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Futuro da economia

Queda do investimento cria barreira contra o avanço do PIB nos próximos anos

Investimento produtivo
Baixo investimento em máquinas e equipamentos inibe o crescimento do PIB nos próximos anos. (Foto: Sergio Lima/CNI)

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A economia brasileira cresce a taxas próximas a 3% ao ano desde 2021, mas uma expansão dessa ordem pode ficar mais difícil de agora em diante. O principal motivo é a dificuldade do país de elevar o investimento produtivo.

A chamada formação bruta de capital fixo (FBCF), componente do PIB que reflete as despesas com construção civil, máquinas e equipamentos, já não era das mais altas. E está em queda há um ano. Em quatro trimestres, do quarto de 2022 ao terceiro de 2023, acumulou retração de 1,1%. Enquanto isso, o Produto Interno Bruto (PIB) avançou 3,1% no mesmo período, puxado principalmente por consumo das famílias, gastos do governo e exportações.

Segundo o IBGE o investimento no terceiro trimestre de 2023 correspondeu a 16,6% do PIB, abaixo da taxa de igual período de 2022 (18,3%).

É menos que o necessário para que uma economia emergente – como o Brasil – possa repor a deterioração da infraestrutura existente, ampliar sua capacidade de produção e crescer sem gerar pressões inflacionárias. Quando o investimento é pouco, portanto, no médio e longo prazo o país depara com limites ao crescimento.

O Banco Central expôs sua preocupação com a combinação de alta do consumo e queda do investimento na ata da última reunião de seu Comitê de Política Monetária (Copom): “A persistência de uma conjunção de maior resiliência de consumo e queda no investimento poderia provocar, no médio prazo, um excesso de demanda em relação à oferta, com potenciais impactos sobre os preços”, diz o documento.

Economistas costumam apontar como ideal uma taxa de investimento de pelo menos 20% do PIB. Para que a economia de um país possa crescer 5% ao ano de forma sustentável, por exemplo, seria necessária uma FBCF próxima de 25% do PIB.

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Juro alto é só um dos vilões

Um dos principais vilões, apontam economistas e executivos ouvidos pela Gazeta do Povo, é a taxa de juros brasileira. Historicamente elevada, ela faz com que muitas vezes seja mais rentável e sem risco deixar o dinheiro aplicado no banco ou em títulos públicos do que investir na expansão e modernização das atividades.

"Temos uma das mais altas taxas de juros do mundo", diz o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso.

Em outubro, por exemplo, a taxa básica (Selic) estava em 12,25% ao ano. No mesmo mês, a taxa média de financiamentos com recursos do BNDES estava em 11,64% e o custo de capital de giro com prazo de pagamento de até 365 dias, em 23,84%.

Mas não é só o juro elevado o determinante das baixas taxas de investimento, diz o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale. Ele aponta que um aspecto fundamental – mas escasso no país – é a estabilidade macroeconômica.

O Brasil também sofre com outros problemas relacionados ao ambiente de negócios. É o caso da extrema rigidez jurídica, o complexo sistema tributário, a economia muito regulada e a pouca abertura ao exterior.

"O empresário quer saber qual vai ser o seu lucro líquido livre de impostos. Enquanto não houver uma solução para isso, ele vai ficar bastante temeroso", diz o coordenador de contas nacionais do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), Claudio Considera.

Vale diz que não há uma solução mágica para resolver o problema do baixo investimento produtivo no Brasil. Ele avalia que os passos dados para resolver esse problema têm sido pequenos. “É um avanço a conta-gotas. Às vezes se dá um passo para frente e se volta dois atrás.”

Reflexos do baixo investimento produtivo

O baixo investimento se reflete no desempenho de segmentos produtores de bens de capital. "Não tem havido expansão em segmentos como produção de caminhões, máquinas e equipamentos e na construção", lamenta Considera, do FGV Ibre. Dados do Registro Nacional de Veículos Automotores (Renavam) mostram que houve uma queda de 14,4% no licenciamento de caminhões no período janeiro a novembro, comparativamente aos mesmos meses de 2022. Foram matriculados 97,7 mil veículos desse tipo.

