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O PIB brasileiro pode registrar incremento de US$ 1,2 trilhão até 2035 com a implantação do 5G no país. A estimativa é da consultoria especializada Omdia, em estudo sobre América Latina contratado pela Nokia, uma das principais fornecedoras mundiais de equipamentos para redes móveis. O valor equivale a cerca de R$ 6,5 trilhões, ou quase 90% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2020.
Conforme o levantamento, a quinta geração de telefonia móvel representa oportunidade de aumento de produtividade, queda nos custos e surgimento de novos modelos de negócios, com consequente crescimento econômico de, em média, 5% nos próximos 15 anos.
Mais do que uma simples evolução do 4G, o 5G pode ser considerado uma tecnologia nova e que promete impactos significativos nos usos da internet graças a características-chave como alta velocidade de conexão e baixa latência (tempo de resposta). Com a circulação ultrarrápida de dados, a novidade beneficiará o usuário comum, com mais estabilidade e rapidez, mas a revolução do 5G é esperada para os setores produtivos.
A expectativa se explica porque os usos comuns de entretenimento, consumo de dados como vídeos, mensagens e outros já são considerados suficientemente bem atendidos pelo 4G, que tinha como foco a conexão entre pessoas. Na quinta geração, o avanço de conexão é entre dispositivos.
De acordo com o estudo da Omdia para a Nokia, os principais setores a serem beneficiados pelo 5G no Brasil são tecnologia da informação, governo, manufatura, serviços, varejo, agricultura e mineração.
5G é oportunidade de aumento na produtividade e redução nos custos
Aplicações como a efetiva chegada dos carros autônomos às ruas ou cirurgias a distância, com a utilização de braços robóticos, ficam para o futuro. Em dias mais próximos, espera-se a automação otimizada nas linhas de produção da indústria, com emprego de inteligência artificial e "machine learning" para agilizar a tomada de decisões, dar mais confiabilidades a controles de estoque, aprimorar a logística e até garantir economia de energia.
O agronegócio pode se beneficiar com maior precisão no controle de solo, monitoramento de rebanhos, controle de pragas e estimativas mais finas de safra e produção. Medidores espalhados pelas plantações poderão enviar informações detalhadas, em tempo real, permitindo ajustar com precisão as necessidades de irrigação; drones acompanharão do alto a situação das propriedades, com mais condições de perceber riscos sanitários e captar dados para orientar a colheita, com potencial para ganhos de eficiência e redução de custos.
O uso da tecnologia pode, ainda, servir como ferramenta para ampliar o acesso a saúde e educação no país, com avanços importantes para a telemedicina e o ensino à distância. Como o 5G traz mais confiabilidade devido à rapidez na transmissão dos dados, monitoramentos de saúde em tempo real se tornam possíveis, e entraves para o EaD devem ser reduzidos, com mais estabilidade de transmissão.
Ainda que não tragam resultado econômico imediato, são avanços com capacidade de impacto significativo, uma vez que envolvem formação de mão de obra e bem-estar da população economicamente ativa.
Em parte, já existem utilizações do tipo atendidas pelo 4G, Wi-Fi ou mesmo por redes cabeadas, mas "não aquelas que são verdadeiramente transformadoras e trarão os saltos de produtividade de que a região necessita", de acordo com o estudo da Omdia. Outro levantamento, da Deloitte, aponta o 5G como base para a inovação e transformação, com rápido avanço de importância estratégica, especialmente para os negócios.
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Promessas do 5G dependem de acesso
Cabe destacar, entretanto, que colher frutos das promessas do 5G depende do acesso à tecnologia.
No campo, por exemplo, ainda há áreas sem qualquer conexão e que devem se beneficiar, de saída, do acesso ao 4G, listado como compromisso das vencedoras do leilão. A tendência a partir daí é de que a aposta na expansão tecnológica atraia a atenção dos produtores, com interesse por expandir o uso da tecnologia após a percepção de ganhos de produtividade.
Com isso, a demanda pelo 5G no agro promete subir, mas ainda enfrentará outro desafio da nova tecnologia no país-continente: com a tecnologia operada em bandas de alta frequência, que cobrem curtas distâncias, as antenas precisarão ser mais próximas, e consequentemente mais numerosas.
Para a Bell Labs, empresa de pesquisa industrial ligada à finlandesa Nokia, o 5G pode contribuir com um salto significativo de produtividade, especialmente a partir de 2029, quando as tecnologias constituintes deverão atingir 51% de penetração.
O leilão realizado pela Anatel foi o primeiro passo, mas o 5G ainda demora a chegar a todos os brasileiros. Para que o sinal fique disponível será necessário erguer infraestrutura compatível em todo o país, investimento que está estimado em R$ 40 bilhões e será realizado pelas empresas que arremataram lotes para a operação.
Conforme os compromissos estabelecidos no edital de concessão das frequências de operação, as capitais e o Distrito Federal devem contar com a cobertura até meados de 2022 e a expansão para os demais municípios acontecerá de forma gradual até o prazo máximo da adoção da tecnologia, que é julho de 2029.