A aparente saída do ex-juiz Sergio Moro da corrida presidencial e o "blefe" do agora ex-governador paulista João Doria (PSDB), que confirmou sua pré-candidatura à Presidência da República após quase desistir, mexeram no tabuleiro da terceira via. Da esquerda à direita, todos observaram com atenção o xadrez eleitoral e calculam os impactos desses movimentos.
A leitura feita por lideranças políticas e interlocutores dos mais diferentes espectros da política à Gazeta do Povo é que as jogadas desta "super" quinta-feira (31) possibilitam um rearranjo dos partidos de centro que, a depender de diferentes variáveis, podem ampliar ou reduzir a polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL).
Ao deixar o Podemos e se filiar ao União Brasil, Moro perde a condição de presidenciável, embora assegure aos mais próximos que não desistiu de sua candidatura e tentará se cacifar internamente no novo partido. A migração partidária possibilita, no entanto, que outras candidaturas da "terceira via" se reorganizem e tentem crescer no vácuo deixado por Moro, a exemplo do PSDB.
Os tucanos não despontam, contudo, como favoritos a colher os espólios eleitorais de Moro. Ao dar sinais de que não renunciaria ao mandato de governador e abdicaria de sua pré-candidatura e voltar atrás, Doria alimentou o desejo daqueles que sonham com a candidatura de Eduardo Leite (PSDB), que deixou o governo do Rio Grande do Sul nesta quinta.
Leite conta com apoio de parte da sigla para sair candidato ao Palácio do Planalto, embora uma ala tucana defenda o respeito ao resultado das prévias do PSDB e, portanto, Doria como pré-candidato à Presidência da República.
Além de mudanças no xadrez da terceira via, a quinta também foi marcada por movimentos do governo federal, via reforma ministerial. A saída de 10 ministros e a entrada de novos abre a possibilidade de Bolsonaro avançar em negociações para ampliar sua base eleitoral. O Planalto acredita que, dessa forma, a chapa presidencial poderá, inclusive, crescer nas pesquisas eleitorais.
Já na esquerda, Lula foi à Bahia oficializar a pré-candidatura do professor Jerônimo Rodrigues (PT) ao governo baiano em uma chapa com o MDB como vice. A aliança com os emedebistas é vista pelos petistas como a possibilidade de uma coalizão nacional entre PT e MDB.
Como o centro pode alimentar a polarização e quais os impactos disso
A filiação de Moro ao União Brasil foi classificada como um gesto de "desprendimento" pelo vice-presidente do partido em São Paulo, Júnior Bozzella. Para o dirigente, é um ato que reafirma a intenção de discutir uma candidatura única da terceira via. Contudo, ao fazer isso e abrir janela para o rearranjo no centro, Moro pode ajudar a campanha de Bolsonaro, até porque, por ora, nomes do centro não demonstram o mesmo desprendimento.
À medida em que o PSDB segue com sua pré-candidatura indefinida em decorrência da disputa interna entre João Doria e Eduardo Leite, abre-se a possibilidade de os votos de Moro migrarem para Bolsonaro, e não para o centro. Essa é uma leitura admitida entre pedetistas, que sonham com a possibilidade de o capital eleitoral do ex-juiz ser absorvido pelo ex-governador cearense Ciro Gomes (PDT), que, nesta quinta, negou abrir mão de sua candidatura. "Muitos vão ceder, mas não serei eu", disse.
Na hipótese de o centro não absorver os votos de Moro e o ex-juiz não conseguir se viabilizar novamente candidato à Presidência, Bolsonaro pode absorver esse eleitorado e crescer nas eleições. É um cenário que alimentaria a polarização e eliminaria quaisquer chances de a terceira via se viabilizar, seja por Ciro ou alguém da centro-direita.
"Aqueles 6%, 7% do Moro, eles não vão para Lula em hipótese nenhuma, muitos apostam que ele vai para o Bolsonaro", diz o deputado federal Eduardo Bismarck (PDT-CE), 1º suplente da Mesa Diretora da Câmara. "Mas pode ser que algo 'pingue' no Ciro, porque tem muito 'bolsonarista' arrependido que não quer Bolsonaro de jeito nenhum", acrescenta.
A possibilidade de Ciro crescer para um patamar de dois dígitos nas pesquisas e romper os 10% poderia mudar o panorama da corrida eleitoral e tornar sua candidatura mais atraente aos olhos de outros partidos. Nesse cenário, Bismarck entende que o PDT poderia compor com outros partidos. "Talvez com o crescimento dele até julho, quando é o período das convenções, isso pode acontecer", analisa.
