Especialistas em educação consultados pela Gazeta do Povo condenaram a notícia, divulgada nesta quarta-feira (12), de que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pretende encerrar o Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares (Pecim), criado pelo Ministério da Educação (MEC) durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Para eles, a decisão é "cruel" e baseada em "critérios ideológicos".
A educadora Anamaria Camargo, presidente e diretora-executiva do Instituto Livre pra Escolher, diz que a decisão é "lamentável". Uma pesquisa feita por seu instituto entre o final de 2022 e o começo de 2023 com aproximadamente 1.800 pais e mães de todo o Brasil mostrou que, entre as principais preocupações deles, estão a formação ética dos filhos e o desenvolvimento de habilidades como pontualidade, organização e responsabilidade.
Números apresentados pelo MEC no fim de 2022 mostram que as escolas atendidas pelo Pecim tiveram redução de 82% nos casos de violência física, de 75% nas denúncias de violência verbal, e de 82% nos casos de depredação do patrimônio da escola. Além disso, a evasão e o abandono escolar diminuíram em quase 80%.
As estatísticas altamente positivas são confirmadas pela experiência de pais e diretores de diversas escolas cívico-militares do país. Como mostra reportagem da Gazeta do Povo, diretores civis de colégios que integram o Pecim afirmam que a parceria com militares trouxe benefícios significativos sob os pontos de vista de desempenho acadêmico, disciplinar, psicológico e de envolvimento das famílias e das comunidades no ambiente escolar.
"A garantia de um clima escolar ordeiro e respeitoso, que permita que professores consigam transmitir seus conhecimentos e que alunos consigam aprender, está no topo da demanda de pais e mães", afirma Anamaria. "Parece claro que eliminar esse modelo das já reduzidas opções disponíveis para pais e mães que não podem pagar uma escola particular é extremamente cruel", acrescenta.
Para Pedro Caldeira, professor da Universidade Federal do Triângulo Mineiro e diretor do Núcleo de Educação Básica do Docentes Pela Liberdade (DPL), sem "uma avaliação sistemática e estruturada dos resultados obtidos pelas escolas cívico-mitares", só se pode concluir que "a decisão foi baseada em critérios ideológicos".
"A criação das escolas cívico-militares foi uma medida extremamente positiva criada pelo governo anterior", diz. "A consolidação e validação do formato cívico-militar poderia servir de exemplo para outras tipologias de escolas públicas com administração e metodologias pedagógicas diferenciadas, como escolas públicas, por exemplo, de inspiração montessoriana ou de inspiração clássica", acrescenta.
Caldeira considera que os colégios cívico-militares poderiam servir como "catalisador de algumas mudanças essenciais para a melhoria substancial das aprendizagens nos sistemas públicos educacionais", rompendo com a ideia "completamente falida" de um modelo único aplicado a todas as circunstâncias econômicas, sociais e culturais, preconizado pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Na opinião dele, "a descontinuidade das escolas cívico-militares é mais um exemplo de perda de oportunidade tipicamente brasileira". O especialista enxerga, no entanto, "uma luz ao fundo do túnel".
"As escolas cívico-militares são uma realidade consolidada em muitas cidades e estados ou no Distrito Federal. Talvez uma simples canetada feita em Brasília para encerrar o programa das escolas cívico-militares não seja suficiente para garantir o desaparecimento desse formato de escolas", diz, em referência à sinalização de vários governadores de que esses colégios serão mantidos.
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