As ações da Airbus superaram a rival Boeing este ano após acidentes fatais com o 737 Max que tiraram o modelo dos ares no primeiro semestre. A Airbus termina o ano à frente da concorrente pela primeira vez desde 2015, com um aumento de aproximadamente 50% desde janeiro, na comparação com os ganhos de menos de 10% alcançados pela Boeing.
"Não há dúvida de que a Airbus se beneficiou dos problemas da Boeing", disse Michael Hewson, analista-chefe de mercado da CMC Markets UK, que acredita, ainda, que o mercado subestima os problemas da companhia norte-americana. Com as incertezas sobre a aprovação das autoridades para que o Max volte a voar, analistas preveem que a fabricante francesa continuará a superar sua concorrente norte-americana também em 2020.
As ações de ambas as fabricantes de aviões começaram 2019 com um ritmo acelerado, com cada uma avançando cerca de 35% até fevereiro. Isso mudou em março, no entanto, após o segundo acidente do 737 Max em cinco meses, desencadeando investigações sobre a empresa, colocando em vantagem a único outro produtor de aeronaves comerciais.
Esse duopólio efetivo, no entanto, tornou-se mais nítido, à medida que a Organização Mundial do Comércio considera reivindicações concorrentes dos EUA e da União Europeia de subsídios injustos do Estado às fabricantes. Enquanto o retorno do 737 Max ao serviço será o maior problema da Boeing no próximo ano, o foco da Airbus estará nas consequências da guerra de tarifas, além de problemas de fabricação e motor (as personalizações dos aviões de corpo estreito da Airbus, mesma categoria à qual do 737 Max, provaram ser difíceis de incorporar à linha de produção).
O analista do Citigroup, Charles Armitage, avalia que a oportunidade da Airbus de se beneficiar do aterramento do 737 Max também é limitada, em parte, porque sua família de aviões A320 já está esgotada até pelo menos 2024. Ainda assim, a Airbus arrecadou 542 pedidos de aeronaves em 2019 em comparação com 95 negativos para a Boeing, ajustando-se a cancelamentos e conversões.
O último golpe na Boeing ocorreu na semana passada, quando a United Airlines disse que compraria 50 jatos Airbus A321XLR no valor de mais de US$ 7 bilhões para substituir o antigo Boeing 757-200 em sua frota. Hoje, a participação de mercado da Airbus para aeronaves de corpo estreito é de 58%, ante 56% em janeiro, segundo Benjamin Heelan, analista do Merrill Lynch do Bank of America.
Ainda é incerto quando o Max será liberado para voar. A Boeing disse que espera que os reguladores de segurança da aviação dos EUA aprove o redesenho até o final do ano e finalize novos padrões de treinamento em janeiro. Passado este momento, restará, ainda, o desafio de conquistar o público.
"Está claro para mim que há algo fundamentalmente defeituoso em um avião que exige uma correção elaborada e complexa de software para mantê-lo no ar com segurança", disse Hewson, da CMC. Essa correção pode funcionar em uma aeronave militar onde o piloto é capaz de ejetar, mas é "simplesmente insustentável" em uma aeronave comercial que transporta centenas de passageiros, disse o analista.
Apesar dos desafios atuais, no longo prazo, ambas as empresas devem ganhar com a crescente demanda por viagens aéreas em meio a um movimento mais amplo em direção à urbanização. Espera-se que o tráfego aéreo continue crescendo de 4% a 5% ao ano, disse Pedro Marinheiro, gerente de portfólio da Reyl & Cie. "Se as coisas forem resolvidas na Boeing, o que ainda não é o caso, acreditamos que a incerteza aplicada à ela deve desaparecer progressivamente", acrescentou.