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Economia esfriando, crédito mais caro e renda fixa em alta: os efeitos da alta da Selic

Selic
Um dos efeitos da alta na Selic, a taxa básica de juro, é o aumento no custo do dinheiro. (Foto: Antônio More/Arquivo/Gazeta do Povo)

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Os impactos da alta na taxa básica de juros (Selic), que passou a subir em março e ganhou velocidade neste segundo semestre, já são sentidos por pessoas, empresas e investidores. Emprestar dinheiro está mais caro, a renda fixa voltou a ser a “queridinha dos investidores” e a economia emite sinais de desaceleração.

Após seis altas consecutivas, a Selic está em 7,75% ao ano. Uma nova alta é dada como certa na última reunião do ano do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), que começou na terça-feira (7) e termina nesta quarta (8). No mercado financeiro, a expectativa da maioria é de que a taxa suba 1,5 ponto pela segunda reunião seguida, chegando a 9,25% ao fim do encontro. Mas há quem espere uma alta mais forte, de 2 pontos, para 9,75%.

Novos movimentos devem ocorrer no início de 2022. Bancos, corretoras e consultorias já sinalizam que a Selic deve ir a 11% ou até mais.

“Não é um cenário muito animador”, diz Igor Cavaca, gestor de investimentos da Warren. Segundo ele, questões políticas e fiscais estão atrapalhando a ação do BC no combate à inflação.

André Chede, sócio da Turing, aponta que a alta na inflação, que começou com os choques nas cadeias de produção global, foi potencializada por particularidades brasileiras, como a crise hídrica. “Isto faz com que a convergência da inflação para a meta fique só para 2023.”

Cavaca ressalta que a polêmica sobre o teto de gastos ajuda a ampliar incertezas sobre a economia e acaba forçando o BC a ter uma atuação mais incisiva, forçando a contração na economia.

Aumento da Selic tende a desaquecer a economia

Chede acredita que cresceram as chances de uma recessão no próximo ano. “Os juros sobem porque a inflação não cede”, diz.

As projeções de crescimento econômico vêm caindo rapidamente, conforme o relatório Focus, do BC, que semanalmente compila as projeções de quase 90 instituições para o PIB. O ponto médio das expectativas, que em maio apontava para um crescimento econômico próximo de 2,4% em 2022, chegou a 1% no início de novembro. E agora é de apenas 0,51%, conforme o boletim divulgado na segunda-feira (6). As previsões variam de alta de 1,97%, no caso dos mais otimistas, a retração de 2%, conforme os mais pessimistas.

“O cenário eleitoral começou antes do que devia, trazendo mais incerteza. Mal saímos da pandemia e entramos em outro ciclo vicioso”, afirma Chede.

Economistas do Bradesco apontam que a atividade econômica deverá sentir os impactos do maior aperto monetário e da piora das condições fiscais.

“O aumento da Selic e a deterioração das condições financeiras deverão afetar especialmente as atividades ligadas ao ciclo econômico. Por outro lado, setores mais dissociados do ciclo, como a indústria extrativa ou o agronegócio, devem compensar parte da perda de dinamismo do restante da economia”, diz relatório do banco.

Um dos segmentos que mais pode sentir essa alta nos juros é o imobiliário. Diante do aumento na Selic, a Caixa e outros bancos elevaram os juros cobrados em seus financiamentos habitacionais.

“Estávamos em um momento exuberante”, diz Roberto Sampaio, partner e conselheiro da Empírica, uma gestora de crédito estruturado.

Dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (CBIC) mostram que, no segundo trimestre do ano, os lançamentos mais que dobraram em relação ao mesmo período de 2020 e as vendas cresceram 60,7%. Em comparação com o primeiro trimestre, houve 51,3% mais em lançamentos e alta de 7,2% em vendas.

Sampaio lembra que o segmento depende fortemente do crédito. “Quanto menor a taxa de juro, melhor.”

A taxa média cobrada das pessoas físicas no financiamento imobiliário, que havia alcançado o piso de 6,64% ao ano em abril, segundo o BC, chegou a 7,47% em outubro. A expectativa é de que ocorra um desaquecimento no número de lançamentos e nas vendas.

Renda fixa voltou a ser a "queridinha" dos investidores após altas da Selic

Este panorama está favorecendo a migração de investimentos para a renda fixa, onde o investidor encontra remunerações de 12% a 13% ao ano. “É uma rotação natural. O capital vai aonde é mais bem tratado”, complementa Thomas Giuberti, da Golden Investimentos.

O Ibovespa, principal indicador da bolsa brasileira, está em queda. Entre 7 de junho, quando foi registrado o pico do ano, e 6 de dezembro ele encolheu 18% – e isso apesar da alta dos últimos dias, provocada pelo aparente alívio em relação a variante ômicron do coronavírus. O sócio da Turing diz que a Bolsa está "barata", mas faltam gatilhos que deem sustentação a ela.

