David Pierce, respeitado jornalista da Wired, descreveu em 2015 que “estamos à beira de uma nova revolução” ao se referir aos assistentes digitais – softwares e gadgets que, como indica o nome, pretendem facilitar a vida otimizando tarefas cotidianas. A tendência se tornou evidente em 2016 quando as gigantes Amazon e Google tiveram sucesso em lançamentos como o aparelho Echo (no caso da Amazon) e o aplicativo Allo (Google). E uma empresa brasileira está disposta a encarar o exército pesado do Vale do Silício com uma solução, de certa forma, nesta linha. A gaúcha 4All Tecnologia criou uma plataforma que unifica serviços.
A mente por trás da empresa é José Renato Hopf, conhecido por outro projeto de sucesso: a GetNet. A companhia de pagamentos, criada em 2003, empregou mais de 2 mil funcionários e chegou a faturar R$ 3 bilhões ao ano sob sua gestão. Em 2014, foi vendida ao Santander por US$ 1,1 bilhão. Talvez por isso, a nova empreitada do CEO não tenha desembarcado no mercado com modéstia. Foi lançada em novembro em uma festa com ares de apresentação da Apple, tem mais de cem funcionários, estampou patrocínio na camisa do Grêmio e muita gente já aposta em seu potencial de ser o próximo unicórnio (empresas com valor de mercado estimado em US$ 1 bilhão) brasileiro. O valor do investimento não foi revelado.
O conceito da 4All é de integração. O ponto que mais impacta, no primeiro momento, é seu aplicativo agregador de serviços, disponível para Android e iOS. Nele, é possível procurar, reservar mesas e fazer pedido em restaurantes; achar vagas de estacionamento; agendar salão de beleza; recarregar cartões de transporte público; fazer pagamentos; comprar ingressos para eventos; ou procurar encanador e diarista – isso para citar só alguns exemplos.
Por enquanto, a região de Porto Alegre é a melhor contemplada. Mas os planos são de expandir rapidamente. No primeiro trimestre do ano que vem, deve chegar a Curitiba e Belo Horizonte. “Temos parceria com o grupo Positivo”, adianta Hopf sobre a atuação na capital paranaense.
Entre os parceiros atuais estão Indigo (estacionamentos), Shopping Total (do Rio Grande do Sul) e o Grêmio, que embarcaram alguns de seus serviços na tech gaúcha. Há uma resposta evidente para se acreditar no sucesso de agregadores de serviços. Ao mesmo tempo em que os aplicativos facilitaram a vida, eles também se tornaram um incômodo. (Olhe para o seu telefone, embora você tenha algumas dezenas de aplicações, é provável que conte nos dedos aqueles que realmente usa).
Mas a 4All é mais do que um “aplicativão” capaz de juntar vários outros. A tecnologia do grupo gaúcho pode ser embarcada em outros meios. E está sendo. “Mais de 8 milhões de pessoas usam nossa tecnologia no Brasil todo e elas nem sabem quem está por trás”, diz Hopf. É que uma empresa pode usar a tecnologia sem necessariamente estar dentro de um app com o nome da 4All. Além disso, o grupo quer intensificar seu serviço de chatbot (chamado 4bot) para o Messenger, o aplicativo de mensagens do Facebook. Dessa formam as pessoas conseguem fazer compras ou pagamentos via bate-papo com um robô.
O cronograma bem desenhado e o plano de expansão internacional mostram que a 4All não parece ter medo da concorrência dos gigantes californianos. O aplicativo Allo, citado no início do texto, veio de certa forma com uma proposta que convergente com parte daquilo que o 4All oferece. Para vencer a disputa, Hopf tem seu trunfo: conhecer melhor os mercados regionais. “Esses agentes globais não conseguem chegar no mercado local. São mais focados nas grandes empresas”, diz. Sua empresa, por outro lado, está atenta também aos pequenos, destaca.