Na contramão desse cenário, a possibilidade de Ciro não subir nas pesquisas e a centro-direita não se unir criaria um cenário de "polarização perfeita" entre Bolsonaro e Lula, pondera Bismarck. "Se a candidatura do Ciro não subir mais um pouco — e não vejo outro nome que possa aparecer no cenário hoje —, e ficar basicamente entre os dois, que é o que ambos querem, é mais factível que ganhe o Bolsonaro", analisa o pedetista.
Como as mudanças no centro podem diluir a polarização
Existem variáveis que tornam possível a diluição da polarização entre Lula e Bolsonaro. Na possibilidade de Eduardo Leite se sobressair a João Doria no PSDB e ser lançado pré-candidato, muitos vislumbram que ele possa crescer nas pesquisas eleitorais e ultrapassar outros nomes do centro. Nesse contexto, alguns analisam que ele poderia firmar uma chapa com a senadora Simone Tebet (MDB-MS), pré-candidata à Presidência, e emplacar uma candidatura competitiva.
Uma candidatura de Leite como cabeça de chapa é a única que gera preocupação no governo. Diferentemente de Doria e Moro, que disputam o mesmo eleitorado e são rejeitados por parte do eleitorado, o agora ex-governador gaúcho é apontado na Esplanada dos Ministérios como alguém sem rejeição e com espaço para crescimento.
"Leite tira voto porque, na pauta conservadora, a ideologia de gênero não ajuda a gente. Ele é gay, é liberal individual e na economia, mas não atropela a igreja. É jovem, um cara centrado, que fala bem, ele não é chacota de ninguém. É um candidato mais perigoso que Doria, Moro e a Simone", analisa um interlocutor do governo.
O vice-presidente nacional do PL, deputado federal Capitão Augusto (SP), endossa a leitura de que o recuo da candidatura de Moro mais atrapalha do que ajuda. Para ele, Leite volta a ganhar força e isso pode levar o PSD a apoiar sua candidatura junto ao PSDB e atrair o apoio de União Brasil, Podemos e MDB.
"[Gilberto] Kassab [presidente do PSD] está fechado, não quer apoiar nem Lula, nem Bolsonaro, se não ele racha o partido. Então, ele vai para a terceira via, começa a se fortalecer com União Brasil, Podemos, PSDB, talvez até consiga puxar alguns partidos. Acho que a coligação vai apontar um nome novo, que seria Eduardo Leite com a Simone Tebet", analisa. "Doria não ia para lugar nenhum e Moro apanhava da esquerda e direita", complementa.
Uma possível candidatura de Leite "embaralha" as cartas e gera algum nível de incômodo ao governo à medida em que pode mudar o xadrez eleitoral, ressalta Augusto. "Estávamos bem tranquilos, caminhando tranquilamente para o segundo turno com Lula porque sabia que nenhum dos dois [Doria e Moro] iria subir, agora dá uma embaralhada, tem que acompanhar o movimento", diz.
Apesar de crer que Leite pode se viabilizar e ser uma ameaça maior na terceira via, Augusto acredita que dificilmente uma candidatura de centro vai conseguir romper a atual polarização. "Eu acredito que temos praticamente 30% de votos consolidados na direita, ninguém tira nós do segundo turno. Acho que quem tem que se preocupar é o Lula, apesar da esquerda ter também os seus 25% de votos consolidados, damos como certo segundo turno", justifica. "É muito difícil outro candidato atingir o patamar de 25%. Os dois estão consolidados", acrescenta.
Como Moro tenta manter sua candidatura à Presidência no União Brasil
Os reais impactos que os movimentos adotados nesta quinta-feira podem trazer às eleições devem ser notados somente em julho. O ex-juiz, por exemplo, disse a pessoas próximas ainda hoje que sua candidatura se mantém e que ele apenas deu "um passo atrás" para dar "mais passos" a frente.
Com Moro filiado por São Paulo, o União Brasil acredita que vai filiar ainda mais quadros políticos para lançar à Câmara dos Deputados e ao Senado. Até 20 de julho, quando se inicia o prazo para a realização de convenções partidárias para deliberar sobre coligações e definir candidaturas à Presidência e a governos estaduais, a intenção da legenda é trabalhá-lo como candidato a deputado federal e montar sua relação de postulantes à Câmara.
