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Campanha de Jair Bolsonaro quer explorar a melhora da economia para impulsionar a candidatura à reeleição.| Foto: Clauber Cleber Caetano/PR

A melhora nos indicadores de mercado de trabalho, inflação e crescimento econômico é motivo de comemoração no comitê de campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL). A cada divulgação, mais otimistas ficam os coordenadores eleitorais em relação às chances de reeleição.

Para eles, os dados confirmam que a economia está reagindo e será determinante para colocar o candidato no segundo turno com chances reais de vitória, a despeito de uma aparente estagnação nas últimas pesquisas Datafolha e Genial/Quaest.

Com 34% das intenções de voto segundo o último levantamento Datafolha e 32% de acordo com o Genial/Quaest, e índices de rejeição de 52% e 56%, respectivamente, Bolsonaro aparenta enfrentar dificuldades para alavancar sua campanha desde o início da propaganda eleitoral, em 16 de agosto.

Por isso mesmo, indicadores econômicos como a alta de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre e queda da taxa de desemprego para 9,1% no trimestre entre maio e julho trazem entusiasmo para a campanha presidencial.

Os dados foram celebrados pela base política aliada e por coordenadores eleitorais da campanha como o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, e o ministro das Comunicações, Fábio Faria. Em seus respectivos perfis nas redes sociais, eles destacaram os dados de emprego e de crescimento econômico, com provocações ao PT.

"É impressão minha ou o PT pegou uma síndrome de gago? Bastou o Brasil voltar a brilhar na economia depois do breu da herança maldita que eu vejo a oposição gaguejar diante do incontestável sucesso do Brasil", disse Nogueira na última sexta-feira (2).

Quais as estratégias para associar a reação da economia a Bolsonaro

A fim de materializar o entusiasmo em combustível político para impulsionar a candidatura, os estrategistas da campanha alinharam com Bolsonaro a necessidade de incorporar ainda mais falas sobre economia em seus discursos, sabatinas e em debates – caso ele decida participar dos próximos. Além disso, os coordenadores eleitorais também vão apostar em mais peças publicitárias para os horários da propaganda eleitoral que enalteçam os bons dados econômicos.

A ideia é intensificar o trabalho que já vinha sendo feito. Por exemplo, na propaganda divulgada na última quinta-feira (1º), Bolsonaro fala que seu governo proporcionou a desburocratização de abertura de novas empresas e trabalhou para conter a inflação. "E estamos tendo sucesso. Deveremos ter pelo segundo mês consecutivo deflação no Brasil, ou seja, inflação negativa. Todo mundo ganha com isso", disse.

A propaganda eleitoral ainda fala sobre o "Brasil Pra Elas", um programa que apoia e incentiva a mulher empreendedora, e aponta que, após a crise mundial gerada pela guerra na Ucrânia, o Brasil "está voltando a crescer". Em sabatina na Rede TV na quinta, Bolsonaro voltou a falar sobre economia.

O presidente falou sobre a sanção da Lei da Liberdade Econômica e Desburocratização, defendeu a redução de impostos como política para a redução da inflação e afirmou que, se reeleito, vai reapresentar o programa Carteira Verde e Amarela, proposta que prevê a redução de encargos trabalhistas cobrados do empregador.

"Para os jovens, essa carteira livra de encargos por parte do empregador. Ele vai dar espaço para essa juventude trabalhar. Você vai para Santa Catarina e Paraná, tem placas de 'precisa-se' em todo lugar", comentou. Bolsonaro argumentou que não há mão de obra pelo encarecimento provocado pelos encargos trabalhistas e que o programa Carteira Verde e Amarela, que foi derrubado pelo Congresso em sua gestão, vai dar chances e experiência aos jovens.

A abordagem econômica com acenos às mulheres e aos jovens faz parte da estratégia eleitoral de Bolsonaro para abordar diferentes grupos do eleitorado e tentar alavancar a campanha. O planejamento da campanha envolve, agora, intensificar a frequência e o destaque dado à economia e como as ações pela recuperação do país podem beneficiar a todos os brasileiros.

