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Política monetária

Indicados de Lula votam com Campos Neto e BC indica juros altos por um bom tempo

Juros
Os diretores do Banco Central, que compõem o Copom: todos votaram, pela segunda vez seguida, pela manutenção dos juros em 10,5% ao ano. (Foto: Raphael Ribeiro/BCB)

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Os quatro diretores do Banco Central indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) votaram em linha com o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, para manter a taxa básica de juros em 10,5% ao ano. Foi a segunda vez consecutiva que o Comitê de Política Monetária (Copom) tomou essa decisão por unanimidade.

Os indicados de Lula são Gabriel Galípolo (diretor de Política Monetária, tido como favorito a suceder Campos Neto em 2025), Paulo Picchetti (Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos), Ailton Aquino (Fiscalização) e Rodrigo Teixeira (Administração).

Ou seja, embora Lula concentre os ataques à política de juros na figura de Campos Neto, que foi alçado ao cargo por escolha do então presidente Jair Bolsonaro (PL), mesmo os nomeados pelo petista entendem que o cenário de inflação impede uma queda dos juros neste momento.

Não é só. O comunicado do Copom após a decisão desta quarta (31/7) indica que os juros permanecerão elevados por um bom tempo.

“A política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno da meta”, destaca o documento.

O BC ressalta que o cenário global incerto e o cenário doméstico – marcado por resiliência na atividade econômica, elevação nas projeções de inflação e expectativas desancoradas – “demandam acompanhamento diligente e ainda maior cautela”.

Esse trecho contém uma novidade importante. O texto publicado após a reunião anterior, em junho, falava em "maior cautela". O de agora, "ainda maior cautela". São pequenas alterações como essa, típicas da comunicação do Banco Central, que os analistas costumam observar para tentar prever os próximos passos da política monetária.

Dólar é fonte de preocupação para o BC

Uma das principais preocupações da autoridade monetária é em relação ao dólar. A desvalorização do real frente à moeda norte-americana é uma das maiores entre as economias dos países emergentes. Dois fatores pesaram nesse comportamento:

  • a indefinição da política monetária norte-americana, que pode reduzir a taxa de juros na próxima reunião do Fed (o BC americano), em setembro; e
  • as declarações de Lula contra a atuação de Campos Neto e contra corte de gastos do governo e ajuste fiscal.

O mercado avalia que o Fed – que nesta quarta manteve pela oitava vez consecutiva a taxa básica de juros entre 5,25% e 5,5% ao ano – adotou uma postura mais suave em seu comunicado. Segundo o coordenador de alocação e inteligência da corretora Avenue, José Maria Silva, o BC americano segue atento aos riscos associados à inflação, que “permanece um tanto elevada”, e ao mercado de trabalho, que se mostra resiliente.

No Brasil, as pressões continuam. O dólar fechou o ano passado cotado a R$ 4,841. Nesta quinta-feira (1.°), às 11h35, estava sendo negociado a R$ 5,652. O ponto médio (mediana) das projeções do câmbio para o fim de 2024 passou de R$ 5 no começo de janeiro para R$ 5,30 nesta semana, de acordo com o boletim Focus, do BC.

“A inflação desancora, o risco fiscal muda de patamar e, consequentemente, o reflexo na depreciação cambial persiste. Uma situação fiscal crível e a instabilidade do real foram fatores evidenciados no comunicado do Copom e precisam ser corrigidos”, reitera Ricardo Martins, economista-chefe da Planner Investimentos.

O economista Carlos Lopes, do banco BV, aponta que, apesar de não sinalizar claramente uma alta da Selic no futuro, o Copom destaca que eventuais deteriorações no câmbio e nas expectativas de inflação podem levá-lo a mudar de comportamento. “O BC está muito próximo desse limiar, dessa necessidade de voltar a subir juros.”

Na mesma linha, o economista-chefe da G5 Partners, Luiz Otávio Leal, avalia que, se não dá para vislumbrar uma alta de juros na reunião de setembro, “sem dúvida estamos mais perto disso do que estávamos antes desta reunião”.

Maurício Une e Renan Alves. especialistas do Rabobank, ainda veem o Copom mantendo a Selic a 10,5% até o fim do ano e retomando o ciclo de redução em 2025, provavelmente entre março e junho. Segundo eles, a retomada de cortes está condicionada ao cenário externo em que o banco estima que o Fed inicie a redução de juros em setembro e que melhorem as condições financeiras globais.

Declarações de Lula causam instabilidade e ajudam a pressionar o câmbio e juros

Outra fonte de instabilidade na economia são as frequentes declarações do presidente Lula, nas últimas semanas, contra a necessidade de um ajuste fiscal e em relação à política monetária conduzida pela equipe de Campos Neto. Há um mês, o dólar chegou a ser negociado perto dos R$ 5,70.

As declarações do presidente contra a necessidade de um ajuste nas contas públicas diminuíram após uma reunião, no início do mês passado, com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Lula passou a manifestar, genericamente, “compromisso” com a responsabilidade fiscal.

Os ataques a Campos Neto, entretanto, persistem. No dia 22, Lula afirmou: “Como pode um rapaz que se diz autônomo, presidente do Banco Central, estar incomodado com o fato de que o povo mais humilde está ganhando aumento de salário?”.

Na sexta-feira (26), Lula questionou o “respeito” de Campos Neto pela população após citar uma declaração do dirigente do BC sobre a política de valorização do salário mínimo. O presidente se referia a uma entrevista de Campos Neto à CNN Brasil, em abril, na qual o presidente do BC afirmou que “quando as empresas não conseguem contratar e têm que começar a subir o salário para o mesmo nível de produção, significa que você está iniciando um processo inflacionário”.

O Ministério da Fazenda, no entanto, reconhece que as incertezas que levaram o BC a interromper a redução da taxa de juros em junho ainda persistem.

BC endurece posicionamento sobre a questão fiscal

A questão fiscal continua sendo fonte de preocupação para o Banco Central, que endureceu seu posicionamento em relação ao tema. Os últimos números, divulgados na segunda-feira (29), mostram uma situação delicada.

O endividamento público, medido pela dívida bruta do governo geral, atingiu 77,8% do PIB em junho, um crescimento de 1,1 ponto percentual em relação ao mês anterior. Em 12 meses, o déficit primário (despesas do governo, excluídas as dos juros da dívida pública, menos a arrecadação) foi de 2,44% do PIB. Um ano antes, esse indicador era de 0,22% do PIB.

“O Comitê monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal, junto com outros fatores, tem impactado os preços de ativos e as expectativas dos agentes. O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”, destaca o comunicado do Copom.

A avaliação de Raphael Vieira, co-head de investimentos da Arton Advisors, é de que o cenário segue desafiador para o BC, que, além de contar com uma deterioração das expectativas da inflação, ainda vê uma maior depreciação do câmbio por conta da desconfiança dos agentes econômicos sobre a política fiscal.

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