Reeleito neste domingo (29), com 59,4% dos votos válidos, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), vai enfrentar grandes desafios na próxima gestão, que começa em 1.º de janeiro de 2021 e vai até 31 de dezembro de 2024.
Ele pode contar, pelo menos até 2022, com a parceria do governador João Doria, tucano como ele, e com a experiência acumulada desde 2018, ano em que assumiu o cargo de prefeito, após Doria deixar a prefeitura para disputar o governo do estado.
Covas vai poder montar o secretariado de acordo com suas preferências, embora tenha que agradar dez partidos que compuseram a coligação que o elegeu. O prefeito prometeu maior representação feminina e diversidade na equipe de governo.
Se controlar a pandemia do novo coronavírus é questão prioritária para todas as cidades, ela é ainda maior para São Paulo, município mais populoso do país e que já registrou mais de 14 mil mortes, de acordo com boletim da prefeitura do último domingo (29).
A onda de contágios não dá sinais de arrefecimento. Nesta segunda-feira (30), Doria decretou a volta do estado à bandeira amarela, que estabelece regras mais rígidas para bares, restaurantes e cinemas, entre outras atividades comerciais.
A gestão da pandemia é estritamente ligada à economia. Dinheiro em caixa esse ano não faltou graças aos repasses do governo federal aos municípios que superaram a perda de arrecadação. A prefeitura de São Paulo recebeu da União R$ 2,25 bilhões. Mas as incertezas rondam o ano que vem.
“O grande problema econômico causado pela pandemia não foi em 2020, mas virá em 2021. Os dois primeiros anos [de governo] vão ter uma agenda tomada pelo resgate daquilo que ele [Covas] acredita na economia, educação e saúde. Ninguém vai apresentar propostas de inovação que não sejam ligadas à questão da pandemia”, avalia Márcio Coimbra, cientista político da Universidade Mackenzie de Brasília.
Segundo o especialista, o prefeito vai continuar focado na gestão da pandemia e no esquema de vacinação, ao mesmo tempo que tentará cuidar da recuperação econômica na cidade. Para isso, precisará elevar o volume de investimentos em obras públicas.
Levantamento da Folha de S. Paulo mostrou no final de novembro que a atual gestão — primeiro sob o comando de Doria e depois de Covas — teve o menor nível de investimentos desde 2005. Foram R$ 8,2 bilhões investidos, um patamar inferior ao dos governos de Fernando Haddad (PT), Gilberto Kassab (PSD) e José Serra (PSDB).
Novo Plano Diretor de São Paulo e licitação dos ônibus
Covas, que prometeu cumprir os quatro anos de mandato, se comprometeu a atualizar o Plano Diretor da capital, documento que estabelece as regras para o crescimento da cidade e aprovado em 2014 na gestão Haddad.
O setor imobiliário pressiona o prefeito para que reduza a taxa sobre o direito de construir, que foi elevada na administração do petista. A propostas da nova Lei de Uso e Ocupação de Solo, que permite construir prédios mais altos nos miolos dos bairros, também vai dar trabalho para Covas.
Outra questão espinhosa é a licitação dos ônibus, desde sempre foco de grandes interesses. Hoje a prefeitura gasta R$ 3 bilhões para subsidiar a tarifa de R$ 4,40. Num cenário em que os passageiros estão diminuindo, Covas terá que encontrar o equilíbrio entre o aspecto fiscal e a qualidade do serviço.
“Ele poderia fazer uma renovação desses processos de uma forma mais transparente. Isso traria muitos benefícios para a população. A mesma coisa vale para o Plano Diretor: se ele fizer uma gestão de inclusão dos outros grupos políticos na discussão, ele pode ganhar politicamente”, afirma Coimbra.
Covas não deve encontrar dificuldades para montar uma maioria na Câmara municipal, que tem perfil conservador. Mesmo assim, a oposição de esquerda cresceu — PT e Psol somam 14 vereadores — e promete ser combativa. Outros parlamentares bolsonaristas ou ligados ao Movimento Brasil Livre também devem se posicionar contra o prefeito.
“[Covas] é um político que transita muito bem, é muito habilidoso, é uma característica herdada do avô [o ex-governador Mário Covas]. Ele não vai ter uma oposição que vai impedir suas propostas”, avalia o especialista.
Entre todas as questões, a mais urgente é organizar uma volta segura das aulas presenciais na rede municipal, que estão suspensas desde o começo da pandemia. Um grupo de mães e pais anunciou nesta segunda-feira (30) que vai entrar com uma ação popular para a reabertura das escolas. Hoje são permitidas apenas as atividades extracurriculares para os ensinos infantil e fundamental. O ensino médio retomou as aulas presenciais no dia 3 de novembro.
“Ele precisa arranjar uma forma de correr atrás desse ano letivo perdido. É uma resposta que ele precisa dar juntamente ao governo do estado. Aí a parceria com Doria é muito importante porque são dois líderes que conversam muito bem”, completa o cientista político.
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