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De acordo com o levantamento, apenas um terço das micro e pequenas indústrias está operando plenamente.| Foto: Arquivo/Gazeta do Povo

Apesar de indicadores recentes sugerirem uma retomada mais forte que a esperada na economia brasileira, setores importantes como o das micro e pequenas indústrias atravessam um quadro de aprofundamento da crise. É o que mostra uma pesquisa realizada pelo Datafolha para o Sindicato das Micro e Pequenas Indústrias de São Paulo (Simpi), que concentra 42% das empresas do setor em todo o Brasil.

A última edição do levantamento revela um nível histórico de pessimismo entre os empresários, que enfrentam um quadro de demissões, queda em vendas, elevação de custos e falta de crédito. A expectativa é de uma elevação na taxa de desemprego para 69% dos entrevistados, maior taxa desde março de 2016.

Realizada mensalmente desde março de 2013, a pesquisa é tida como um antecipador de tendência por atestar a situação de um importante elo da cadeia produtiva. Considerando toda a indústria, as micro e pequenas empresas respondem por 60% dos postos de trabalho no Brasil, segundo o Simpi.

Conforme o levantamento, 77% das empresas apontam preocupação com um quadro de inflação. O custo da matéria prima é considerado o maior problema para 87% das empresas ouvidas, seguida por atraso na entrega de material, apontado por 65% dos empresários. O aumento nas contas de energia elétrica, por exemplo, afetou 84% das empresas, enquanto o preço do transporte prejudicou 78% da categoria.

Apenas 8% das empresas estão conseguindo repassar totalmente essa elevação nos custos, enquanto 69% embutiram uma parte para o preço dos produtos ou serviços e 18% absorveram totalmente, enquanto 5% não tiveram alta de despesas.

Entre os que procuraram alguma linha de financiamento, 72% tiveram acesso ao crédito negado, mostra a pesquisa. “No ano passado, o governo anunciou o Pronampe [Programa Nacional de Apoio às Micro e Pequenas Empresas] como a solução para o problema, mas infelizmente isso não reflete a realidade”, diz o presidente do Simpi, Joseph Couri.

Outras pesquisas corroboram o quadro. De acordo com dados do painel Emprestômetro, do Sebrae, 517 mil empresas tiveram contratos assinados no Pronampe. “Em um universo de 7 milhões de micro e pequenas empresas, isso significa que apenas 7,4% acessaram a linha de crédito.”

Só um terço das fábricas está funcionando plenamente

A falta de recursos financeiros somada à queda nos volumes de vendas e às medidas restritivas adotadas em razão da pandemia do novo coronavírus foram fatores que afetaram diretamente a operação das fábricas. De acordo com o levantamento, apenas 33% das micro e pequenas indústrias estão funcionando plenamente. Das restantes, 10% estão completamente paradas, 26% têm a maior parte inativa e 30% estão com uma parte sem operar.

Diante do cenário, entre as micro e pequenas indústrias, 25% tiveram de demitir ou reduzir quadro e/ou jornada de seus funcionários. “Assim, temos nitidamente uma perda de poder aquisitivo. Tudo isso leva a um quadro de recessão”, diz Couri.

Retomada será desigual, diz presidente do Simpi

Os números contrastam com indicadores como o do PIB trimestral, divulgado no dia 1.º e que mostra elevação de 1,2% na atividade econômica do país em relação aos últimos três meses de 2020. Já o boletim anual do Mapa de Empresas, do Ministério da Economia, mostra que houve abertura de 3,3 milhões de empresas em 2020 contra o fechamento de 1 milhão.

“Mesmo durante a pandemia, há setores que foram altamente beneficiados. O de alimentos, até dezembro do ano passado, teve um forte aumento no consumo, impulsionado principalmente pelo auxílio emergencial”, diz o presidente do Simpi. “A área de embalagens teve um crescimento expressivo em função do delivery. Também houve pequenas movimentações na construção civil, com aumento nas obras em residências. A retomada também se dará de forma desigual, sem sombra de dúvidas.”

Em relação ao registro de empresas, Couri avalia que os números só vão refletir o atual cenário daqui a alguns meses. “Os dados de aberturas de empresas nas juntas comerciais sãos indiscutíveis, mas o fechamento, pelo caminho normal, demora em média de seis meses a um ano para ser finalizado”, explica.

Para Couri, o resultado desse quadro será uma quebra na cadeia produtiva, cenário já apontado pela pesquisa – cerca de 40% das empresas perderam fornecedores em razão de processos de falência ou de recuperação judicial, enquanto 45% perderam clientes pelas mesmas razões. “Na economia não existem ilhas isoladas de prosperidade, o que você pode ter são tendências.”

Para ele, a retomada dependerá diretamente da vacinação da população contra o novo coronavírus. “Enquanto existir a possibilidade de sair de casa e pegar Covid, pode até haver uma pequena elevação no consumo em relação aos patamares atuais, mas a volta aos níveis pré-pandemia acredito que ocorrerá somente após o domínio da doença.”

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