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Um levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) aponta que o aumento real de preços sentido no bolso pelo consumidor pode estar muito acima do indicado pelos índices oficiais.
O estudo analisou 40 produtos durante 19 meses – março de 2020 a outubro de 2021 – e constatou que a média da variação de preços foi de 41,97%, 29,44 pontos porcentuais acima da inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que foi de 12,53% no período analisado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para o cálculo do IPCA, o IBGE utiliza uma cesta de 367 subitens e considera o peso médio de cada um desses itens no orçamento das famílias brasileiras com renda entre 1 e 40 salários mínimos, calculado pela Pesquisa de Orçamento Familiar (POF).
A pesquisa do IBPT, por sua vez, foi realizada com base em dados de um aplicativo do próprio instituto que auxilia consumidores no controle de gastos e ajuda a entender a carga tributária sobre as compras. Chamado de Citizen, a plataforma analisa o volume de compras a partir da digitalização de notas fiscais. Segundo a entidade, o aplicativo é utilizado por mais de 20 mil usuários de smartphones em todo o país e já teve mais de um milhão de notas cadastradas.
A partir desse banco de dados, o instituto selecionou uma cesta de 40 produtos mais consumidos em categorias como alimentação, combustíveis, higiene pessoal, limpeza, saúde, vestuário, material escolar, material de construção e lazer. E então calculou a variação de preços de cada um deles e a variação média dos preços desse "pacote".
O levantamento teve início em março de 2020, uma vez que a ideia inicial era monitorar a variação de preços durante a pandemia do novo coronavírus. “Encerramos essa etapa do estudo em outubro de 2021 porque foi um momento em que se considerava que a pandemia estava no fim”, explica o presidente executivo do IBPT, João Eloi Olenike. “Agora talvez seja necessária mais uma atualização.”
No período, o produto que teve a maior oscilação foi a carne bovina, que subiu 146,23% de acordo com os registros de compras. Outros produtos com variação significativa nos preços foram farinha de mandioca (102,40%); papel higiênico (89,16%); açúcar (77,68%); água mineral (73,18%) e argamassa (60,18%).
“A conclusão é que a inflação real, aquela do bolso, que a gente sente como consumidor final, é bem maior do que a inflação oficial, que já foi alta”, diz Olenike.
Dos 40 itens analisados, apenas quatro ficaram com a variação de preço menor que o IPCA do período: cueca (-2,43%); sandália (-5,69%); caderno dez matérias (-1,62%); e caneta esferográfica (-6,72%).
Confira a lista de produtos pesquisados e a variação de preço medida pelo Citizen no período:
Fonte: IBPT
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