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Indústria automobilística

Dúvida sobre teto de gastos afeta empresa, consumidor e sistema, diz presidente da Volks

Linha de produção do Nivus, da Volkswagen: com 97% das concessionárias abertas, vendas de veículos se recuperam aos poucos, mas ainda estão abaixo dos níveis de 2019. (Foto: Divulgação/Volkswagen)

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A falta de confiança dos investidores sobre o teto de gastos do governo federal afeta empresa, consumidor e todo o sistema, avalia o presidente da Volkswagen do Brasil, Pablo Di Si. Um dos canais de transmissão dessa insegurança, segundo ele, é a taxa de câmbio, que encarece os componentes dos veículos.

"Temos um problema global, que é a pandemia, e uma falta de confiança dos investidores sobre o teto de gastos. Quando você tem isso, veja o que acontece com o dólar", disse o executivo da Volkswagen em videoconferência com jornalistas na tarde desta sexta-feira (28), deixando claro que não comenta política, apenas economia.

"À medida que temos mais tecnologia em nossos veículos, o conteúdo importado infelizmente aumenta. O Brasil não tem certos componentes nacionalizados. Temos que importar. Transmissão automática, por exemplo. Quando você tem uma escalada cambial, afeta empresa, afeta consumidor e afeta o sistema como um todo", prosseguiu Di Si.

O dólar comercial chegou a subir quase 10% em pouco mais de um mês, em meio à pressão de ministros por mais gastos do governo e o vaivém das declarações de Jair Bolsonaro sobre o tema. Na quarta (26), após críticas públicas do presidente ao plano do ministro Paulo Guedes para o Renda Brasil, sucessor do Bolsa Família, a moeda passou de R$ 5,60, a maior cotação em mais de três meses. Nesta sexta, em queda pelo segundo dia seguido, era negociada na casa dos R$ 5,40.

Minutos depois da entrevista do presidente da Volkswagen, o Tesouro Nacional publicou relatório afirmando que um aumento dos gastos públicos sem a preservação da credibilidade do teto de gastos provocaria alta de juros, redução de investimentos privados e redução do Produto Interno Bruto (PIB), com consequente queda na renda e no nível de emprego.

Produção das montadoras caiu pela metade por causa da pandemia

Sufocada pela pandemia de coronavírus, a atividade da indústria automobilística brasileira encolheu praticamente à metade. A projeção da Anfavea, a associação das montadoras, é de que a produção termine o ano 45% abaixo dos números de 2019. Antes da disseminação do vírus, a entidade projetava aumento de 7%.

No mercado interno, as vendas acumuladas até julho estão 37% abaixo das registradas em igual período do ano passado. O resultado da Volkswagen, segundo Di Si, é um pouco melhor (queda de 31%), o que fez a companhia ganhar mercado. A participação dela nas vendas totais passou de 14,9% para 16,6% de um ano para outro, chegando perto de 20% se considerados apenas os números de julho.

O cenário das exportações é pior. A indústria automobilística como um todo reduziu as vendas ao exterior em 44% neste ano. No caso da Volks, elas caíram 48%.

Mercado brasileiro só recupera patamar de 2019 em 2024 ou 2025

Em linha com as previsões da Anfavea, Di Si prevê que o setor só vai retornar aos patamares do ano passado em 2024 ou 2025, no melhor cenário. No pior, apenas em 2030.

Ele ressalta, porém, que a reabertura das concessionárias em praticamente todo o país – 97% estão funcionando neste momento – reduziu um pouco o fosso entre 2019 e 2020.

Em abril e maio, a média de vendas de todas as empresas chegou a estar mais de 70% abaixo dos níveis do ano passado. Em julho, a diferença baixou a 28%. E, segundo Di Si, os números ainda não fechados de agosto mostram uma queda de 15% do mercado todo e de apenas 3% para a Volkswagen.

Ele atribui o desempenho ao portfólio da marca, destacando produtos como o T-Cross, fabricado na unidade de São José dos Pinhais (PR), que em julho se tornou o primeiro utilitário esportivo (SUV) a liderar o ranking de vendas de automóveis no país.

Assim como as demais empresas, aqui e lá fora, a Volkswagen enfrenta uma forte queda de caixa que a obrigou a adiar lançamentos. De acordo com o presidente da companhia, pelo menos três carros que seriam apresentados ao mercado brasileiro neste ano ficaram para 2021, entre eles o SUV Tarek.

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