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Os dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE, concretizaram o cenário que já era esperado por especialistas: a crise do coronavírus fez o desemprego aumentar no Brasil, nos meses de março, abril e maio de 2020.
A taxa de desocupação registrada pelo IBGE neste período foi de 12,9% – ligeiramente maior que a registrada no mesmo período de 2019, de 12,3%. A Pnad Contínua é a pesquisa do IBGE que fornece o indicador oficial do desemprego. Durante a pandemia, o Instituto também está realizando a Pnad Covid-19, para monitorar os efeitos da crise sobre a saúde e o mercado de trabalho. O levantamento, entretanto, é feito semanalmente, e não tem metodologia comparável à da Pnad Contínua.
Mesmo que seja o indicador oficial do desemprego, porém, a taxa de desocupação apontada pela última Pnad Contínua não reflete todo o impacto do coronavírus no mercado de trabalho. Isso porque muitas pessoas – quase um milhão delas, mais precisamente – simplesmente desistiram de procurar emprego.
Tecnicamente, esses cidadãos deixam de ser considerados desempregados pelo IBGE, já que não estão mais em busca de uma colocação. Esse grupo, denominado "desalentado", somou 5,4 milhões de pessoas entre março e maio deste ano.
O fenômeno fica claro se considerarmos outros indicadores que aparecem na Pnad Contínua. Note que, no gráfico acima, as linhas cinza e laranja, que representam a taxa de participação na força de trabalho (isto é, o percentual de pessoas que estão na idade de trabalhar e que buscam emprego) e o nível de ocupação (ou seja, o percentual das pessoas em idade de trabalhar que estão empregadas), caíram significativamente se comparados os períodos de dezembro de 2019 a fevereiro de 2020 e de março a maio de 2019.
Isolamento social penalizou mais o trabalho informal
Outro dado da Pnad demonstra como o coronavírus penalizou o trabalho informal. Entre os trabalhadores do setor privado sem carteira assinada, a queda no emprego foi de 20,8%. Entre quem tem carteira assinada, por outro lado, a queda na ocupação foi de 7,5%. Além disso, houve redução de 8,4% no número de trabalhadores que atuam por conta própria (de 24,2 milhões entre dezembro e abril para 22,4 na última Pnad).
A queda no número de trabalhadores informais – não porque migraram para a formalidade, mas porque ficaram impedidos de trabalhar – e o aumento do desalento resultaram em um fenômeno curioso: apesar do aumento do desemprego, o valor do rendimento médio real habitual das pessoas ocupadas aumentou, de R$ 2.374 para R$ 2.460 (3,6%).
Quando considerada a massa dos rendimentos, que soma o que é habitualmente recebido por todos os trabalhadores ocupados, porém, os efeitos da crise ficam visíveis: houve queda de 5% entre um período e outro (de R$ 217,5 milhões para R$ 206,6 milhões).
Queda nas contratações explica maior parte da retração do mercado formal
No mercado formal, outro comportamento contraintuitivo. Em toda crise, o esperado é que as empresas aumentem o número de demissões, como forma de equalizar as contas. Dessa vez, no entanto, ações como a medida provisória 936, que permitiu a suspensão de contratos e a redução de jornada e salários, fizeram com que as demissões ocorressem, mas em volume menor do que poderia ter acontecido.
Mesmo assim, houve queda no número de vagas formais, conforme mostraram os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia. O ajuste se deu, principalmente, pela queda no número de admissões. À exceção de março, o número de funcionários com carteira assinada dispensados caiu nos demais meses do ano, na comparação com o período imediatamente anterior. Em maio, a queda nas demissões chegou a 31%.
Mas, ao mesmo tempo, houve retração nas contratações. Em abril, as admissões chegaram a cair quase 56%, na comparação com março, como mostram os dados do Caged.
Esta reportagem é parte da série "Retratos da economia", que detalha os efeitos do coronavírus sobre a economia brasileira e os planos do governo para a retomada. Os demais textos da série estão aqui.
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