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A melhora nas condições financeiras do brasileiro e o mercado de trabalho aquecido devem ajudar o varejo e estimular o consumo, principal motor do PIB brasileiro, no curto prazo, aponta um estudo realizado pela Tendências Consultoria. A alta temperatura nos salários e contratações, entretanto, deve tornar mais complexo o combate à inflação.
Outro fator que deve ajudar é a situação financeira do brasileiro. Ela está um pouco mais confortável depois do pico da inadimplência registrado nos últimos meses. Dados do Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas da Serasa Experian mostram que 918 mil brasileiros saíram do cadastro de negativados em maio e junho, uma redução de 1,25%, em relação a abril.
Ainda há 72,5 milhões de inadimplentes, o menor número desde março, com 273 milhões de dívidas, que totalizam R$ 397 bilhões.
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“A continuidade do calendário de restituição de imposto de renda pode ser um dos fatores que contribuem para essa queda. A injeção de dinheiro no mercado e outros indicadores econômicos, como a redução da taxa de desemprego, podem continuar influenciando o indicador de forma positiva”, diz Aline Maciel, gerente do Serasa Limpa Nome.
Dados do Banco Central (BC) apontam que a inadimplência das pessoas físicas atingiu 3,66% do total da carteira de crédito em junho. No mesmo mês de 2023, esse indicador era de 4,18%.
O desemprego no trimestre móvel encerrado em junho foi de 6,9%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É a menor taxa desde dezembro de 2014. O número de postos de trabalho com carteira assinada abertos no primeiro trimestre foi de 1,3 milhão, 26,2% a mais do que no mesmo período de 2023. A satisfação com a renda é a maior desde 2015, aponta a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Mercado de trabalho em alta favorece consumo e traz mais pressão à inflação
A Tendências Consultoria avalia que, neste segundo semestre, o cenário segue favorável e as vendas devem se recuperar devido ao mercado de trabalho aquecido, à retomada de melhora nos níveis de condições financeiras e aos preços de bens. Nos cinco primeiros meses do ano, as vendas no comércio varejista ampliado (que inclui material de construção, veículos e autopeças) cresceram 4,8% em relação ao mesmo período de 2023. É a maior alta desde 2021.
Um dos segmentos que mais deve se beneficiar é o de venda de bens duráveis, como vestuário, eletrodomésticos e material de construção, que tiveram um desempenho mais fraco em 2023. “Tais segmentos são mais dependentes do mercado de crédito e devem se beneficiar da melhoria das condições financeiras e da maior oferta de crédito. Esses segmentos possuem maior penetração em classes de renda média e alta”, destaca um relatório da consultoria.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) projeta um crescimento de 10% na carteira de crédito em 2024, mais do que os 9,3% previstos em maio. “O mercado de trabalho aquecido e o aumento da massa salarial devem continuar impulsionando as linhas voltadas ao consumo das famílias”, avalia Rubens Sardenberg, diretor de Economia, Regulação Prudencial e Riscos da entidade.
O cenário, entretanto, enfrenta barreiras. Mesmo com o cenário positivo no mercado bancário, o aumento da inflação dos alimentos ainda prejudica um crescimento mais forte do consumo neste ano. A alta nos 12 meses encerrados em julho foi de 4,52%, de acordo com o IPCA-15 do IBGE. Foi a maior elevação para o período desde maio de 2023.
“O aumento dos preços de alimentos afeta todas as classes de renda, mas as faixas mais baixas, que já possuem uma menor parcela de renda, devem sentir mais esse efeito”, aponta a Tendências.
São as classes de menor renda que estão sentindo mais os impactos da inflação neste ano. Um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), braço do Ministério do Planejamento, mostra que, no primeiro semestre do ano, os preços dos bens e serviços mais consumidos por famílias de renda muito baixa (rendimento mensal domiciliar inferior a R$ 2.105,99) e de renda baixa (rendimento entre R$ 2.105,99 e R$ 3.158,99) aumentaram mais do que a inflação medida no período pelo IPCA, que foi de 2,43%.
Consumo na classe alta deve crescer até 2034
A consultoria avalia que, no longo prazo, até 2034, o avanço menor da renda disponível para consumo nas classes D/E acompanha as pressões inflacionárias dos itens essenciais e a lenta mobilidade social no Brasil. As vendas de bens duráveis, que são mais voltadas para as classes de maior renda, devem apresentar melhor desempenho no médio prazo.
Por outro lado, a expectativa é de que a inclusão financeira avance entre os mais pobres e beneficie o consumo. Segundo a Tendências, milhões de brasileiros desbancarizados poderão ampliar as opções de compra, em linha com um maior número de pessoas com acesso a bancos nos próximos anos. A expectativa é de que isso ocorra com a ampliação de inovações no sistema financeiro, como Pix e o open finance, além da maior competição bancária.
O consumo em regiões com forte presença do setor público deve apresentar menor crescimento nos próximos anos, avalia a consultoria. O motivo é o menor dinamismo da administração pública, diante da contenção de gastos com pessoal. Isso deve limitar o aumento real (acima da inflação) da renda do funcionalismo público.
O varejo eletrônico deve continuar ganhando relevância, marcado pela transformação digital dos hábitos dos consumidores. Mas isso não significa, de acordo com a consultoria, que o varejo físico deixará de ser relevante. Ele precisará buscar maior foco na experiência do consumidor e em serviços às famílias.
Uma expectativa favorável para a economia em geral, na avaliação de analistas da Tendências, é em relação à reforma tributária. Segundo eles, as mudanças devem gerar impactos positivos para o crescimento da atividade econômica no médio prazo, com a redução dos custos de produção e o aumento da produtividade.
“Para o comércio, os efeitos ocorrerão via melhora nos preços relativos, maior confiança dos agentes e aumento da renda média, considerando a maior formalização do mercado de trabalho”, dizem.