Pesquisa feita no fim de novembro pela XP Investimentos aponta que o percentual de clientes que visa diminuir a alocação de seus recursos em renda variável continuou a aumentar. O interesse maior é no Tesouro Direto, renda fixa e investimentos internacionais.

Pegar dinheiro emprestado ficou mais caro após alta da Selic

Um dos reflexos mais evidentes do aumento na Selic está na hora de emprestar dinheiro. Segundo o Banco Central, entre as pessoas físicas, a taxa média de juro subiu de 23,16% ao ano em dezembro de 2020 – a menor da série histórica iniciada em 2011 – para 27,21% em outubro.

Os aumentos ocorrem inclusive em empréstimos com taxas reguladas. Nesta segunda-feira (6), o Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS) aprovou o aumento do teto de juros nas operações de crédito consignado para aposentados e pensionistas do INSS. A taxa máxima no consignado sobe de 1,80% para 2,14% ao mês e, no cartão de crédito, de 3,00% para 3,06% ao mês.

As empresas passaram por cenário parecido: do piso de 9,99% ao ano, em setembro de 2020, para 16,69%, em outubro deste ano.

Segundo Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo de estudos e pesquisas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), as elevações acontecem por uma combinação de fatores:

  • O aumento dos juros futuros.
  • A expectativa de novas elevações da taxa básica de juros, frente a uma inflação maior.
  • O provável aumento da inadimplência.
  • O aumento da Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido (CSLL) dos bancos.

O ritmo do crescimento na procura por crédito por parte das pessoas físicas vem perdendo força. Segundo a Serasa Experian, em outubro, o aumento foi de 5,6% em comparação ao mesmo mês de 2020 – a menor variação desde o início do ano. "O aumento da Selic está encarecendo todas as linhas de crédito", aponta Luiz Rabi, economista da entidade.

Os economistas do banco Inter apontam que essa “tendência de normalização” vem em linha com a confiança do consumidor mais baixa e o aumento das taxas de juros.

"Com o poder de compra reduzido, sobra menos espaço para financiamentos no orçamento das famílias", diz Rabi, da Serasa Experian. O economista também observa um crescimento maior na procura por linhas emergenciais como o cheque especial, o rotativo do cartão de crédito e os empréstimos pessoais. "São pessoas tentando fazer com que o dinheiro chegue ao fim do mês."

Segundo os economistas do banco Inter, esse movimento pode pressionar o comprometimento de renda das famílias nos próximos meses.

“Mais de 30% do orçamento familiar é comprometido com juros e amortizações de dívidas, patamar bastante alto na comparação com os últimos anos. Dessa forma, faz-se necessária uma aceleração da retomada do emprego que compense o aumento corrente das taxas de juro, evitando uma contração ainda mais forte da demanda no próximo ano”, diz relatório do banco.

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Inadimplência deve ter aumento gradual

Rabi avalia que essa procura por linhas de crédito emergenciais e mais caras pode levar a um gradual aumento da inadimplência, principalmente a partir de janeiro, quando se concentram despesas como IPTU, IPVA e compra de material escolar, e há o rescaldo dos gastos de final de ano.

Oliveira, da Anefac, entende também que “essa provável inadimplência pode ocorrer por causa do fim das carências nos empréstimos (pausas e carência nas negociações de dívidas), desemprego elevado, fim do pagamento dos auxílios emergenciais, elevação da inflação e seus efeitos na renda e maior seletividade dos bancos na concessão de crédito”.

Em outubro, a inadimplência das pessoas físicas correspondia a aproximadamente 3% da carteira de crédito, segundo o BC. Mas, no cartão, ela vem aumentando com força: do piso de 3,8%, registrado em abril, passou para 5,02%, em outubro.

Cenários para 2022

O Bradesco não acredita que o endividamento e a inadimplência venham a ser um grande tema para 2022, entre famílias e empresas.

“Mesmo com menor crescimento da economia e alta da taxa de juro, esperamos criação de cerca de 5 milhões de postos de trabalho entre este trimestre (4° trimestre de 2021) e o final de 2002, refletindo-se em ampliação da massa de renda e queda na taxa de desemprego”, diz o banco, em relatório. A expectativa é de que a inadimplência fique em níveis próximos aos do pré-pandemia.

Do lado das empresas, a instituição financeira aponta que o baixo endividamento corporativo tende a gerar menos efeitos da Selic sobre o balanço das companhias de grande porte. Pelo lado das de menor porte, o suporte será dado pela permanência do Pronampe – programa criado para financiar micro e pequenas empresas durante a pandemia – e o quadro geral de crédito favorável para o apetite dos bancos.

Mas o banco faz uma ressalva: “Se houve uma melhora do balanço privado, por outro lado, houve a piora do balanço público, o que pode ter implicações relevantes sobre o mercado de crédito nos próximos anos”.

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