Fundamental para sustentar o crescimento econômico por longos períodos, o investimento produtivo caiu, em 2014, aos níveis mais baixos em sete anos. E tende a continuar em baixa em 2015, prejudicado pelo ajuste fiscal do governo, pela insegurança dos empresários e pelos desdobramentos da Operação Lava Jato.
Os gastos em máquinas, equipamentos e na construção civil são importantes porque aumentam a capacidade do país de gerar riquezas. Por isso, quando diminuem, acabam limitando o crescimento econômico dos anos seguintes.
Há também um impacto mais imediato, porque esses desembolsos medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), mais conhecida como taxa de investimento entram no cálculo do Produto Interno Bruto (PIB). Assim, quando o investimento cai, a expansão da economia depende mais do consumo das famílias, dos gastos públicos e das exportações. Fatores que, por uma série de razões, também não estão nada promissores.
Os dados mais recentes indicam que o investimento produtivo acumulado em 12 meses recuou para 17,3% do PIB no terceiro trimestre de 2014, a menor taxa desde meados de 2007. É pouco. Economistas calculam que, para crescer por vários anos a taxas de mais de 4%, o país teria de investir perto de 25% do PIB.
Para o economista Cláudio Frischtak, presidente da consultoria Inter.B, manter um investimento próximo de 17% do PIB em 2015 "já será uma vitória". "O ano será dificílimo, e seria um arroubo dizer que vamos sair dessa rapidamente. Haverá uma redução dos investimentos do governo, o que, por si só, tende a diminuir o investimento privado, que em muitos casos é complementar ao público", avalia.
Segundo ele, a inércia do governo, paralisado pelo escândalo da Petrobras, prejudica ainda mais as decisões das empresas, que já eram afetadas pela persistente queda da confiança na economia. A alta do dólar, avalia Frischtak, pode até dar um "choque de competitividade" às exportações da indústria, mas isso não significa que o setor reagirá tão cedo. "Há uma defasagem entre a melhora da competitividade e a retomada dos investimentos", diz.
Alternativas
Gabriel Leal de Barros, professor do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), explica que a rigidez do orçamento fará com que boa parte da contenção de gastos do governo recaia sobre os investimentos. "O governo tem pouca margem de manobra, porque apenas 25% do gasto é discricionário, ou seja, pode ser manejado."
Mas, segundo o economista, há formas de mitigar os impactos da redução do investimento. Uma delas é concentrar esforços em obras com mais "externalidades positivas". "Gosto de usar como exemplo a Ferrovia Norte-Sul, que cortaria o país de cima a baixo. Uma vez concluída, ela não apenas contribuiria para elevar a competitividade da economia, mas também destravaria uma série de investimentos privados complementares, criando toda uma estrutura logística em torno desse corredor."
Um ano para "baixar a poeira" da Lava Jato
Os gastos em infraestrutura vinham crescendo, alcançando cerca de 2,5% do PIB em 2014, segundo cálculo da Inter.B. Mas mesmo essa área tende a sofrer em 2015, prevê Cláudio Frischtak, presidente da consultoria. Para ele, o governo gastará boa parte do ano "esperando baixar a poeira" levantada pela Lava Jato.
O economista crê que a investigação que alcançou quase todas as grandes empreiteiras vai impedir a retomada das concessões de infraestrutura por pelo menos todo o primeiro semestre. Ele propõe que o governo privilegie "linhas de menor esforço", como as concessões de rodovias, que podem ser tocadas por empreiteiras de médio porte.
"Outra linha é renovar antecipadamente os terminais portuários arrendados a partir de 1993, o que destravaria investimentos de R$ 11 bilhões", diz o economista.
Para contornar eventuais restrições às empreiteiras da Lava Jato, o economista Gabriel Leal de Barros, do Ibre/FGV, propõe abrir o mercado brasileiro para empresas internacionais.
Ineficiência
O avanço dos últimos anos não mudou o fato de que o Brasil investe pouco em infraestrutura. A Inter.B calcula que seria preciso gastar 3% do PIB na área apenas para conservar o que já existe, e perto de 4,5% do PIB para sustentar um crescimento econômico da ordem de 4% ao ano.