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O Brasil que cresce

Transformação digital acelerou o setor de TI na pandemia. Desafio agora é preencher vagas

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LogComex, que fornece soluções para comércio exterior, pretende multiplicar o faturamento por quatro em 2021 e por três em 2022. (Foto: Guilherme Pupo/Divulgação)

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Da adoção massiva do home office à explosão das vendas online, a pandemia provocou, em questão de meses, mudanças sem precedentes na vida e nas necessidades de empresas, trabalhadores e consumidores. Não por acaso, um dos setores que mais se destacou de 2020 para cá foi justamente o de tecnologia da informação e comunicação, um dos responsáveis por dar suporte a uma transformação digital que, por força das circunstâncias, foi muito mais rápida do que se esperava até 2019.

A prestação de serviços no segmento cresceu 16,6% no acumulado de 12 meses até junho, em comparação a igual período anterior, aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E, de acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), nos quatro primeiros meses do ano o setor abriu 69 mil postos de trabalho, 10 mil a mais do que em todo o ano de 2020. Um dos desafios, agora, é encontrar gente qualificada para preencher as próximas vagas – até porque o segmento cresce no mundo todo, e empresas estrangeiras buscam profissionais onde for preciso, inclusive no Brasil.

Não foi uma onda fácil de surfar, no entanto. Em maio do ano passado, o desempenho do setor estava 2,9% abaixo do registrado no mesmo mês de 2019. “Precisamos redesenhar nossa estratégia e focar mais no relacionamento com nossos parceiros. Nosso propósito foi o de estar no final da lista de cortes de custos dos clientes”, diz Marcio Tomelin, diretor de produto e mercado da WK, especializada em sistemas de gestão empresarial (ERP, na sigla em inglês).

Mesmo com o cenário adverso ao fim da primeira metade de 2020, a empresa conseguiu um crescimento de 15,3% nas vendas no comparativo entre os semestres iniciais de 2019 e daquele ano. O quadro de funcionários aumentou 20% durante a pandemia. Atualmente são 188, e a empresa, sediada em Blumenau (SC), espera abrir mais 30 postos de trabalho até o fim do ano.

Algumas estratégias adotadas pela empresa catarinense foram intensificar o uso da tecnologia de nuvem, trabalhar com apps para facilitar a mobilidade, desenvolver sistemas de apoio para a gestão de documentos e criar soluções para facilitar a comunicação dentro do ERP.

Helmuth Hofstatter, CEO da provedora de soluções para comércio exterior LogComex, de Curitiba, destaca que, passado o primeiro susto, a Covid-19 veio para deixar um legado que beneficia o segmento de TI como um todo: “As empresas aproveitaram a oportunidade para promover a redução de custos, a digitalização e a ampliação da produtividade”.

Outro impacto gerado pela pandemia, segundo o executivo, foi a necessidade de aprender a trabalhar com dados. “É um caminho sem volta. Os processos mudam todo dia. Tornou-se fundamental para manter a competitividade.”

Ao longo do segundo semestre, a empresa deve abrir pelo menos 100 postos de trabalho. Em franca expansão, a empresa tem expectativa de multiplicar o faturamento por quatro neste ano e, no ano que vem, triplicar as receitas.

Expectativas favoráveis

As perspectivas para os próximos anos são favoráveis para o segmento da tecnologia da informação. Estudo feito pela consultoria Gartner aponta que, em 2023, serão movimentados US$ 30 bilhões em produtos e serviços que não existiam antes da pandemia. Outro levantamento mostra, em 2025, 80% das transações entre empresas serão feitas por canais digitais.

A tendência de arrefecimento da economia em 2022 não preocupa os executivos de TI. Previsões coletadas pelo Banco Central e publicadas no relatório Focus, na última segunda-feira (16), sinalizam para uma expansão de 5,28% no PIB, em 2021, e de 2,04%, em 2022.

Adriano Kasburg, diretor comercial da Supero Tecnologia, de Florianópolis, especializada no fornecimento de equipes de TI para projetos sob demanda, aponta que o setor é diferente de outros ramos de atividade econômica. Segundo ele, é uma atividade meio, voltada para criar mecanismos para vender mais e economizar.

“Há também uma mudança, em curso, do comportamento do consumidor”, destaca Adriano Kasburg. As principais características desta transformação são uma economia low touch – que independe do contato presencial entre vendedor e cliente – e um direcionamento das compras para o modelo omnichannel, com saída do ponto de venda físico. Segundo o executivo, as empresas precisam fazer essa transformação digital rapidamente. “Isto vai gerar uma explosão na busca de profissionais de TI”, diz.

O presidente da Associação Catarinense de Tecnologia (Acate), Iomani Engelmann, aponta que a pandemia também acelerou a discussão e a definição de marcos regulatórios, em questões como a telemedicina e a digitalização de documentos. Por outro lado, mostrou deficiências na infraestrutura.

Temas como a tecnologia 5G, que pode entrar em operação em algumas capitais ainda neste ano, caso ocorra o leilão das frequências, devem dar mais impulso ao setor e ampliar a expansão do segmento de TI no interior do país.

Com isso, diz ele, o setor deve ganhar mais visibilidade. Doze empresas ligadas direta ou indiretamente à tecnologia da informação entraram na B3 neste ano para abrir seu capital.

E o ramo continua puxando a liderança nas operações de fusões e aquisições. Um levantamento feito pela empresa de consultoria PwC aponta que, apenas em março, foram realizadas 159 transações envolvendo empresas de TI. É 130% a mais do que no mesmo período de 2020. O valor transacionado no ramo corresponde a 58% dos negócios fechados em todas as áreas da economia.

Um dos maiores negócios envolveu a aquisição, por parte da Totvs, de 92% da participação na catarinense RD Station, desenvolvedora de software voltado para marketing digital, pelo valor de R$ 1,8 bilhão.

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Mão de obra: um desafio para o setor

Um dos principais desafios do ramo é encontrar mão de obra qualificada. A demanda está bem aquecida mundialmente, com empresas estrangeiras procurando, inclusive, profissionais no Brasil.

“Países como Austrália, Estados Unidos, Nova Zelândia e Portugal estão facilitando a entrada de profissionais de TI”, conta Christina Curcio, sócia da Icon Talent, uma agência curitibana de recrutamento e seleção especializada na área. Ela aponta que os brasileiros têm uma característica que agrada às empresas do segmento: a facilidade para trabalhar com culturas diferentes.

São vários os perfis necessários no atual cenário, apontam os executivos do setor ouvidos pela Gazeta do Povo. Os mais requisitados são os desenvolvedores. Mas também há grande demanda por cientistas de dados, profissionais de inteligência artificial, gerentes de projeto e de produtos, especialistas em cloud computing e em segurança da informação.

Tomelin, da WK Sistemas, aponta que a pandemia da Covid, acelerou um problema que já era recorrente. “As empresas passaram a buscar mais diferenciais competitivos e a tecnologia foi uma das principais fontes.”

Ele aponta que a questão da mão de obra pode segurar a expansão de crescimento se a dificuldade persistir. “Por enquanto, estamos nos baseando na escalabilidade dos negócios."

Não bastasse isso, afirma Kasburg, há a necessidade de as empresas se adequarem à LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), ao open banking – que estreou uma nova fase no último dia 13 – e ao novo marco regulatório do setor elétrico. “É muita mudança em um pouco espaço de tempo”, afirma o diretor da Supero.

Esta é a quinta reportagem da série "O Brasil que cresce", que apresenta alguns dos setores que mais avançam no país. Acompanhe a série neste link.

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