Bovespa
Ações disparam 12,6% após anúncio da fusão
A possível fusão com o Carrefour fez com que as ações do Pão de Açúcar subissem 12,6%, para R$ 73,25, na sessão de ontem da Bovespa, bem acima do desempenho do Ibovespa ("termômetro" da bolsa), que fechou o dia com alta de 1,8%. Para os acionistas minoritários que têm papéis preferenciais (PN) do Pão de Açúcar, é hora de refletir. Com a alta registrada ontem, alguns vão optar por vender as suas ações para "realizar lucro".
"Por enquanto, pouco se sabe sobre o negócio das duas empresas", avalia Mauro Calil, educador financeiro. "A princípio, parece um bom negócio ao acionista manter esses papéis na carteira. Há chance de ainda mais valorização", completa Fábio Gallo, professor de finanças da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP).
Tanto Mauro Calil quanto Fábio Gallo parecem otimistas com o que poderá acontecer com a criação da nova empresa a partir da fusão do Pão de Açúcar e do Carrefour. "O Pão de Açúcar já tinha uma posição muito sólida no mercado. A partir da fusão, ganhará ainda mais musculatura", explica Gallo.
Agência Estado
Casino ataca Diniz e promete barrar negócio
O grupo francês Casino, parceiro do Pão de Açúcar e rival do Carrefour na França, avisou que está em posição de bloquear uma eventual fusão entre as empresas no Brasil. O Casino afirmou ainda que nenhuma negociação por parte do Pão de Açúcar pode ocorrer sem seu consentimento e que vai examinar a melhor forma de defender o interesse da varejista e de seus acionistas.
O Casino e o grupo do brasileiro Abílio Diniz dividem em partes iguais a holding Wilkes, que controla 66% dos direitos de voto no Pão de Açúcar. Ao se associar ao Pão de Açúcar, o Casino garantiu, em 2005, o direito de se tornar o controlador da rede brasileira em 2012.
Os desentendimentos entre o presidente do Casino, Jean-Charles Naouri, e Diniz afloraram em comunicados públicos. Naouri tachou de "secretas e ilegais" as negociações realizadas entre Abílio e Carrefour até então, segundo ele, negadas pelo brasileiro. De fato, em 25 de maio, em comunicado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o Pão de Açúcar afirmou que "não é parte em qualquer negociação com o Carrefour e não contratou qualquer assessor financeiro com esse fim".
Em resposta, Diniz disse estar sendo alvo de "manifestações agressivas" e ataques através da imprensa por parte de Naouri. O empresário afirmou que essas manifestações "distorcem completamente" a realidade dos fatos; ele defende que a proposta seja analisada com serenidade e de forma objetiva, buscando os interesses do Pão de Açúcar. "Estou em Paris há 24 horas, tentando sem sucesso um encontro com Jean-Charles Naouri, a fim de discutirmos a proposta que recebemos e que precisa ser analisada. Ele se nega a dialogar, prefere me atacar pela imprensa."
O negócio que pode unir o Grupo Pão de Açúcar e o francês Carrefour, que comandam as duas maiores redes de supermercados do Brasil, ainda terá de passar pelo crivo de acionistas das companhias e órgãos de defesa da concorrência. Mas ao menos um aspecto da operação é dado como certo: se ela sair, terá grande participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), instituição pública de fomento, que entraria com algo entre R$ 3,91 bilhões e R$ 4,55 bilhões.
A operação foi formulada anteontem por um fundo chamado Gama, que pertence ao banco privado BTG Pactual, do banqueiro André Esteves o mesmo que, no início do ano, comprou o PanAmericano de Silvio Santos. Pela proposta que a Gama apresentou ao Carrefour França, a fusão ocorreria a partir da criação de uma nova empresa, a Nova Pão de Açúcar (NPA), que dividiria com o Carrefour França o controle da Companhia Brasileira de Distribuição (CBD, nome "oficial" do Grupo Pão de Açúcar).
Dentro da NPA, os atuais acionistas da CBD (os principais são Abílio Diniz e o varejista francês Casino, concorrente do Carrefour) passariam a ter a companhia de Gama e BNDES. Estes dois últimos entrariam no negócio com um aporte de pelo menos R$ 4,6 bilhões, dos quais R$ 690 milhões do BTG e o restante, do BNDES.
De imediato, pode-se identificar um grande vencedor e um grande perdedor desse negócio. Com a ajuda do BNDES, o BTG se tornará um grande acionista do Carrefour, segunda maior empresa do mundo do setor de distribuição, com uma participação de até 18% em seu capital e direito a dois assentos no conselho de administração, incluindo a vice-presidência. Por outro lado, o Casino, que pretendia ampliar sua fatia no Pão de Açúcar, terá de dividir o controle do grupo com seu principal rival, o Carrefour (leia mais em box na página 23).
Patrocínio
Se confirmada, essa não será a primeira vez que o BNDES que é sustentado pelo Tesouro Nacional e pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) patrocina uma operação para criar uma "gigante brasileira". Nos últimos anos, o banco de fomento financiou ou entrou como sócio em vários negócios do gênero, envolvendo empresas como Oi (telefonia), JBS e Bertin (alimentos).
Segundo o banco, a operação é estratégica, pois fortalece o grupo nacional Pão de Açúcar, que assumirá uma posição importante no Carrefour, um dos maiores varejistas globais, abrindo caminho para maior inserção de produtos brasileiros no mercado internacional.
A proposta ainda será analisada pela diretoria do BNDES e também será submetida à aprovação das demais companhias envolvidas. Também terá de passar pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão de defesa da concorrência, uma vez que unirá as duas maiores supermercadistas do Brasil, que em 2010 faturaram juntas cerca de R$ 65 bilhões em seus mais de 2 mil pontos de venda. Carrefour e Pão de Açúcar dominariam algo entre 27% e 28% do setor, mais que o dobro do Walmart (11%).
Redução de custos
A união também geraria uma "sinergia" (leia-se redução de custos) estimada entre R$ 1,3 bilhão e R$ 1,8 bilhão, segundo Claudio Galeazzi, sócio do BTG. Galeazzi lembrou que, nos Estados Unidos, o Walmart tem 32% do mercado americano e, por isso, consegue oferecer preços mais baixos aos consumidores. Com o Pão de Açúcar aconteceria o mesmo no Brasil, disse Galeazzi.
Embora operações que concentram mercado costumem gerar economia às empresas que ganham poder de barganha contra os fornecedores, como destacam os interessados na fusão , tais ganhos não necessariamente são repassados aos consumidores. A fusão de Sadia e Perdigão, por exemplo, é alvo de resistência no Cade justamente porque poderia resultar em aumento de preços ao consumidor.
Como a suspensão do X afetou a discussão sobre candidatos e fake news nas eleições municipais
Por que você não vai ganhar dinheiro fazendo apostas esportivas
Apoiadores do Hezbollah tentam invadir Embaixada dos EUA no Iraque após morte de Nasrallah
Morrer vai ficar mais caro? Setor funerário se mobiliza para alterar reforma tributária
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast
Deixe sua opinião