O Itaú Unibanco acaba de ter mais uma demonstração do bom momento por que passa o Brasil no mercado financeiro internacional. Em 20 dias úteis, um fundo de ações lançado pela instituição no Japão captou mais de R$ 2 bilhões, um valor que surpreendeu até mesmo seu otimista diretor Roberto Nishikawa. "Realmente, é uma captação impressionante", disse.
O executivo nissei conhece bem o meio em que atua. Trabalhou para um banco internacional em Tóquio entre 1989 e 1995, o que deu a ele fluência em japonês. Desde 2006, viaja com frequência ao país de seus ancestrais para "vender" o Brasil e prospectar oportunidades na área de investimentos para o Itaú. Ou seja, Nishikawa conhece o gosto e os hábitos dos japoneses.
Por isso, já tinha uma previsão mais ousada para a captação do fundo do que seus colegas do banco. "Eles acreditavam em US$ 500 milhões e eu, em US$ 1 bilhão. Considerando hoje (sexta-feira), já estamos falando de US$ 1,160 bilhão."
A hora escolhida para o lançamento do Rio Wind não foi aleatória "Queríamos aproveitar o apelo com a conquista dos Jogos Olímpicos pelo Rio", diz. "Aqui no Brasil, as pessoas ainda não se deram conta do efeito que a Olimpíada pode ter. Mas, no Japão, eles já tiveram essa experiência quando Tóquio foi sede do evento (em 1964)."
O Rio Wind tem como meta seguir o desempenho do Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa). Portanto, sua carteira é composta pelas 62 ações que hoje formam o indicador. "Podem ser ações compradas na Bovespa ou ADRs (recibos de papéis brasileiros negociados na Bolsa de Nova Iorque)", explicou.
A taxa de administração do fundo, de 1,68% ao ano, é dividida entre a Itaú Unibanco Asset Management, a Daiwa Asset Management, a Daiwa Securities (parceiras do banco brasileiro no Japão) e a instituição responsável pelo chamado trust (que faz a custódia dos papéis). A aplicação mínima é de 100 mil ienes, o equivalente a R$ 2 mil.
Conservadorismo
Segundo Nishikawa, o investidor típico japonês tem mais de 50 anos e poupa com vistas à aposentaria. Entre as várias características que o executivo detectou no investidor do país oriental estão o conservadorismo e o grau de exigência elevadíssimo. "Mesmo com o juro no Japão em zero, há cerca de US$ 4 trilhões aplicados em CDBs (que são corrigidos pela taxa básica)", comentou. "Esse grau de exigência alto nos obriga a treinar constantemente a equipe."
Atualmente, o Itaú Unibanco tem um time de sete profissionais no Japão - apenas três falam português. A instituição oferece no país três famílias de produtos. Uma delas é de fundos indexados a títulos públicos brasileiros (renda fixa), outra, de fundos de ações, e a terceira, de fundos atrelados a ativos latino-americanos.
A rentabilidade média dos produtos brasileiros é incomparavelmente superior à de similares indexados a ativos japoneses. A família de fundos de renda fixa, por exemplo, acumula em 2009 valorização de mais de 40% - fruto da taxa básica de juros ainda alta no Brasil e dos ganhos do real ante o dólar. O Ibovespa, em dólar, já subiu mais de 100% no ano.
O patrimônio total administrado pelo banco brasileiro no país asiático saltou de US$ 600 milhões ao final de dezembro de 2008 para os atuais US$ 8 bilhões. O sucesso recente é fruto do trabalho de Nishikawa e sua equipe desde o ano em que começou a estudar o mercado japonês. "Embora o Japão não tenha crescido tanto nos últimos anos, grande parte da poupança do mundo está lá", explicou.
No início do trabalho, Nishikawa enfrentava basicamente dois tipos de dificuldade. A primeira delas era o histórico negativo em relação à economia brasileira, por causa de calotes e outros problemas do passado. A segunda era a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, muito inferior à de países vizinhos ao Japão.
"Mas, a partir do ano passado, a percepção sobre nosso País começou a melhorar", relatou Nishikawa. "Agora, com a economia brasileira se recuperando mais rapidamente da crise, a solidez do sistema financeiro nacional, perspectivas para a Copa do Mundo e Olimpíadas, a situação está ainda mais positiva", sintetizou o executivo. Pelo jeito, a média de três viagens anuais ao Japão vai, na pior das hipóteses, se manter onde está.
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