FMI admite erros na análise de dívidas
Uma previsão melhor do FMI teria permitido chamar a atenção para o que se tornou uma custosa e problemática deterioração econômica do país e da zona do euro.
O problema fiscal da zona do euro, com o risco de contágio da dívida grega para outros países, continuou a alimentar a volatilidade das principais bolsas do mundo ontem. No Brasil, a Bovespa chegou a cair 2,6% durante o dia, mas acabou fechando em leve queda de 0,17%, salva por investidores nos últimos minutos antes do fechamento com a notícia de que a China pode comprar títulos da dívida italiana. Na sexta-feira, a bolsa brasileira havia recuado 3,2%. O dólar fechou em alta pelo oitavo dia consecutivo e quebrou a barreira de R$ 1,70 pela primeira vez no ano, fechando em R$ 1,7095.
Ontem foi a vez de os bancos franceses ficarem sob pressão devido às dúvidas sobre o tamanho da exposição dessas instituições diante de um eventual calote grego. A bolsa de Paris teve queda de 4% e bancos considerados "grandes demais para falir", como o BNP Paribas, o Crédit Agricole e o Société Générale, tiveram perdas de até 12%. Autoridades francesas se apressaram em garantir que o setor bancário do país não corre riscos, mas o governo já trabalha com um cenário em que tenha de intervir e colocar dinheiro nas instituições. Pela manhã, a agência de ratings Moodys advertiu que estudava baixar a nota dos bancos franceses porque eles carregam um grande número de papéis gregos e estariam vulneráveis.
Inatividade
A Grécia já recebeu dois pacotes de ajuda da União Europeia desde que ficou claro que o país não teria capacidade para honrar suas dívidas, no ano passado. A última ajuda, anunciada em julho, teve uma boa repercussão no mercado logo após o seu anúncio, mas, desde então, vem crescendo o consenso de que o calote grego é apenas uma questão de tempo. Os títulos públicos com vencimento de dois anos atingiam ontem juros de 73%, taxa considerada altíssima.
"O temor é de que um prejuízo muito grande com os papéis gregos acabe provocando a quebra de um banco francês. Foi assim que começou a crise de 2008, com a quebra do Lehman Brothers", afirma Nastássia Romanó Leite de Castro, economista da corretora Omar Camargo. "O primeiro pacote de ajuda à Grécia era uma solução definitiva. Três meses atrás, a UE concordou em oferecer um segundo pacote, que também seria a solução definitiva. Mas é muito difícil uma solução assim. O grande temor agora não é mais a Grécia, mas o efeito dominó, a contaminação que uma quebra dos gregos pode ter em outros países", diz o economista Mauro Schneider, da Banif Corretora.
Alemanha
De acordo com a mídia alemã, autoridades do país já se reuniram para analisar um plano para minimizar o impacto de um calote grego às instituições bancárias do país. Em longa matéria intitulada "Planos da Alemanha para um Possível Calote Grego", a revista Der Spiegel cita o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, dizendo que não é mais possível salvar Atenas de um calote. A publicação também especula que a saída do país da zona do euro nunca esteve tão próxima.
"Quando a Grécia se for, a próxima pergunta será: qual a força dos demais países para receber ajuda da UE ou da Alemanha? Não muita é a minha atual previsão. Nesse caso, nós vamos ver um efeito dominó, para o bem ou para o mal", afirmou, em seu blog, o economista Tyler Cowen. "Eu me pergunto se a Espanha e Portugal deveriam deixar a UE junto com a Grécia ou pouco depois. Não imagino que o tratamento de precedente do grego vai fazer qualquer um ter um sentimento morno sobre o processo de transição", acrescentou.
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