Reuniões do Conselho Universitário da USP em que todos os mais de 100 membros votam igual em temas polêmicos, com nenhuma ou poucas discussões, revelam a existência de autocensura e o receio de ser acusado de racista e fascista. Essa é a opinião de Hernan Chaimovich, Professor Emérito do Instituto de Química da USP e ex-presidente do CNPq.
No texto “Autocensura e ameaça à liberdade acadêmica”, publicado no Jornal da USP, na última sexta-feira (23), Chaimovich explica como esse cenário é prejudicial para a ciência e a livre circulação de ideias.
“A autocensura ocorre quando docentes, ou alunos, limitam de forma voluntária sua própria expressão devido ao medo de represálias. Muitas vezes, a autocensura surge em resposta a pressões sociais, climas políticos ou o potencial de riscos profissionais”, escreve o professor.
“Embora a autocensura possa parecer um mecanismo de proteção, ela representa perigos significativos para a liberdade acadêmica. Situações recentes sugerem que a censura, as perseguições, e o medo da censura estão erodindo, lenta, mas seguramente, a liberdade acadêmica nas universidades, brasileiras, alicerce da sua própria autonomia”, continua.
Como exemplo dessas votações unânimes sem vozes discordantes, o professor cita a decisão que ampliou o sistema de cotas raciais na USP para a contratação de professores e funcionários. A proposta passou rapidamente, sem nenhum voto contrário. Para ele, em um cenário normal, o assunto dificilmente seria aprovado por unanimidade e sem discussões acaloradas.
Para fundamentar a sua sensação de falta de liberdade, o professor utiliza a versão de 2023 do Índice de Liberdade Acadêmica, que indica que essa característica do ensino superior está em declínio para mais de 50% da população mundial. No Índice, o Brasil caiu em relação aos últimos levantamentos e está entre os 40% piores entre 179 países.
Para o professor, a falta de liberdade para discordar restringe a capacidade de formar cidadãos. “Enquanto persistir o medo a discutir com civilidade e sem ódio qualquer tema na Academia, é difícil que o Brasil saia do triste lugar que ocupa no Índice de Liberdade Acadêmica”, afirma.
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