A maior queda está entre os caminhões pesados, o segmento de maior importância. Foram 47,7 mil veículos emplacados nos 11 primeiros meses do ano, 11,2% menos que em igual período do ano passado.

Segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), além dos juros elevados, também pesou a forte antecipação de compras de caminhões ocorrida em 2022, na esteira da nova fase de legislação de emissões que elevou os custos dos produtos.

Outro segmento relacionado ao investimento que não está em um bom momento é o de máquinas e equipamentos. A produção física caiu 10,6% no ano até outubro em comparação com o mesmo período de 2022, aponta o IBGE.

"O custo de oportunidade para investir não é dos melhores. O Tesouro Direto oferece remunerações elevadas, sem risco, para os títulos públicos, e o retorno do investimento é insuficiente para pagar os juros", diz o presidente da Abimaq.

Um dos segmentos onde isso é mais evidente é no agronegócio. Mesmo com a safra recorde de 320 milhões de toneladas neste ano, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a venda de máquinas agrícolas, como tratores e máquinas agrícolas, caiu 11,8% no comparativo entre os dez primeiros meses de 2022 e 2023.

Além do juro alto, pesam outros fatores no campo. Velloso cita o forte desempenho em 2021 e 2022, quando, devido à alta nas commodities, houve um grande crescimento nas compras de máquinas e implementos agrícolas por parte dos produtores rurais, e a queda de renda no campo em 2023.Quem também vem entre idas e vindas é a indústria da construção civil. Dados do IBGE mostram que ela vai encerrar o ano operando 16,7% abaixo do pico registrado em 2013, antes da forte recessão que o Brasil passou entre 2014 e 2016.Os dois principais problemas enfrentados pelo setor, segundo sondagem setorial realizada no terceiro trimestre pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), são as taxas de juro elevadas e a alta carga tributária.

Tendências do investimento produtivo para 2024

Mesmo com a queda na taxa Selic – que teve sua quarta redução consecutiva em dezembro, passando para 11,75% ao ano –, não se espera uma forte recuperação no investimento para 2024, destaca Gabriel Fongaro, economista sênior do banco Julius Baer Brasil.

As expectativas são de um desempenho modesto. A mediana das projeções de bancos e consultorias é de um crescimento de 1,4% na FBCF em 2024, segundo o levantamento do Banco Central datado de 22 de dezembro. Mas a CNI, por exemplo, espera crescimento ainda mais fraco, de 0,5%.

Segundo a confederação industrial, obras de infraestrutura deverão dar impulso à indústria da construção. Além disso, a aprovação da reforma tributária e as taxas de juros mais baixas deverão permitir que alguns planos de investimento saiam do papel.

A indústria de máquinas e equipamentos também projeta uma retomada modesta no investimento produtivo. Velloso, da Abimaq, avalia que os segmentos que mais devem se destacar no próximo ano são aqueles mais relacionados ao consumo das famílias. "Está havendo uma recuperação da renda, o que pode favorecer investimentos na indústria de alimentos, bebidas e embalagens", diz.

Quem também pode se mostrar atraente no próximo ano é a indústria extrativa, especialmente a do petróleo, o que pode favorecer encomendas à indústria.

A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) cita fatores que podem estimular o setor:

  • a continuidade do processo de queda de juros;
  • o início de um novo ciclo de crescimento em função das novas condições do programa Minha Casa, Minha Vida;
  • o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC); e
  • o ano eleitoral.

As expectativas da entidade são de que o PIB setorial cresça 1,3% no ano que vem. O cenário não será melhor, segundo a Câmara, por causa dos juros, que devem permanecer ainda em níveis elevados; o menor ritmo de crescimento da economia; e o endividamento das famílias.

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