Os eleitores das duas principais cidades do país vão às urnas neste domingo (15) num cenário imprevisível. As pesquisas de intenção de voto mostram que a disputa está acirrada em São Paulo e no Rio de Janeiro, e, apesar de haver favoritos, há boas chances de a eleição ser resolvida só no segundo turno.
Às vésperas da votação, os números indicam uma situação muito parecida em ambas as capitais. Em São Paulo, o prefeito Bruno Covas (PSDB), candidato à reeleição, lidera a corrida com 34% das intenções de voto, segundo levantamento da XP/Ipespe divulgado nesta quinta-feira (12). Guilherme Boulos (Psol), Celso Russomanno (Republicanos) e Márcio França (PSB) seguem tecnicamente empatados, dentro da margem de erro, com 15%, 12% e 10%, respectivamente.
Os números são semelhantes no Rio, onde o ex-prefeito Eduardo Paes (MDB) encabeça a disputa com 34% das preferências, de acordo com pesquisa Datafolha divulgada na quarta-feira (11). O prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) está em segundo lugar, com 14% das intenções de voto, tecnicamente empatado, dentro da margem de erro, com a Delegada Martha Rocha (PDT), que tem 11%, e a candidata do PT, Benedita da Silva, com 8%.
“Geralmente a eleição a prefeito é um referendo, é uma avaliação do atual governante. Onde ele está bem avaliado, a chance é de continuar. Portanto, a liderança de Covas em São Paulo e o desempenho ruim de Crivella no Rio estão dentro do esperado”, avalia Fernando Guarneri, cientista político da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Eleitores indecisos podem mudar o jogo
Mais de um terço dos eleitores, porém, pode mudar seu voto: no Rio, essa parcela do eleitorado soma 37%, segundo pesquisa Datafolha de 5 de novembro. Em São Paulo, esses eleitores representam 32% do total, de acordo com levantamento do Datafolha de quarta-feira (11). Os eleitores de França e Russomanno são os menos fieis. O grande número de indecisos pode embaralhar as cartas.
Na simulação de segundo turno, os cenários se assemelham nas duas cidades. As pesquisas apontam que Covas e Paes são favoritos contra todos os adversários. O ex-prefeito carioca derrotaria com facilidade Crivella e Benedita, mas a diferença se reduz quando a rival é Martha Rocha.
Num eventual segundo turno sem Paes, a candidata do PDT venceria Crivella e Benedita com ampla margem. Num cenário de confronto entre Benedita e Crivella, a petista é amplamente favorita.
Em São Paulo, num eventual segundo turno sem Covas, França aparece favorito contra Russomanno e Boulos. Já a disputa entre o candidato do Psol e o do Republicanos seria muito acirrada. Pesquisa XP/Ipespe mostra Boulos e Russomanno tecnicamente empatados com 33% e 34% dos votos, respectivamente.
Esquerda surpreende. Apoio de Bolsonaro não teve impacto
Segundo o cientista político da UERJ, a esquerda é a grande novidade dessa eleição. A campanha de Boulos surpreendeu e o candidato do Psol pode atrair os eleitores petistas que buscam o voto útil, já que a candidatura de Jilmar Tatto (PT) não decolou. No Rio, o cientista avalia que o desempenho de Benedita e Martha Rocha foi acima do esperado.
“O que explica o bom desempenho de Marta Rocha é que ela traz a figura de delegada, com um discurso de segurança e ordem, tema muito sensível para o eleitor das grandes metrópoles, ao mesmo tempo em que defende propostas ligadas aos direitos humanos”, diz o especialista.
Já os candidatos apoiados pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) patinam nas pesquisas. Russomanno encolheu fortemente desde o começo da campanha, enquanto Crivella sofre com alta rejeição. Guarnieri não atribui responsabilidades a Bolsonaro pelo mau desempenho dos dois.
“Em geral não há relação entre campanha nacional e municipal. Difícil atribuir a Bolsonaro a queda no desempenho de Russomanno, que ocorreu por questões próprias do candidato. Crivella está muito mal avaliado como prefeito e geralmente esse tipo de candidato é punido pelo eleitor”, explica o cientista político.
Como foi a campanha em São Paulo
Voltando a São Paulo, Covas e Russomanno tiveram desempenho oposto nas pesquisas. Enquanto as preferências de Covas cresciam, as do apresentador de TV e deputado federal desidratavam. A tentativa de colar sua imagem à de Bolsonaro e o apoio explicito do presidente não surtiram o efeito esperado na campanha de Russomanno que, em algumas ocasiões, deixou de explorar a proximidade.
A alta nas intenções de votos colocou Boulos e França na condição de serem competitivos para chegar ao segundo turno. Já a candidatura de Tatto (PT), apesar do apoio do ex-presidente Lula e do ex-candidato à presidência, Fernando Haddad, nunca decolou.
No terceiro grupo de candidatos em São Paulo aparecem Arthur do Val (Patriota), Joice Hasselmann (PSL), Andrea Matarazzo (PSD), Marina Helou (Rede) e Vera Lúcia (PSTU). Levy Fidelix (PRTB), Orlando Silva (PC do B) e Antônio Carlos (PCO) são os demais postulantes. O candidato do Novo, Filipe Sabará, retirou a candidatura após romper com o partido no meio da campanha.
Como foi a campanha no Rio
As candidaturas de Paes e Martha Rocha tiveram um crescimento lento e constante no Rio. Crivella, que teve um tímido apoio de Bolsonaro, também teve uma leve alta ao longo da campanha, mas o bispo licenciado é penalizado pela elevada rejeição entre os eleitores, que é de 62%, segundo Datafolha desta quarta (11). É mais que o dobro que a dos principais adversários.
Benedita também cresceu nas intenções de votos, mas viu sua distância para o segundo turno aumentar na reta final. Ao longo da campanha, ela contou com apoio de Lula, Haddad e de mais de 200 nomes notáveis do setor cultural, como Chico Buarque, Wagner Moura e Gregório Duvivier.
No terceiro grupo de candidatos da capital fluminense estão Luiz Lima (PSL), Renata Souza (Psol), Bandeira de Mello (Rede), Fred Luz (Novo), Paulo Messina (MDB), Clarissa Garotinho (PROS), Cyro Garcia (PSTU), Glória Heloiza (PSC), Henrique Simonard (PCO) e Suêd Haidar (PMB).
Metodologias das pesquisas citadas na reportagem
São Paulo
- Sob encomenda da XP Investimentos, o Ipespe ouviu 800 eleitores de São Paulo, por telefone, entre os dias 9 e 10 de novembro de 2020. O levantamento tem nível de confiança de 95,45%, com margem de erro de 3,5 pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral sob a identificação SP-02844/2020.
- Sob encomenda da TV Globo e do jornal Folha de S. Paulo, o Datafolha ouviu 1.512 eleitores de São Paulo entre os dias 9 e 10 de novembro de 2020. O levantamento tem nível de confiança de 95%, com margem de erro de 3 pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob a identificação SP-05584/2020.
Rio de Janeiro
- Sob encomenda da TV Globo e do jornal Folha de S. Paulo, o Datafolha ouviu 1.148 eleitores do Rio de Janeiro entre os dias 9 e 10 de novembro de 2020. O levantamento tem nível de confiança de 95%, com margem de erro de 3 pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob a identificação RJ-02768/2020.
- Sob encomenda da Folha de São Paulo e da TV Globo, o Datafolha ouviu 1.064 eleitores do Rio de Janeiro entre os dias 3 e 4 de novembro de 2020. O levantamento tem nível de confiança de 95%, com margem de erro de 3 pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob a identificação RJ-02176/2020.
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