A meta de Moro, porém, é viabilizar sua candidatura nesse período. Aliados e interlocutores afirmam que ele vai atuar internamente para se cacifar como candidato à Presidência e reduzir as rejeições existentes com a "ala do DEM" existente no União Brasil, chefiada pelo secretário-geral do partido, ACM Neto, pré-candidato ao governo da Bahia.
A abrupta saída de Moro para o União Brasil frustrou muitos eleitores. Aliados que o auxiliavam em sua coordenação relatam que apoiadores nos estados se sentem "órfãos" e ressentem da decisão, que, ao menos por ora, inviabiliza sua candidatura. Esse é um dos motivos pelo qual o ex-juiz não quer abdicar de sua campanha e vai trabalhar para revivê-la.
O acordo que selou a ida de Moro ao União Brasil também permite a ele fazer movimentos políticos que possam mantê-lo viável como presidenciável. O primeiro grande passo a ser feito por ele será uma viagem aos Estados Unido. Ele embarca neste fim de semana para uma agenda política em think tanks e organismos multilaterais.
Moro irá ao Capitólio, o Congresso norte-americano, onde tem agendas com lideranças dos partidos Republicano e Democrata. Ele também irá à Organização dos Estados Americanos (OEA), dará uma palestra no Atlantic Council, um think tank do campo das relações internacionais, terá reuniões com o Brazil-US Business Council, a principal organização empresarial dedicada ao fortalecimento da relação econômica e comercial entre Brasil e EUA, e participará do Brazil Conference, evento organizado por integrantes de instituições como Universidade Harvard, MIT e Universidade de Boston.
A agenda de Moro nos Estados Unidos foi organizada por Márcio Coimbra, coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília. O objetivo de aliados é mostrar as visões do ex-juiz para o Brasil nos EUA e demonstrar desenvoltura internacional, algo que, para interlocutores, ajudaria a qualificá-lo enquanto presidenciável.
As movimentações de Moro são defendidas por empresários que defendem a manutenção de sua candidatura. Aliados entendem que é legítimo ele tentar se viabilizar internamente no União Brasil e que ACM Neto e a "ala do DEM" deveriam pensar não apenas em suas chapas estaduais, mas também em uma configuração nacional. Para eles, João Doria, Eduardo Leite e Simone Tebet não conseguirão superar os dois dígitos nas pesquisas eleitorais.
O empresário Fábio Aguayo, diretor da Executiva Nacional da Confederação Nacional do Turismo (CNTur), é um dos que mantém a defesa da candidatura de Moro. "Ele tem que manter o discurso [de presidenciável]. Sendo democrático e respeitando os critérios que se estabelecem, ainda acho que é o mais forte para ser candidato. Vou manter essa postura, até as convenções tudo pode acontecer", diz.
Como fica a relação no PSDB e quais as chances de uma chapa com o MDB
Movimentos à parte de Moro, o PSDB vai agir para tentar absorver os votos do ex-juiz. O problema, admitem tucanos, é como fazer isso a curto prazo em meio à queda de braço entre Doria e Leite. Os aliados do ex-governador de São Paulo entendem que ele tem preferência e que o ex-governador gaúcho deveria respeitar as prévias.
Já os aliados de Leite dizem que, até o momento, Doria não conseguiu se viabilizar nas pesquisas e que ele deveria ter o desprendimento político para recuar. Uma leitura feita entre alguns tucanos é de que, na disputa entre ambos, o ex-governador do Rio Grande do Sul pode sair fortalecido.
O "blefe" de Doria não foi bem aceito no tucanato. Quando o ex-governador de São Paulo deu sinais de que permaneceria no governo paulista e iria à reeleição, aliados de Rodrigo Garcia (PSDB), que assume o governo paulista com a proposta de pré-candidatura, chegaram a ameaçar Doria de impeachment em "tempo recorde" na Assembleia Legislativa, segundo informou o jornal O Globo.
A Gazeta do Povo apurou que houve muita "lavagem de roupa suja" até que o PSDB se acertasse internamente, o que resultou no anúncio de renúncia de Doria e a confirmação de sua pré-candidatura. O problema, diz um tucano paulista, é que o ex-governador paulista irritou caciques do partido e impulsionou a candidatura de Leite.
