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Alta nos preços

Mais inflação à frente: gargalos pioram com Covid na China e guerra na Ucrânia

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Um dos principais epicentros da Covid-19 na China é a região de Xangai, um dos principais polos econômicos do país (Foto: Alex Plavevski/EFE)

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O aumento de casos de Covid-19 na China, atingindo as regiões de Xangai e Shenzhen – um dos principais polos econômicos do país – e a guerra na Ucrânia tendem a manter a inflação mais pressionada no mundo. No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ela atingiu 12,13% nos 12 meses encerrados em abril. Os Estados Unidos enfrentam a maior alta de preços desde 1981 e a Europa, desde 1999, quando foi adotado o euro como moeda comum.

Lívio Ribeiro, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), aponta que essa pressão inflacionária em escala global é causada principalmente pelas commodities e bens industriais.

“A inflação vem surpreendendo o mundo e os bancos centrais tentam trazê-la para um patamar razoável”, diz André Volker, sócio da consultoria Kearney. No caso do Brasil, ele acredita que o convívio com taxas mais elevadas vai ocorrer nos próximos dois anos.

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O principal efeito global será o resfriamento da economia, que levará a um crescimento mais baixo. A projeção é de que a economia global se expanda 3,2% neste ano. A previsão antes do conflito no Leste Europeu era de 4%. Para o Brasil, a projeção é de uma alta de 1,5% no PIB.

Preocupações vindas do Oriente pressionam inflação

O Bradesco aponta que a maior preocupação, em relação à China, é com uma desaceleração mais pronunciada da economia e com um agravamento das cadeias produtivas.

“A normalização esperada da indústria mundial pode ser postergada, dado o papel relevante da China – e a desinflação de bens industriais deve demorar mais do que esperávamos no início do ano. Segue sendo difícil prever como essa situação irá evoluir nas próximas semanas”, destacam economistas do banco.

Segundo a Dow Jones, os lockdowns impostos para conter a Covid-19 estão estrangulando a atividade na segunda maior economia do mundo. “A demanda pelas exportações da China está caindo à medida que as economias lutam com o aumento dos preços e alta nos juros”, cita reportagem.

“Os lockdowns estão contribuindo para tornar mais tardia a recuperação das cadeias de produção”, diz Ribeiro. E, complementa, afirmando que há uma dificuldade de enxergar uma normalização, o que reduziria os impactos sobre a inflação e o crescimento. “Vem choque sobre choque.”

Economistas do Bradesco sinalizam que as perspectivas para a economia chinesa têm se tornado mais incertas. Esse problema não é causado só pela Covid-19. ”Como ponto de partida, temos a desaceleração iniciada em meados do ano passados decorrente de ajustes internos. Choques recentes reduzem a possibilidade de uma recuperação mais vigorosa nos trimestres à frente.”

Além da Covid-19, a tendência baixista para a segunda maior economia global é reforçada pela guerra na Ucrânia e a desaceleração, ainda em curso, do setor imobiliário, evidenciada no ano passado com os problemas com a megaincorporadora Evergrande.

Incertezas em relação ao comércio internacional

A Organização Mundial do Comércio (OMC) esperava, em abril, um crescimento de 3% no comércio internacional de bens – uma retração na previsão, que antes era de 4,7% –, mas avalia que essa estimativa é incerta diante da evolução do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, que iniciou em 24 de fevereiro.

O impacto mais imediato da crise foi um forte aumento do preço das commodities. A OMC lembra que apesar da pequena participação dos dois países no comércio e no PIB global, eles são fornecedores-chave de bens essenciais, incluindo alimentos, energia e fertilizantes.

Os embarques de grãos nos portos do Mar Negro foram interrompidos devido à guerra, ameaçando a segurança alimentar, principalmente, em países do Oriente Médio e do Norte da África.

Falta de contêineres e congestionamento de navios

Os lockdowns na China, para evitar a difusão da Covid-19, estão causando novamente uma disrupção no transporte marítimo de cargas, justo quando as pressões sobre as cadeias de suprimentos pareciam estar amenizando.

Uma preocupação adicional de quem trabalha com comércio exterior é a falta de contêineres. O desequilíbrio tende a se acentuar devido à natureza do comércio exterior brasileiro.  “Exportamos commodities e importamos bens industriais”, diz o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.

Levantamento feito pela plataforma Winward, especializada em transporte marítimo, aponta que um em cada quatro navios porta-contêineres estão parados em portos congestionados. E um dos lugares onde está concentrada essa movimentação é a China.

Operadores logísticos têm desenvolvido estratégias para tentar driblar esse problema. É o caso da Asia Shipping, multinacional brasileira especializada em agenciamento de cargas. A empresa está utilizando em algumas de suas operações contêineres do tipo NOR, ou seja, os mesmos usados na movimentação de cargas refrigeradas (reefer), porém com o motor desligado.

“Com o aquecimento do mercado de carne, o reefer passou a ser bem utilizado no Brasil. Por isso passamos a utilizar o NOR com outros clientes com o intuito de reduzir prazos e inventários de equipamentos na hora de importar. Com este novo serviço, conseguimos atender uma gama de setores como o automotivo, têxtil e eletroeletrônicos”, comenta o diretor comercial Rafael Dantas.

Inflação e impactos da Guerra na Ucrânia

Outra preocupação vem com a guerra na Ucrânia. Volker, da Kearney, cita que o principal impacto é uma pressão maior sobre commodities energéticas e alimentares. A Rússia é um dos maiores produtores mundiais de petróleo e gás natural.

No Brasil, isto já se traduziu em aumentos nos combustíveis. No primeiro quadrimestre do ano, a gasolina aumentou 7,84%, segundo o IBGE, e o diesel, 23,88%.

Outro impacto, segundo o sócio da Kearney, deve vir sobre o preço dos alimentos, que já subiram 7,05% no ano. “Os custos tendem a aumentar por causa dos aumentos nos fertilizantes.” Rússia e a Belarus estão entre os maiores produtores de insumos usados na fabricação. Os dois países, aliados na guerra, estão com dificuldades para escoar a produção.

Na avaliação do pesquisador do Ibre/FGV, este conflito deve levar a transformações estruturais na economia europeia.

Uma das mudanças que deve ocorrer é na estrutura de produção. Os europeus planejam reduzir a dependência de insumos vindos da Rússia, como é o caso do petróleo – que pode ser alvo de um bloqueio – e do gás natural – cujo envio está sendo reduzido.

“A Europa também tende a ser mais permissiva na política fiscal”, diz Ribeiro. Estas mudanças implicarão na revisão das estratégias energéticas e devem obrigar o continente a conviver com um declínio mais longo da inflação. “Isto também exercerá pressão sobre a política monetária.”

Temor de moratória russa

Outra preocupação de quem depende do comércio exterior é a situação da Rússia e de países em seu entorno. Estimativas da OMC apontam que as importações de países que formavam a ex-União Soviética devem encolher 12% e o PIB, 4,9%.

O temor é de que o país, submetido a sanções econômicas, entre em moratória. “É um fato que deve ser levado em consideração, diante de um cenário em que os juros nos Estados Unidos estão aumentando”, afirma Castro, da AEB.

Ele acredita que isto pode gerar um efeito dominó sobre outras economias emergentes, impactando ainda mais o comércio internacional.

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