Analistas de mercado e clientes ainda olham com cautela a possibilidade de fusão entre a América Latina Logística (ALL) e a Rumo, do grupo Cosan. As negociações entre as empresas teriam avançado e a Cosan deve formalizar nos próximos dias uma oferta para ter o controle da ALL.
Em linhas gerais, o acordo é benéfico para ambas as empresas a ALL se uniria a um grupo sólido e capitalizado, o que permitiria acelerar investimentos, e a Cosan avançaria na área de infraestrutura, que é um dos seus focos de crescimento. Mas ainda pairam dúvidas sobre o novo desenho societário e como essa mudança poderá afetar a atuação da ALL.
Entre os representantes do agronegócio, a dúvida é se com um controlador com foco na área de açúcar e álcool, a ALL não poderia privilegiar cargas do seu principal acionista em detrimento de clientes de outros setores, como produtores de soja e milho. "Essa com certeza é uma questão que vem à tona com o novo negócio. Mas cabe à autoridade reguladora coibir eventuais abusos", diz Felipe Rocha, analista estrategista da corretora Omar Camargo.
A cautela dos investidores fez com que os papéis da ALL, que chegaram a subir 10% na semana passada com os boatos da fusão, fechassem o pregão de ontem com queda 0,57%, para R$ 7.
A Cosan havia feito uma oferta pela entrada no bloco de controle da concessionária de ferrovias em fevereiro de 2012, mas as conversas não prosperaram principalmente porque o grupo paulista exigiu a realização de uma auditoria nos negócios da ALL. Agora, a proposta do empresário Rubens Ometto Silveira Mello, dono da Cosan, deverá envolver troca de ações e não desembolso de dinheiro. Procuradas, ALL e Cosan não comentaram o assunto.
Articulação
A decisão da Cosan de retomar as negociações com a companhia ferroviária tem o aval do governo federal, que mobilizou o BNDES, também sócio da ALL, para conduzir as conversas. A fusão seria uma forma também de acabar com uma briga na Justiça entre a ALL e a Rumo sobre um acordo de R$ 1,1 bilhão firmado em 2009 para o transporte de açúcar até o Porto de Santos. A Rumo acusa a ALL de não fazer investimentos na malha para atender a demanda. A operadora ferroviária diz que problemas com licenças ambientais e a Funai a impediram de concluir as obras no prazo previsto.
Para a XP Investimentos, a fusão seria favorável à ALL, que vem sendo pressionada pelo governo federal a melhorar sua performance e é criticada por usuários por má prestação de serviços e preços abusivos.
A empresa fruto da fusão entre a ALL e a Rumo Logística teria de investir algo entre R$ 8 bilhões e R$ 11 bilhões até 2020, segundo o jornal Valor Econômico.