Aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) buscam minimizar o impacto da suspeita de ligação do contador João Muniz Leite com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Muniz Leite foi contador de Lula e, em 2017, chegou a prestar depoimento em um dos processos contra o ex-presidente na Operação Lava Jato.
Na avaliação de integrantes da campanha, a tentativa de ligar Lula ao inquérito policial tem "cunho meramente eleitoral". Com isso, avaliam que a repercussão do assunto serviria apenas para "alimentar as redes de fake news" dos adversários do ex-presidente.
"Essa mídia não se emenda: ligam um contador que fez um trabalho pra Lula ao PCC. Você já entendeu o que vem por aí. Os bolsominions adoraram. Polícia e mídia agitando de novo", afirmou o deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP).
O jornal O Estado de S. Paulo revelou que o Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) pediu à Justiça de São Paulo o sequestro de bens de Muniz Leite por suspeita de lavagem de dinheiro do crime organizado. O investigado e sua mulher teriam ganhado 55 vezes em loterias federais somente em 2021, segundo as apurações.
Em uma das vezes, o contador teria dividido o prêmio de R$ 16 milhões da Mega Sena com o traficante de drogas Anselmo Becheli Santa Fausta, conhecido como Cara Preta, considerado um dos principais fornecedores de drogas do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Muniz Leite foi o contador responsável pelas declarações de Imposto de Renda de Lula entre 2013 e 2016. Além disso, seu escritório atual, em São Paulo, fica no mesmo endereço em que Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho do ex-presidente, mantém três empresas: a FFK Participações, a BR4 Participações e a G4 Entretenimento, conforme dados da Junta Comercial de São Paulo.
Contudo, a Polícia Civil de São Paulo informou que nenhum político (Lula ou outro nome) aparece na investigação do Denarc. Em nota, a assessoria do petista também rechaçou as ligações com as investigações. "O ex-presidente já teve todos os seus sigilos fiscais e bancários quebrados e jamais uma irregularidade foi encontrada. O ex-presidente não tem qualquer relação com o caso citado", informou.
Contador prestou depoimento em investigação contra Lula na Lava Jato
O contador João Muniz Leite foi ouvido em 2017 pelo então juiz Sergio Moro, durante uma fase da Lava Jato que apurava suposta falsificação de recibos de aluguel de apartamento utilizado por Lula em São Bernardo do Campo. À época, o contador disse ter sido responsável pelas declarações de renda do petista, a pedido do advogado Roberto Teixeira, compadre do ex-presidente, de 2011 a 2015.
A investigação apurava se os comprovantes de quitação de aluguel entregues pela defesa do ex-presidente à Justiça Federal eram falsos. Moro descartou a falsidade dos recibos. No entanto, o Ministério Público Federal afirmou que, mesmo não tendo sido fabricados, os comprovantes eram frios. Ou seja, que Lula nunca havia pago pelos aluguéis do apartamento. Após a decisão que tornou o ex-juiz da Lava Jato suspeito, o processo teve suas provas anuladas e acabou sendo arquivado.
Em nota, o advogado Cristiano Zanin Martins, que defende Lula, disse não saber se Muniz ainda presta serviços para o petista. Já Fábio Tofic, que defende o filho do ex-presidente, não se manifestou sobre o caso.
Adversários de Lula repercutem denúncia sobre contador nas redes sociais
Na contramão da estratégia adotada pela campanha do PT, os adversários do ex-presidente aproveitaram as investigações para ligarem Lula ao contador. Nas redes sociais, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro (PL), ironizou dizendo que a ligação do petista com Muniz Leite seria "só uma coincidência".
"Vão ter 3.000 dias de Jornal Nacional, faniquitos histéricos na timeline dos blogueiros e 'artistas', protestos de sindicatos ou impulsionamentos nas 'brigadas digitais' do bem dos movimentos ligados à facção? Obs: nada é ilação, mas fato!", completou o vereador em seu perfil no Twitter.
Na mesma linha, o deputado estadual Gil Diniz (PL-SP) afirmou que a ligação não era coincidência. "Lula, PCC e lavagem de dinheiro na mesma frase. Não é coincidência, é o resumo dos últimos anos de desgoverno do PT".
O deputado Paulo Ganime (Novo-RJ) ironizou a "sorte" do contador para faturar os prêmios das loterias. "Absurda a sorte que tem o ex-contador do Lula, ganhou na loteria 55 vezes só no ano de 2021. E agora está sob investigação de lavagem de dinheiro, associada ao crime organizado do PCC. Isso pode ser só a ponta do iceberg. Não podemos mais tolerar esse legado de corrupção", escreveu nas redes.
O que se sabe sobre as investigações contra o contador João Muniz Leite
Após a divulgação do caso, a Justiça determinou o bloqueio de R$ 40 milhões em imóveis e ônibus de integrantes do PCC e de João Muniz Leite. Além do contador, a medida atinge o traficante de drogas Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, considerado um dos principais fornecedores de drogas do PCC, e seu sócio, Silvio Luiz Ferreira, o Cebola, chefe do setor que cuida do tráfico doméstico mantido pela facção. Santa Fausta foi morto, em dezembro de 2021, em São Paulo.
A Justiça sequestrou 250 ônibus da UPBus, a empresa de ônibus comprada por Santa Fausta supostamente com o dinheiro lavado nas loterias. A UPBus mantém contrato de R$ 660 milhões com a Prefeitura de São Paulo e toma conta de 13 linhas de ônibus na zona leste. Além de Santa Fausta, Cebola, que está foragido, faz parte da diretoria da empresa.
Muniz Leite é suspeito de ser o “operador de um complexo esquema de lavagem de dinheiro através de prêmios da Loteria Federal”. Segundo a Polícia Civil, o montante lavado pelo contador em prêmios na loteria chegou aos R$ 40 milhões. Do total, R$ 16 milhões ficaram com o contador e o restante teria ficado com Santa Fausta. Em diversas ocasiões, os valores das apostas superavam o dos prêmios obtidos, com exceção de dois prêmios de R$ 16 milhões na Mega Sena.
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