O que explica a melhora dos indicadores econômicos no momento

A incorporação de bons indicadores econômicos na campanha era esperada. A queda da inflação está relacionada à aprovação de medidas que reduziram os tributos e, consequentemente, os preços dos combustíveis, energia elétrica, gás de cozinha e serviços de transporte e comunicação.

O aumento do valor do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 a partir de agosto, por sua vez, deve dar novo fôlego ao consumo das famílias, junto com o aumento do vale-gás e os vouchers de R$ 1 mil mensais para caminhoneiros e taxistas. Antes mesmo do início do pagamento desses benefícios extras, a demanda dos consumidores foi um dos principais fatores a puxar para cima o PIB do segundo trimestre. Na primeira metade do ano, duas medidas do governo estimularam o consumo: a liberação de saques do FGTS e a antecipação do 13º de aposentados e pensionistas.

A Confederação Nacional do Comércio (CNC) previa uma alta de 1% para o PIB do segundo trimestre. Como ele subiu 1,2%, a entidade reajustou sua previsão de crescimento econômico em 2022 de 1,8% para 1,9%. E, diante do aquecimento da atividade, a confederação projeta que a taxa de desemprego cairá de 9,1% (no dado mais recente, de julho) para 7,5% no último trimestre do ano.

Dessa maneira, a taxa de desemprego média em 2022 encerraria o ano em 9,4%, segundo a CNC, bem abaixo dos 13,5% médios de 2021. "Ou seja, o desemprego vai ceder", destaca o economista-sênior da entidade, Fábio Bentes. Mesmo com um previsto aumento da demanda, a inflação, por sua vez, também deve encerrar o ano em um patamar abaixo de previsões anteriores.

Em função das medidas adotadas, o IPCA tem desacelerado. Houve deflação de 0,68% em julho e a CNC prevê queda de 0,3% do índice em agosto. No acumulado do ano, a expectativa é de encerrar abaixo do previsto há alguns meses, diz o economista-chefe da Necon Investimentos, André Perfeito. "No início do ano, projetávamos 9%. Deve ficar em 6%".

Quanto a campanha de Bolsonaro pode absorver dos estímulos econômicos

A despeito da melhora da economia, a campanha de Bolsonaro pode enfrentar dificuldades para convencer o eleitor. André Perfeito entende ser compreensível que o comitê eleitoral do presidente use os indicadores econômicos para mostrar que a economia está nos "trilhos", mas o economista prevê dificuldades em persuadir a população devido à inflação de alimentos e os baixos rendimentos.

O rendimento médio real habitual (já descontada a inflação) ainda está em patamares de 2012, alerta Perfeito. Enquanto isso, a inflação do grupo de alimentação e bebidas era de 14,72% em 12 meses até julho, bem acima do índice geral de inflação, de 10,07%. Ou seja, eleitores de baixa renda e mulheres são mais suscetíveis a esses dados.

"Em um país como o nosso, em que as mulheres são responsáveis pela economia do lar, elas sentem mais o preço nos supermercados. Caiu a gasolina, aliviou para a mulher? A resposta é: não. Vai falar da queda da inflação, mas a mulher vai falar que o preço do leite e de outros alimentos, como carne, continuam elevados", diz o economista.

Perfeito pondera que, em termos reais, o brasileiro também tem menor poder de compra para consumir o que consumia há dez anos. Por esses motivos e ainda que Bolsonaro chegue ao segundo turno, em 30 de outubro, o prazo pode ser curto para convencer os brasileiros acerca dos estímulos da economia, avalia o economista.

"Do ponto de vista macro, você deve ter números melhorando. Mas pela ótica micro, não vai melhorar substancialmente. As coisas demoram para acontecer. Aumentou a massa salarial pelo aumento do emprego, e na hora que aumenta a produção, o empresário vai investir. Na hora que investe, ele contrata mais e o salário sobe. É um ajuste de longo prazo", justifica.

O economista Fábio Bentes, da CNC, avalia que indicadores do mercado de trabalho e da inflação como renda e o custo de alimentos e bebidas precisam ser bem analisados. "O IPCA de janeiro a julho é de 4,77%, mas a inflação de alimentos é de 9,83%, mais que o dobro", pondera.