O senador Izalci Lucas (PSDB-DF), pré-candidato ao governo do Distrito Federal, analisa que "só o tempo dirá" quem será o candidato tucano à Presidência. Ele defende, contudo, que as prévias sejam respeitadas e que, pela lógica, a preferência seja por Doria. "Precisa pacificar, unir e acertar com outros partidos. Quem tiver a capacidade de fazer isso que vai ganhar a eleição", destaca.
Os aliados de Leite e dissidentes de Doria, agora, trabalham para isolar o vencedor das prévias tucanas e atuam para construir uma composição com a emedebista Simone Tebet. O líder do MDB na Câmara, deputado Isnaldo Bulhões Jr. (AL), entende que haverão muitas conversas e debates no centro político, mas sustenta que seu partido manterá sua pré-candidatura à Presidência.
"A gente tem que respeitar o calendário, o MDB colocou uma pré-candidatura e vai discutir até mais a frente. Terá muito debate, muitas conversas, e essas decisões e todos esses fatos gerados em torno da renúncia do governador Doria ficam para julho", pondera. "Eu costumo respeitar sempre o calendário eleitoral", acrescenta Bulhões Jr.
Como o governo espera desidratar o centro e manter a polarização
A esperada reorganização do centro ligou um sinal de alerta no governo. A coordenação eleitoral de Bolsonaro mantém a confiança de vitória, mas reconhecem que os desdobramentos desta quinta demandarão ainda mais esforços para a construção de uma ampla base eleitoral.
O governo articula a construção de uma base que vai além de PL, PP e Republicanos. Além de conversas para trazer partidos menores, como PSC, PTB, PROS e PRTB, o Planalto também atua para inserir PSD, MDB e União Brasil.
À medida em que o centro tenta se reorganizar entre PSDB, MDB e União Brasil, o governo trabalha para desidratar a terceira via e a promessa é de intensificar as conversas com alguns desses partidos, principalmente o PSD, que assumiu o Ministério da Agricultura com Marcos Montes, ex-deputado federal e filiado ao partido de Gilberto Kassab.
Para tornar isso possível, o governo negocia estruturas na Esplanada dos Ministérios, estatais e até a vice-presidência da República. O agora ex-ministro da Defesa, Walter Braga Netto, segue como franco favorito para ser vice de Bolsonaro na chapa à reeleição. Contudo, a depender da evolução do presidente nas pesquisas, um novo nome pode entrar em pauta.
A coordenação eleitoral de Bolsonaro definiu que o melhor é definir um vice em julho, quando chegar o período das convenções partidárias. Até lá, existe a expectativa de que ele evolua nas pesquisas e reduza seus índices de rejeição. Caso isso ocorra, aliados defendem que ele poderia escolher um político para ser vice.
Suas ex-ministras da Agricultura, Tereza Cristina (PP), e da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves (Republicanos), são nomes que voltam a ser citados no Planalto como opções para compor como vice de Bolsonaro na chapa presidencial. Seria uma estratégia para ajudar a reduzir a rejeição junto ao eleitorado feminino e puxar votos de outros públicos.
A vontade pessoal de Bolsonaro, porém, segue em emplacar Braga Netto como vice. "É um homem cotado para qualquer coisa", disse o presidente na quinta-feira. O general deixou o Ministério da Defesa e assume um posto de assessor especial no Planalto e vai despachar diretamente com o presidente. Interlocutores palacianos apontam que ele tem capacidade para contribuir e agregar na estratégia de campanha.
Aliados alertam, porém, para a importância de Bolsonaro evitar temas polêmicos e sensíveis. Existe um cálculo político feito de que evitar "esticar a corda" com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) é uma tática eficaz para atrair apoio de políticos e partidos aliados. Nesta quinta, ele defendeu a ditadura militar e sugeriu que ministros da Suprema Corte "calem a boca".
"Nós aqui temos tudo para sermos uma grande nação. Temos tudo, o que falta? Que alguns poucos não nos atrapalhem. Se não tem ideias, cala a boca. Bota a tua toga e fica aí. Não vem encher o saco dos outros", declarou. Ele mencionou duas vezes o deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), que foi à cerimônia sem tornozeleira eletrônica e a colocou na tarde de quinta ao atender uma determinação do ministro Alexandre de Moraes.
O presidente admitiu que é aconselhado a evitar temas polêmicos e deixou escapar a irritação com o tipo de decisão de Moraes. "Não pode conselheiros o tempo todo [dizerem]: 'calma, espera o momento oportuno'. Calma é o cacete, pô", disse Bolsonaro. "É muito fácil falar: ‘Daniel Silveira, cuida da tua vida'. Não vou falar isso. Fui deputado por 28 anos. E lá dentro daquela Casa, com todos os possíveis defeitos, ali é a essência da democracia também", declarou.
