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Empréstimos

Com pouca adesão, crédito via maquininhas para pequenos negócios tem dinheiro de sobra

Linha de crédito Peac Maquininhas não deslanchou
Linha de crédito Peac Maquininhas não deslanchou, apesar dos juros mais em conta. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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Pouco mais de 30 mil microempreendedores (MEI) ou micro e pequenas empresas tiveram acesso ao Programa Emergencial de Acesso ao Crédito (Peac) Maquininhas. Uma das modalidades de socorro ao pequeno negócio criada pelo governo federal em meio à pandemia de coronavírus, o Peac liberou menos de 10% do total de crédito disponível para uma pequena fração do público-alvo projetado, que era de 3 milhões de empresários.

A linha de crédito está disponível há dois meses, desde o fim de setembro, e será encerrada no fim deste mês. Seu trunfo era o fato de a garantia vir de parte das vendas feitas via máquinas de pagamento digital. Mas, dos R$ 10 bilhões reservados para a ação, apenas R$ 898,4 milhões foram emprestados até 26 de novembro, de acordo com levantamento do BNDES.

A baixa adesão à linha de crédito das maquininhas, que faz empréstimos de até R$ 50 mil, surpreende porque suas condições são bastante atraentes: carência de seis meses para início do pagamento, prazo de 30 meses para quitação e taxas de juros fixadas em 6% ao ano. O analista de Capitalização e Serviços Financeiros do Sebrae, Giovanni Bevilaqua, lembra que no primeiro semestre essas taxas de juros para os pequenos negócios alcançaram a marca de 30% ao ano.

Duas razões principais despontam como a causa da baixa adesão ao Peac Maquininhas. Por um lado, são poucas as instituições bancárias que aderiram ao programa e liberaram crédito. De acordo com o BNDES, desde o início das operações, em 30 de setembro, apenas cinco de nove bancos habilitados já ofertaram empréstimos – Banco do Brasil, Safra, Money Plus, Caixa Econômica Federal e Banco Inter (veja abaixo).

De outro, o cenário de incerteza em relação à retomada da economia e eventual nova onda da pandemia da Covid-19 faz com que o empreendedor e pequeno empresário se tornem mais resistentes a contrair uma dívida. Além disso, historicamente a oferta de crédito para esse nicho é menor. O Sebrae estima que, após oito meses de pandemia, apenas 16% dos pequenos negócios conseguiram, de fato, algum tipo de crédito. No caso dos empréstimos via maquininhas, também falta tempo e divulgação.

A 8ª edição da pesquisa do Sebrae e FGV, sobre pequenos negócios na pandemia, questionou os entrevistados sobre a modalidade e 41% disseram que nem a conheciam. Outros 40% conheciam a linha de crédito, mas não solicitaram recursos. Para 15% dos entrevistados, ela não seria útil pois não usam maquininhas. Apenas 3% dos entrevistados solicitaram crédito no programa.

Timing da liberação da linha de crédito atrapalhou

A avaliação de Beviláqua, do Sebrae, é de que, após oito meses de pandemia, quem tinha de pegar crédito já o fez. “Quem não pegou [crédito], vai esperar para ver como vai se desenrolar o cenário futuro”, diz. Ele destaca que a questão não é apenas a disponibilidade do recurso, mas também o fato de que contrair um empréstimo agora é ter uma dívida que o pequeno poderá não ter como arcar no futuro.

O comportamento das instituições financeiras seguiu o padrão, na visão do analista. “O crédito para pequenos negócios é muito restrito, corresponde a cerca de 20% de tudo que é conseguido para empresas. De janeiro a junho, teve um aumento na concessão de crédito e, mesmo assim, a participação relativa dos pequenos negócios permaneceu em 20%”, explica.

Ele lembra que as instituições financeiras, principalmente bancos tradicionais, mantiveram seus critérios de avaliação de risco para concessão de créditos, o que acaba restringindo o número de pequenos negócios que podem ser beneficiados. Nesse caso, os empreendedores foram atrás de cooperativas, sociedades de crédito direto e fintechs para conseguir se financiar.

O economista da Associação Comercial de São Paulo Ulisses Ruiz de Gamboa concorda com essa análise. “Em primeiro lugar, muitas dessas empresas não sobreviveram ao tsunami da pandemia. Aí teve a disponibilização de recurso, mas, na prática, a microempresa tem dificuldade de acessar o crédito”, destaca.

Para Gamboa, nesse caso, a ação do governo – que liberou recursos – esbarrou na realidade do mercado. “Tem, por um lado, a dificuldade de o banco conceder o empréstimo. E tem o lado do tomador de crédito, que está apreensivo com o cenário de incerteza grande.”

As características dos pequenos negócios, que não têm capacidade para concorrer com empresas de maior lastro, é um impeditivo. O que acaba ocorrendo é que existe uma intenção de conceder o crédito mas, na prática, essa concessão é menor do que o esperado nesse período de pandemia.

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Como funciona o Peac Maquininhas

O Peac Maquininhas foi pensado para facilitar o acesso ao crédito de microempreendedores individuais (MEI) e micro e pequenas empresas, com faturamento máximo de R$ 4,8 milhões anuais, durante o período da pandemia. O trunfo dessa modalidade é que o crédito está disponível como garantia de recebíveis. Na prática, o pequeno empresário toma um empréstimo e fornece, como garantia de pagamento, os valores que serão recebidos pelas máquinas de cartão de débito ou crédito.

Por meio da medida provisória 975, o governo federal disponibilizou R$ 10 bilhões para o programa, em duas parcelas de R$ 5 bilhões. De acordo com o Ministério da Economia, mais de 40 instituições financeiras poderiam participar do Peac, que tem o BNDES como agente financeiro.

Os empréstimos via maquininha são limitados ao dobro da média mensal de vendas recebidas pelos equipamentos, sem exceder R$ 50 mil. O prazo total da linha de crédito, com taxa de juros de 6% ao ano, é de 36 meses – seis meses de carência e 30 meses para o pagamento.

A expectativa do Ministério da Economia era de beneficiar cerca de 3 milhões de contratantes com a medida. A modalidade de empréstimo ficou disponível em 30 de setembro e poderá ser tomada até 31 de dezembro de 2020.

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