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Um dos principais fatores que contribuem para o Brasil ter a terceira maior taxa real de juros do mundo é o descontrole das contas públicas.
O tema será discutido em uma mesa redonda organizada pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), em comemoração aos seus 80 anos de fundação. O evento ocorre nesta quinta-feira (15), às 15 horas, no Campus da Indústria do Sistema Fiep, em Curitiba, com o apoio da Gazeta do Povo.
Os convidados para o debate são o ex-presidente da República Michel Temer, o economista-chefe do BTG Pactual e ex-secretário do Tesouro Nacional Mansueto Almeida e o presidente do Conselho Superior do Movimento Brasil Competitivo (MBC), Jorge Gerdau Johannpeter.
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“O crédito é o combustível da expansão da indústria. Um custo mais baixo de capital incentiva investimentos produtivos e o crescimento do parque fabril, refletindo-se na geração de mais empregos, renda e riquezas. Precisamos entender quais são os fatores que fazem com que o Brasil tenha uma das taxas mais altas do mundo e criar um debate técnico, afastado de aspectos ideológicos, para encontrar caminhos que permitam ao país facilitar o acesso ao crédito e ampliar a competitividade de seu setor produtivo", diz o presidente da Fiep, Edson Vasconcelos.
A mesa-redonda, que será mediada pela jornalista Thais Herédia, abordará como o descontrole dos gastos públicos aumenta a necessidade de financiamento do Estado brasileiro, influenciando diretamente a taxa básica de juros. Além disso, os especialistas analisarão como uma Selic elevada dificulta o acesso ao crédito para investimentos produtivos, afetando o desempenho da economia nacional.
Dados do Banco Central (BC) mostram que, nos 12 meses encerrados em junho, o resultado primário (gastos do governo, excluídas as despesas com juros da dívida pública, menos a arrecadação) foi deficitário em 2,44% do PIB. Ao fim do governo de Jair Bolsonaro (PL), em dezembro de 2022, havia um superávit de 1,25%.
O endividamento público também vem aumentando: em junho, atingiu 77,8% do PIB, o nível mais alto desde fevereiro de 2022. Essa trajetória ascendente da dívida tem gerado grandes preocupações no Comitê de Política Monetária (Copom) e no mercado financeiro.
Ata do Copom reforça necessidade de disciplina fiscal
A última ata do Copom, publicada no dia 6, destacou a importância de manter o esforço em reformas estruturais e a disciplina fiscal. O documento alertou que o aumento do crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública podem elevar a taxa de juros neutra da economia, o que teria impactos negativos sobre a eficácia da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade econômica.
O Copom também ressaltou que a percepção recente dos agentes de mercado sobre o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço fiscal, entre outros fatores, tem influenciado significativamente os preços dos ativos e as expectativas econômicas.
Segundo o comitê, uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade do endividamento público contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, refletindo-se positivamente na política monetária.
Reformas estruturais: o “caminho do bem” para reduzir juros
Especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo apontam que o "caminho do bem" para o Brasil atingir juros mais baixos e "civilizados" é longo e passa pela realização de reformas estruturais.
O coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), Ahmed El Khatib, afirma que atualmente há grande incerteza sobre a capacidade do governo de controlar as finanças públicas, o que acaba aumentando a percepção de risco entre os investidores.
Samuel Pessôa, pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), também destaca que o Brasil não consegue sustentar uma dívida pública elevada. As expectativas do mercado financeiro, sinalizadas pelo boletim Focus do BC, indicam que o endividamento pode chegar a 93% do PIB em 2033.Allan Augusto Gallo Antonio, professor de Economia e Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, acrescenta: “É necessário um rigoroso controle dos gastos, além de cortes de privilégios e reformas previdenciária e tributária que tragam sustentabilidade fiscal e eficiência à economia.”