Apesar do desabafo de Bolsonaro, aliados minimizam as declarações e entendem que isso não causará problemas à candidatura. "Não ajuda, mas também não atrapalha", analisa o deputado Capitão Augusto, vice-presidente do PL. Para ele, em "alguns dias" as falas do presidente estarão superadas.
PT desdenha da terceira via e avalia que centro ajuda campanha de Lula
Os acontecimentos desta quinta foram bem recebidos pelo PT. Para o partido, a retirada da candidatura de Moro e o blefe de Doria são sinais de que a eleição vai se polarizar entre Lula e Bolsonaro, uma análise que é comemorada por lideranças petistas.
"Os movimentos de hoje mostram um certo desespero do centro, dessa chamada terceira via, e até um certo desaparecimento do Ciro. É um processo natural e uma tentativa de sobrevivência de alguns como o próprio Moro, que não decolou e não decola", avalia o deputado federal Zé Neto (PT-BA), vice-líder do partido na Câmara.
Mesmo a reforma ministerial do governo e a expectativa criada no Planalto de como Bolsonaro pode crescer a partir de agora nas pesquisas não é uma situação que preocupam os petistas. Para Zé Neto, mesmo candidaturas estaduais como a de Tarcísio de Freitas, ex-ministro da Infraestrutura, não tem chances de emplacar e se mostrar robusta o suficiente para ajudar a transferir votos à chapa presidencial.
"Acho que eles vão ter muitas dificuldades para emplacar essas candidaturas. Serão movimentos para administrar danos, porque o governo não tem palanque e vai ter problemas na execução do governo, que já não está bom", avalia o vice-líder do PT. "Tarcísio, por exemplo, saiu dos quadros do PT, foi do Dnit [Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes] quando Dilma era presidente e trazia um certo trânsito junto ao setor. Agora que vai sair eu acho que vai enfrentar dificuldade grande", acrescenta.
O petista entende que a eleição já está polarizada e acredita que a tendência é permanecer assim. "A polarização existe porque tem dois candidatos que se firmaram nas suas posições. Mas agora, com a diluição dos campos mais conservadores, a tendência do Bolsonaro é esfriar", avalia. "E do outro lado, a terceira via a cada hora demonstra clara dificuldade e fragilidade para se viabilizar", pondera.
A consolidação da chapa de Jerônimo Rodrigues (PT) com Geraldo Júnior (MDB) como pré-candidato a vice-governador é, para Zé Neto, uma demonstração de força do partido. Segundo o deputado, é um movimento que pode ser replicado a nível nacional, sendo, inclusive, articulado dentro do Senado pelo senador Jaques Wagner (PT-BA) com lideranças emedebistas.
"Lula marca ponto, a tendência é que a gente consiga avançar na conversa com MDB nacionalmente. Na Bahia, saímos das cordas, estava todo mundo preocupado com o movimento do PP [que, no estado, desembarcou da base petista e migrou para a pré-candidatura de ACM Neto], e as coisas se inverteram", avalia Zé Neto. "No 'lado de lá', eles não conseguem se encontrar e, a nível nacional, vai se concentrando com a saída dos ministros para fazer palanque com Bolsonaro uma polarização que a gente consegue ver uma viabilidade de vitória no nosso campo", acrescenta.
O líder do MDB na Câmara, deputado Isnaldo Bulhões Jr. (AL), lembra que, em Alagoas, seu partido tem afinidade histórica com o PT, mas ele evita cravar que arranjos estaduais possam garantir o embarque de sua legenda a uma chapa política ou outra.
"O MDB é muito plural, desde seu nascedouro foi formado por frentes de pensamentos diferentes, então, carece de uma discussão maior, não apenas nessas questões de arranjos locais, mas, sim, dentro do seu funcionamento e da programática do partido", pondera. "Tem frentes que pensam mais próximo à esquerda, e uma pequena ala mais próxima a direita, minoritária", diz.
A coordenação eleitoral de Bolsonaro mantém diálogo com a ala do MDB mais alinhada à direita. Um dos nomes que apoia a liberação da bancada nos estados e o apoio à candidatura presidencial é o prefeito de Duque de Caxias (RJ), Washington Reis, segundo-secretário da Executiva Nacional emedebista.
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