Um protesto contra custos elevados do setor de transportes entrou nesta sexta-feira (20) em seu terceiro dia, interrompendo por tempo indeterminado o fluxo de cargas em pelo menos 11 pontos de Mato Grosso e do Paraná, começando a ameaçar o fornecimento de soja para indústrias e portos nos próximos dias.
Nesta sexta-feira, os bloqueios começaram pela manhã em quatro pontos da BR-163, responsável por escoar 70% da safra de grãos de Mato Grosso, em Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Sorriso e Sinop, segundo a Rota do Oeste, concessionária da rodovia.
"A fila de veículos nos locais bloqueados chega a quatro quilômetros", disse a empresa.
Também há bloqueios nesta sexta na BR-364, em Campo Novo dos Parecis e Rondonópolis, e na MT-358, em Tangará da Serra.
Protestos interrompem ainda o fluxo de cargas em três pontos da BR-163 no Paraná, em Capitão Leônidas Marques, Pérola do Oeste e Santo Antônio do Sudoeste, e na BR-277, em Medianeira, todos no sudoeste do Estado, segundo a Polícia Rodoviária Federal.
"Está tudo parado. Em três ou quatro dias vai começar a dar problema para as indústrias que tenham estoques mais apertados, com repercussão também nos portos", disse à Reuters um gerente de armazém de uma trading multinacional de grãos em Nova Mutum, que pediu anonimato por não ter autorização para falar com a imprensa.
Segundo ele, caminhões com a soja que está sendo colhida são autorizados a chegar até os silos, mas carretas com destino a indústrias e portos estão sendo bloqueadas.
Entrave nos negócios
Os temores de haver atrasos na chegada de cargas nos portos, num momento em que o mercado internacional de soja volta-se para o Brasil, estão travando os negócios no mercado à vista de soja, disse o analista da Informa Economics FNP, Aedson Pereira.
Na avaliação dele, as tradings estão evitando repassar para os produtores as recentes altas das cotações da soja na bolsa de Chicago e do dólar, tentando precaver-se de eventuais gastos com multas por atrasos nos embarques nos portos.
"Querendo ou não, isso (paralisação de caminhões) baliza o mercado de forma negativa. A queda de braço (entre compradores e vendedores), que poderia ser menos intensa, está acirrada pelo gargalo logístico", avaliou Pereira.
Os produtores, por sua vez, pedem preços mais elevados, de olho em Chicago e no câmbio e com a memória de cotações melhores na safra passada, o que trava as negociações.
A colheita de soja já avança para cerca de um quarto da área plantada em importantes regiões produtoras, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná, alcançando 15% das lavouras na média do país.
Críticas
A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), que reúne as principais exportadoras e esmagadoras de soja do país, condenou a realização dos protestos.
"Apesar de entender e apoiar a reivindicação dos caminhoneiros visando à redução de custos, a Abiove considera ilegais as tentativas de tabelamento de preços dos fretes, pois contrariam o princípio da livre concorrência", disse a entidade, em nota.
A Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja MT) disse na noite de quinta-feira que o direito de manifestação é justo, mas que é preciso que os transportadores entendam que Mato Grosso está no período de pico de safra e que a radicalização neste momento pode atingir outros elos da cadeia.
"Precisamos que as propriedades sejam abastecidas com óleo diesel e ter garantido o transporte da soja para os armazéns", disse o presidente da Aprosoja, Ricardo Tomczyk, em nota.