Professores de unidades da USP com prédios ocupados por alunos grevistas têm apelado para atividades on-line para evitar a perda do semestre e atender quem não aderiu à paralisação. Trabalhos, provas e até aulas completas já foram realizadas pela internet nas últimas semanas.
Diante das ocupações e da paralisação de servidores, estudantes também têm enfrentado dificuldades para renovação de estágios e para aprovação de intercâmbios.
Os prédios da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) e da ECA (Escola de Comunicação e Artes) estão tomados há mais de um mês por alunos - que alegam seguir decisão de assembleia estudantil.
Os grupos grevistas exigem, entre outras coisas, implementação do sistema de cotas sociais e raciais, além de apoiarem a paralisação dos professores e servidores técnico-administrativos da USP, decretada pelos respectivos sindicatos no mês passado.
A universidade já tem um programa para aumentar a inclusão de alunos da rede pública, mas que é considerado tímido pelos manifestantes.
O professor Helmut Galle já deu quatro aulas on-line para driblar os piquetes. Por e-mail, encaminhou apresentações e arquivos de áudio da disciplina classicismo alemão. O trabalho para avaliação teve de ser entregue por e-mail na quarta passada (15).
Uma aluna do 5º ano de letras, que pediu anonimato por medo de represália, diz ter tido dificuldades com esse método. “Na aula, ele dá explicações mais completas. Preferia as reposições.”
Os colegas de classe do estudante Marcus Repa, 26, tiveram que fazer uma prova on-line de ciência política -algo inédito, segundo ele, mesmo em outras greves.
O professor Brasílio Sallum deixou no Moodle (ambiente virtual de apoio) duas perguntas. Os alunos tiveram 2h10 para fazer. “Foi um método interessante para caso de greve”, disse Repa. “Evita conflito com movimento estudantil, que tem legitimidade para suas ações”, afirma.
A prática dividiu alunos. “A minha internet caiu duas vezes, tive ataques de pânico”, diz Daniela Uehara, 22.
Violência
Além das atividades on-line, a ocupação já levou professores a organizarem aulas em locais secretos. Por exemplo, em um restaurante da FFLCH, conforme noticiado pelo “O Estado de S. Paulo”.
O diretor da faculdade, Sergio Adorno, afirmou que a greve atual rompeu uma tradição de manter acesso ao prédio administrativo -a lgo que preservava atividades como a pós-graduação.
Para ele, é preocupante a regularidade e alongamento das greves. “[Há um] apelo cada vez mais frequente à violência, como as ocupações e bloqueios de prédios.”
Na ECA, os estudantes fizeram a ocupação do prédio da administração central e piquetes na porta das salas de aula para evitar atividades. Somente a apresentação de trabalhos de conclusão de cursos estão sendo liberados.
Alguns professores sugeriram a prova on-line, mas os alunos recusaram. Em relações públicas e turismo, a data de entrega dos trabalhos pela internet foi mantida.
A aluna de turismo Tainá Santos, 19, diz que precisou entregar trabalho por e-mail, e professores ainda pediram que trabalhos fossem deixados em seus armários. “Sou a favor da greve, mas é melhor que o professor tenha forma de avaliar. Tem disciplinas no próximo semestre que dependem deste ano.”
O estudante de jornalismo Vitor Matioli, 22, que participa dos piquetes, diz que a atitude dos professores tem objetivo de “furar greve”. “Temos reivindicações de melhoria para a universidade, os alunos pedem reposições.”