A escolha dos norte-americanos nas urnas surpreendeu o mundo e acendeu uma luz amarela em países que mantêm relações comerciais com os Estados Unidos. Se Donald Trump cumprir as controversas propostas econômicas que anunciou durante sua campanha, pode causar um colapso na economia mundial que deverá atingir em cheio o Brasil.
O principal ponto de atenção para a economia brasileira está na relação bilateral dos dois países. Na teoria, a ascensão de um governo republicano, defensor do livre comércio e contrário a medidas protecionistas, traria uma série de oportunidades para os produtos brasileiros nos Estados Unidos. Mas, Trump provou não ser exatamente um republicano típico durante sua campanha ao defender propostas mais populistas, contraditórias aos princípios do partido que ele representa.
Ironicamente, a principal ameaça vem dos planos protecionistas do republicano. Durante sua campanha, Trump sugeriu que poderá renegociar tratados comerciais firmados pelos Estados Unidos, como, por exemplo, o acordo com o México e Canadá, para recuperar e manter empregos, além de elevar a competitividade da indústria norte-americana.
O Brasil pode ser afetado direta - os EUA são nosso segundo maior parceiro comercial - e indiretamente por um possível fechamento da economia americana, já que importantes parceiros comerciais brasileiros, como a China e o México, também têm relações com os Estados Unidos. No ano passado, o comércio bilateral entre os dois países movimentou US$ 50 bilhões, com a balança comercial favorável aos norte-americanos.
No curto prazo, o cenário de instabilidade – com uma migração em massa de investidores para ativos mais seguros, como o dólar – deve levar a uma depreciação do câmbio no Brasil, gerando efeitos sobre a inflação e sobre a taxa de juros. Em nota, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles assegurou que o Brasil está preparado para lidar com “volatilidade de mercado decorrente das eleições presidenciais nos Estados Unidos e os possíveis impactos disso para as projeções de crescimento do país para 2017”.
Futuro nebuloso
Enquanto uma vitória da democrata Hillary Clinton traria poucas mudanças na condução da política monetária e econômica e, por consequência, na economia global, a chegada de Trump à presidência dos Estados Unidos deixa um mar de incertezas. Para analistas, essa turbulência toda pode prejudicar o caminho de recuperação do Brasil. “Vai levar alguns dias até que o mercado entenda como vai ser na prática o discurso populista e exagerado de Trump. Se de fato ele fizer uma política econômica fechada isso vai implicar, entre outras coisas, um cenário de desaceleração econômica mundial que certamente vai nos afetar muito”, avalia André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.
Embora tenha feito um discurso que, de certa forma, tranquilizou o mercado, a imprevisibilidade de Trump cria um cenário de incertezas que só devem se descortinar nos próximos meses, à medida que as propostas e ideias de Trump para a área econômica começarem a ganhar forma, afirma Perfeito. “Até agora eu não sei quem é o Donald Trump e o que ele pretende fazer à frente dos Estados Unidos”, diz.
Adeodato Volpi Netto, analista de economia e mercado de capitais da Eleven Financial, acredita que não vai haver uma mudança significativa nas relações entre os dois países, sobretudo porque Estados Unidos precisam da gente tanto quanto nós precisamos deles. “Temos um mercado de commodities e indústria primária complementar a deles. Não acho que o Trump vá mexer em nada relevante nessa relação. Mas enquanto as coisas não se clarearem, vai haver muita especulação”.
Vai levar alguns dias até que o mercado entenda como vai ser na prática o discurso populista e exagerado de Trump. Se de fato ele fizer uma política econômica fechada, isso vai implicar, entre outras coisas, um cenário de desaceleração econômica mundial que certamente vai nos afetar muito.