O Brasil deve dar o exemplo e responder com mais dureza às medidas protecionistas da Argentina, pediu nesta segunda-feira (7) a União Europeia (UE), ao criticar a "reação tímida" do governo de Dilma Rousseff até agora.
Apesar de o "Brasil ter sido duramente golpeado" por grandes obstáculos que o governo argentino impôs às importações, "seus dirigentes tiveram uma reação tímida demais", disse nesta segunda-feira o comissário europeu de Comércio, Karel De Gucht, durante conferência sobre as relações entre Brasil e a UE em Bruxelas.
A UE considera que o governo brasileiro "deveria justamente ter tomado o caminho oposto, deveria estar levantando a voz e dando o exemplo", enfatizou o comissário europeu.
A Argentina impôs em fevereiro um mecanismo que obriga a fazer uma declaração juramentada antes de autorizar a entrada de produtos de outros países, uma medida fortemente criticada pela indústria brasileira, que a considera uma barreira ao comércio.
Contudo, as autoridades brasileiras optaram pela discrição sobre os obstáculos argentinos.
Depois de um recorde histórico no comércio bilateral em 2011, as exportações do Brasil a Argentina somaram US$ 1,351 bilhão em abril, 23% a menos que um ano antes, informou na semana passada o Ministério do Comércio brasileiro.
"Ao mesmo tempo, o Brasil aprovou medidas bastante questionáveis como uma taxa discriminatória à importação de veículos, uma exigência de conteúdos locais no setor de telecomunicações e procedimentos muito complicados para a importação de têxteis", criticou De Gucht.
A presidente brasileira defendeu estas medidas durante a cúpula das Américas, realizada na Colômbia em meados de abril, argumentando que a zona do euro reagiu à crise econômica através de uma expansão monetária, provocando um "tsunami" que valoriza a moeda brasileira e afeta a competitividade da indústria nacional.
"É claro que temos que tomar medidas para nos defender (...). Não podemos deixar que nossos setores manufatureiros sejam canibalizados", afirmou Rousseff na ocasião.
De Gucht se mostrou otimista com o "avanço" das negociações entre o bloco europeu e o Mercosul a partir de julho, durante a presidência rotativa do Brasil.
Mas as "negociações não se limitam à troca de produtos agrícolas e industriais entre o Brasil, o Mercosul e a UE", disse o comissário, que avaliou que o aumento das trocas comerciais poderia ser de 9 bilhões de euros com a aprovação de acordo com o bloco sul-americano, formado com Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, e a Venezuela em processo de adesão de pleno direito.