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Comércio exterior

Exportações do Brasil decolaram em 2022, mas têm ano difícil pela frente

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Movimentação de cargas no porto de Rotterdam (Países Baixos): economia da União Europeia, um dos principais destinos dos produtos brasileiros, vai enfrentar desaceleração. (Foto: Eric Bakker/Port of Rotterdam Authority)

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O Brasil exportou US$ 280,9 bilhões em mercadorias nos dez primeiros meses do ano, 19% acima do mesmo período de 2021. Trata-se do maior valor desde o início da série histórica da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), em 1997. Mas esse bom cenário para as exportações pode se desvanecer no próximo ano.

“Há muitas preocupações no ar”, diz o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. Entre elas estão o desaquecimento da economia global e problemas domésticos dos parceiros comerciais do Brasil.

Quatro dos principais compradores de produtos brasileiros no exterior têm situação econômica desafiadora e devem crescer menos. Juntos, Argentina, China, Estados Unidos, União Europeia foram o destino de quase 59% das exportações brasileiras entre janeiro e outubro.

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A maior delas é com a perda de tração da economia global, motivada pela inflação em alta e pela consequente elevação das taxas de juros para tentar contê-la. Em abril, o Fundo Monetário Internacional (FMI) projetava que a economia global cresceria 3,6% no ano que vem, estimativa que em julho caiu para 2,9% e, em outubro, para 2,7%.

O fenômeno atinge alguns dos principais parceiros comerciais do país. “Está havendo uma mudança no cenário internacional, que terá reflexos nos preços”, afirma Castro.

Economia americana pode entrar em recessão

As vendas para os Estados Unidos, o segundo principal parceiro comercial do Brasil, cresceram 23,2% nos dez primeiros meses do ano, atingindo US$ 31,1 bilhões. É o maior patamar da série histórica iniciada em 1997.

A Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos (Amcham) espera valores inéditos de exportações e importações neste ano. “Essa projeção se baseia no aumento da demanda e na elevação dos preços internacionais de itens importantes na pauta bilateral”, diz o vice-presidente executivo da Amcham, Abrão Neto.

O cenário pode ser diferente para o ano que vem. As expectativas do FMI para o crescimento da economia dos EUA no próximo ano despencaram entre abril e outubro, passando de 2,3% para 1%. A projeção para o avanço do PIB norte-americano neste ano também baixou nos últimos meses, e a mais recente é de apenas 1,6%.

A maior economia global está com um problema recorrente com a inflação, impulsionada pelos preços da energia e da alimentação, o que tem levado o Fed – o banco central de lá – a aumentar a taxa de juros. Atualmente, elas estão na faixa de 4% a 4,25% ao ano, e novas altas estão previstas para os próximos meses, o que deve levar a um desaquecimento da economia, com possível reflexo nas compras de produtos brasileiros.

“Após uma segunda contração em seu PIB no segundo trimestre, as perspectivas para a economia dos EUA são no mínimo incertas. As pressões inflacionárias estão mostrando sinais de afrouxamento, mas o ritmo de queda na inflação pode ser menor do que o esperado. Embora a confiança do consumidor tenha interrompido recentemente sua tendência de queda e, de fato, tenha se recuperado ligeiramente em agosto, pesquisas de negócios mostram um declínio acentuado no sentimento, particularmente no setor manufatureiro”, escreve, em relatório, Félix Berte, analista do BNP Paribas.

Cenário preocupante na União Europeia

Outro importante comprador de produtos brasileiros que enfrenta problemas é a União Europeia. Os principais são a inflação elevada, que força um aumento nos juros, e a possibilidade de “apagão” energético – até o início da guerra na Ucrânia, 40% da energia consumida vinha da Rússia.

Os entraves coincidem com o melhor momento em dez anos nos negócios com o bloco econômico. Nos dez primeiros meses de 2022, o Brasil exportou US$ 42,8 bilhões em mercadorias para a União Europeia, quase 39% mais que em igual período do ano passado.

Seis produtos respondem por pouco menos da metade da receita de exportações: óleos brutos de petróleo, soja, farelo de soja, café não torrado, minério de ferro e celulose.

As perspectivas não são muito favoráveis, principalmente na Zona do Euro, que reúne 19 países, entre eles alguns grandes clientes brasileiros como os Países Baixos, a Alemanha e a Espanha. Para essa região, as previsões do FMI para o crescimento econômico em 2023 despencaram nos últimos meses, passando de 2,3% em abril para 1,2% em julho e 0,5% em outubro.

Aliado a isso, cita o presidente da AEB, há o fato de que a maioria das commodities tende a ficar mais barata com o desaquecimento da economia mundial.

Argentina e China têm problemas domésticos

Outros dois importantes compradores de produtos "made in Brazil", China e Argentina lidam com problemas domésticos. Os asiáticos, apesar de não terem feito um aperto monetário, não estão conseguindo crescer a um ritmo forte e podem, pela primeira vez desde 1980, crescer menos do que o Brasil. A projeção do FMI é de que os chineses cresçam 3,2% neste ano e 4,4% em 2023.

Uma série de fatores afeta a economia chinesa, a segunda maior do globo e principal destino para os produtos brasileiros, diz o diretor de investimentos da Portofino Multifamily Office, Eduardo Castro:

  • O setor imobiliário, um dos motores da economia chinesa, está com problemas, como o caso da megaincorporadora Evergrande;
  • As intervenções no segmento de tecnologia da informação repeliram potenciais investidores; e
  • A manutenção da política de "Covid zero", que leva à implantação de lockdows nas regiões afetadas.

A China compra principalmente produtos agropecuários, como carne e soja em grão, e da indústria extrativa, como petróleo e minério de ferro. O valor das compras de produtos brasileiros caiu 1,3% nos dez primeiros meses do ano, para US$ 76,5 bilhões. Com isso, a participação da China no total das exportações brasileiras caiu para 27,2%, a menor parcela desde 2017.

Os argentinos, por sua vez, enfrentam uma crise cambial severa e tendem a restringir a saída de divisas. Dois dos instrumentos são o estabelecimento de diferentes tipos de taxas de câmbio, conforme a atividade, e a cobrança de impostos para atividades relacionadas ao turismo no exterior.

A expectativa de analistas do Itaú é de que a economia da Argentina já se contraia neste segundo semestre, devido aos ajustes fiscais e monetário e ajustes como um controle mais rígido importações. “Nesse cenário de crise, eles vão comprar apenas o estritamente necessário”, projeta o presidente da AEB.

Um dos segmentos que já sentem o baque é a indústria automobilística, cujas exportações para a Argentina caíram recentemente por causa das restrições impostas pelo país vizinho. Também influenciaram, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o esgotamento da cota de isenção da Colômbia e problemas logísticos.

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