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Grécia teria três cenários, incluindo default desordenado, segundo o ministro Evangelos Venizelos | Yiorgosa Karahalis/Reuters
Grécia teria três cenários, incluindo default desordenado, segundo o ministro Evangelos Venizelos| Foto: Yiorgosa Karahalis/Reuters

Panos quentes

Default não é opção, diz Angela Merkel

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, disse que o default da Grécia não é uma das opções disponíveis para solucionar a crise. "Um default grego traria o risco de um efeito dominó incontrolável", disse Merkel, segundo a agência de notícias Reuters. O comissário de Mercados Internos da União Europeia, Michel Barnier, também insistiu ontem que a Grécia pode evitar um eventual default. "Nós acreditamos que, com os esforços significativos e dolorosos que a Grécia está fazendo e a solidariedade que temos, nós podemos evitar o default, que teria consequências muito sérias", disse Barnier em entrevista à rádio francesa Europe 1.

"Crise de confiança"

"Círculo vicioso" alimenta risco global, diz FMI

Os riscos de baixa para a economia global estão se acumulando, criando uma crise de confiança nos mercados no mundo inteiro, alertou ontem a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, na abertura formal das reuniões anuais do FMI.

"As notícias ruins são de que há riscos de baixa [para a economia] no horizonte, e eles estão se acumulando", disse Lagarde para ministros das Finanças e representantes dos bancos centrais na sessão plenária do FMI. "Elas [as notícias] são impulsionadas por um círculo vicioso negativo – entre um frágil crescimento; balanços orçamentários ruins entre governos, bancos e consumidores; e um comprometimento político ineficiente", acrescentou. A diretora-gerente do FMI afirmou que esse círculo vicioso criou a crise de confiança.

Os mercados despencaram nos últimos dias em meio a crescentes temores de uma segunda recessão e um colapso financeiro global. Lagarde disse que o FMI precisa reconsiderar a habilidade do fundo para realizar empréstimos. "Nós esperamos discutir com nossos membros sobre como nós podemos ajudar a fortalecer nossos empréstimos e nossa rede de segurança financeira global", afirmou.

Apesar de o ministro de Finanças da Grécia, Evangelos Venizelos, ter dito ontem a parlamentares do seu partido que o país enfrenta o risco de um default desordenado, segundo um jornal grego, os principais índices do mercado de ações da Europa fecharam em alta, recuperando perdas que registraram ao longo da sessão para terminar no positivo.

As ações de bancos lideraram os ganhos, após comentários de formuladores de políticas europeus mostrarem um compromisso em manter a estabilidade financeira, reduzindo os temores sobre a situação da dívida da Grécia. Londres, Paris e Frankfurt se recuperaram no fim do pregão, após investidores encontrarem conforto no fato de o Banco Central Europeu (BCE) poder tomar ações para lidar com a crise da dívida na região, se necessário.

Traders disseram que o BCE pode retomar as operações de liquidez de 12 meses e comprar bônus no mercado secundário para aliviar as tensões no sistema financeiro. "O BCE está relutantemente tomando um papel mais ativo no apoio ao sistema bancário, e será interessante ver como isso se desenvolve ao longo das próximas semanas", disse Gavan Nolan, diretor de pesquisa de crédito da Markit.

Como resultado, as ações dos bancos se recuperaram, apoiadas também por declarações do presidente do Banco Central da Alemanha, Jens Weidmann, também membro do conselho do BCE, de que o BCE cumprirá suas responsabilidades para fornecer ao sistema bancário a liquidez necessária.

Default

De acordo com o jornal Ta Nea, o ministro Venizelos havia apresentado aos parlamentares do Partido Socialista três cenários possíveis para a Grécia. No primeiro, a Europa seguiria adiante com os compromissos assumidos em uma reunião de cúpula de 21 de julho, estendendo um novo pacote de ajuda aos gregos, no valor de 109 bilhões de euros, mas incluindo o oferecimento aos credores do país de um programa voluntário de troca da dívida.

No segundo cenário, a Grécia não conseguiria chegar a um acordo com seus credores internacionais nos próximos dias, o que levaria o governo grego a ficar sem dinheiro no meio de outubro e o obrigaria a um default desordenado. Sem citar fontes, o Ta Nea relata que Venizelos também indicou uma terceira opção para o país, que incluiria uma reestruturação ordenada da dívida grega, mas com os credores enfrentando uma perda de 50%. Tal cenário seria acordado com os credores e permitiria a permanência da Grécia na zona do euro, diz o jornal. O Ta Nea acrescenta que esse cenário parece estar ganhando terreno no restante da Europa.

O primeiro-ministro George Papandreou, no entanto, cobrou cautela das autoridades nos comentários feitos sobre cenários de default, acrescentando que "todos os nossos esforços no momento são para finalizar o acordo de 21 de julho". O segundo pacote de resgate para a Grécia ainda precisa da anuência dos Parlamentos de todos os membros do bloco.

Italianos jogam a responsabilidade para a Alemanha

O ministro de Finanças da Itália, Giulio Tremonti, cobrou ontem que a Alemanha supere seu ceticismo e aja decisivamente para resolver a crise na zona do euro. Falando em Washington, durante a realização das reuniões anuais do Fundo Monetário Interna­cional (FMI) e do Banco Mundial, ele deu a entender que o G-20 enfrenta uma falta de clareza sobre os passos a adotar para evitar uma repetição da crise financeira de 2008.

"Três anos atrás, o G-20 conseguiu conter a crise. Agora tudo depende da Europa, e a Europa depende da Alemanha, e a Ale­manha depende da habilidade de superar sua incerteza e entender que a Europa é um bem comum", disse em uma entrevista para emissora de televisão italiana Sky TV. "Há uma grande confusão e preocupação no mundo, o que se reflete nos trabalhos do G-20. Na Europa, é mais ou menos o mesmo. Na verdade, a Europa é a origem da confusão e preocupação que está dominando o mundo", disse.

Com o aumento dos receios sobre um default da Grécia, o G-20 divulgou na noite de quinta-feira um comunicado prometendo ações "fortes e coordenadas" para estabilizar o sistema financeiro e assegurar o crescimento econômico, mas sem propor nenhuma medida concreta.

Seis semanas

O ministro das Finanças do Reino Unido (que não faz parte da zona do euro), George Osborne, afirmou que a zona do euro tem seis semanas para resolver a crise por que passa, alertando para o fato de que os bancos da região precisam de apoio e o mecanismo de resgate da zona do euro deve aumentar seu poder de ação. "A zona do euro tem seis semanas para resolver sua crise", disse ele, referindo-se à reunião do G-20 em Cannes, na França, no começo de novembro.

Falando a jornalistas à margem da reunião desta semana do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Washington, Osborne disse que a pressão internacional para a zona do euro agir rápido está aumentando e os líderes da região estão cientes de que "o tempo está acabando para eles". "Há pressão agora na zona do euro de toda a comunidade internacional, e isso foi sentido ontem à noite", disse ele, referindo-se ao jantar dos ministros das Finanças do G-20 em Washington, na quinta-feira. Os­­borne também disse que a zona do euro precisa resolver rapidamente os problemas de seus bancos.

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