, é bom dizer que o raciocínio do leitor está bastante acertado. Com juros em queda nos próximos anos, "travar" uma taxa alta para remunerar os seus ganhos é uma opção muito interessante. Uma alternativa que tem se mostrado bastante popular no mercado nos últimos tempos, é a de títulos pré-fixados e corrigidos pela inflação. São as NTN-B, que pagam o IPCA mais juros. Em tempos de inflação alta, elas são uma certeza de que você nunca vai perder poder de compra uma garantia que a caderneta de poupança não consegue dar. O mercado tem valorizado esse atributo, e as vendas desse tipo de título cresceram bastante. De janeiro a junho, sua participação nas vendas aumentou de 56,6% para 60,1% do total. Já os papéis pré-fixados, que eram 13,5% das vendas, caíram para 9% no mesmo período.
Quanto a vender os títulos mais cedo, a situação não é tão clara. É sempre mais favorável carregar os papéis até o vencimento, que é quando eles entregam a rentabilidade prometida. Se o investidor tiver de vendê-los mais cedo, não tem problema: toda quarta-feira o Tesouro Nacional faz recompra dos títulos. A questão é que essa operação é feita pelo valor de mercado do dia. Assim, o investidor está sempre sujeito à conjuntura momentânea e pode não conseguir a remuneração desejada.
O instrumento que temos é o retrovisor. Ao olhar para o desempenho passado, percebe-se vantagem justamente para aqueles papéis indexados à inflação. O índice que acompanha a variação dos papéis com vencimento superior a 5 anos foi quem teve o melhor desempenho no primeiro semestre, com valorização de 14,95%. Em segundo lugar vieram os papéis do mesmo gênero, com vencimento inferior a 5 anos: 12,11%. Em terceiro vêm os papéis pré-fixados com prazo de um ano ou mais, com 10,6%. Esses números ajudam a entender o mercado e podem servir de referência para uma tomada de decisão, mas não representam garantia nenhuma não há como saber se esses movimentos vão se manter ou não.
Guilherme, estude bem essas informações e tome sua decisão com serenidade. Como seus investimentos estão diversificados, o risco é menor. Para o leitor que estiver em situação semelhante, vale a lição: se você estudar bem antes de investir, não há porque temer o desconhecido.