"O contraponto a essa melhora da ocupação é o comportamento do rendimento. O rendimento tem caído quando comparado com o mesmo período do ano passado. E isso ocorre por dois fatores. Ainda tem taxa de desemprego elevada, embora em queda, e isso obviamente desfavorece negociações salariais. O segundo ponto é que a própria inflação ainda está elevada em 12 meses", diz Bentes.

Quais as chances de Bolsonaro de Bolsonaro avançar nas pesquisas

O cientista político Jonatas Varella, diretor de processamento de dados da Quaest, entende que a campanha presidencial acerta quando busca usar a economia para alavancar a candidatura de Bolsonaro, mas prevê desafios no convencimento do eleitor.

No início da série histórica de pesquisas da Quaest, Varella comenta que "saúde e pandemia" era o principal problema apontado pelos entrevistados. Desde setembro, a economia é apontada como a principal preocupação.

"A economia sempre impactou no cenário eleitoral como um todo, só que, de março para cá, tem caído o número de pessoas que acham que a economia é o principal problema. Ainda é disparado o maior, mas está em queda. E por que isso importa? Porque tem afetado a avaliação do governo. O governo Bolsonaro atingiu na última rodada o seu melhor momento de avaliação positiva", pondera Varella.

Na última pesquisa Quaest, a aprovação do governo atingiu um índice de 30%, enquanto os que avaliam de forma negativa chegou ao menor patamar, de 40%. Logo, é natural a decisão da campanha de explorar os dados econômicos, comenta Varella. Porém, o diretor da Quaest aponta para os motivos pelos quais o presidente permanece estável no levantamento do instituto.

"Por que Bolsonaro não cresce? Minha hipótese é que as pessoas estão vendo as ações econômicas neste momento como ação eleitoreira, ou seja, buscando eleição", destaca. Segundo o levantamento da Quaest, 63% da população entende que as medidas econômicas adotadas pelo governo são principalmente para ele se reeleger.

O preço dos alimentos é outro motivo que leva Varella a acreditar que Bolsonaro não decola. Dos entrevistados na última pesquisa, 79% apontam que o preço dos alimentos não caiu no último mês, a despeito de 82% afirmarem que a gasolina recuou. "Os preços dos alimentos são mais sensíveis para a maioria da população, mas as pessoas ainda não estão vendo uma queda", alerta Varella.

O diretor da Quaest não descarta a hipótese de Bolsonaro crescer na pesquisa do instituto ou mesmo de outros, mas pondera que, desde o início oficial das candidaturas, uma reação mais forte ainda não foi sentida. "Na nossa pesquisa de 17 de agosto, 62% achavam que ele propôs as medidas econômicas para se reeleger, sem altruísmo. Na última, oscilou para 63%, o que mostra que ele não conseguiu reverter essa percepção", comenta.

O analisa de dados também alerta para a percepção da população a respeito das reações de Bolsonaro contra a jornalista Vera Magalhães, no debate da Band, e contra a advogada Gabriela Prioli, nas redes sociais. "Não digo que ele não vai conseguir se recuperar, mas, de toda a forma, é importante vermos nos próximos dias a busca das campanhas de Lula e Bolsonaro em atrair as mulheres e os eleitores de baixa renda, especialmente", destaca.

Metodologias citadas na reportagem

A pesquisa Genial/Quaest de 17 de agosto foi realizada pelo instituto Quaest e contratada pelo Banco Genial. Foram ouvidos 2.000 eleitores presencialmente entre os dias 11 e 14 de agosto de 2022 em todas as regiões do país. A margem de erro estimada é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o intervalo de confiança é de 95%. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo BR-01167/2022.

O levantamento Genial/Quaest de 31 de agosto foi realizado pelo instituto Quaest e contratada pelo Banco Genial. Foram ouvidos 2.000 eleitores presencialmente entre os dias 25 e 28 de agosto de 2022 em todas as regiões do país. A margem de erro estimada é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o intervalo de confiança é de 95%. O levantamento foi registrado no TSE sob o protocolo BR-00585/2022.

A pesquisa Datafolha citada foi feita pelo instituto com entrevistas de 5.734 eleitores entre os dias 30 de agosto e 1º de setembro em 285 municípios brasileiros. O levantamento foi contratado pelo jornal Folha de S. Paulo e pela TV Globo e está registrado no TSE com o protocolo BR-00433/2022. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.

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