A filiação de Jair Bolsonaro ao PL e a janela partidária, período que começa em março e no qual parlamentares podem trocar de partido sem perder o mandato, não devem levar todos os aliados do presidente à mesma legenda escolhida pelo chefe do Poder Executivo para disputar a reeleição. Ou seja, "pulverização" da base aliada em vários partidos tende a permanecer para as eleições de outubro.
Com isso, Bolsonaro terá aliados em partidos que têm outros pré-candidatos à Presidência da República, como o Podemos, do ex-juiz Sergio Moro; o MDB, da senadora Simone Tebet (MS); e o Avante, do deputado federal André Janones (MG). Bolsonaro também contará com o apoio de parlamentares que pertencem a partidos que não definiram sua posição na disputa presidencial, mas cujas cúpulas estão distantes do apoio a Bolsonaro – este é o caso de União Brasil e do PSD.
A janela partidária estará aberta entre 3 de março e 1.º de abril. O PL deve se tornar o maior partido da Câmara. A expectativa é que a sigla receba muitos deputados que são apoiadores de primeira hora de Bolsonaro e estão atualmente filiados ao União Brasil – legenda formada pela fusão entre o PSL e o DEM. Esses parlamentares pertenciam ao PSL, partido pelo qual o presidente foi eleito em 2019, e que não puderam acompanhar Bolsonaro na desfiliação ao partido, por caisa das regras de fidelidade partidária.
O deputado Bibo Nunes (RS), por exemplo, é um dos que trocará o União Brasil pelo PL. O deputado Éder Mauro (PA) também deverá ingressar no PL. Ele é filiado ao PSD, partido comandado pelo ex-ministro Gilberto Kassab e que lançou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), ao Senado. Como, porém, a candidatura de Pacheco não tem deslanchado, Kassab estuda aproximar o PSD do projeto presidencial do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O ex-governador paulista Geraldo Alckmin pode se filiar à legenda, embora o caminho mais provável do ex-tucano seja o PSB.
Grande parte dos deputados do PSD que apoiam Bolsonaro deve, entretanto, permanecer no partido. É o caso de Reinhold Stephanes Junior (PR). "Fico no PSD. Creio que, da nossa bancada, a maior parte deve estar ao lado de Bolsonaro", declarou o parlamentar. Segundo Stephanes, se fosse promovida uma votação entre os membros da bancada para optar entre as pré-candidaturas de Bolsonaro e Lula, o presidente receberia mais apoio. "A candidatura de Pacheco nunca foi endossada pela bancada de deputados. Aqui, todo mundo é Bolsonaro ou Lula", diz.
Stephanes alega que a permanência no PSD se justifica por duas questões: uma é a liberdade que, segundo ele, o presidente Kassab dá aos filiados. E o segundo motivo é a adequação a arranjos regionais. No Paraná, estado de Stephanes, o PSD é o partido do governador Ratinho Junior e de muitos apoiadores de Bolsonaro. Os também deputados federais paranaenses Sargento Fahur, Vermelho e Sandro Alex devem continuar no PSD e apoiar Ratinho e Bolsonaro nas eleições de outubro.
A deputada Greyce Elias (MG) indicou também que permanecerá em seu partido, o Avante, partido do pré-candidato presidencial André Janones. Ela, que é vice-líder do governo na Câmara, destacou que, mesmo permanecendo no Avante, apoiará a candidatura de Bolsonaro no segundo semestre.
Sucesso de outros pré-candidatos pode influenciar mudanças na janela partidária
Outro fator que pode influenciar na decisão dos apoiadores de Bolsonaro é o desempenho de pré-candidaturas que estão colocadas. Se os projetos presidenciais decolarem nas pesquisas e forem efetivados, podem estimular a saída voluntária dos defensores do governo na janela partidária.
É o caso do deputado José Medeiros (Podemos-MT), que é pré-candidato ao Senado em Mato Grosso. "Se o Moro realmente for candidato a presidente, aí não dá, né? Mas se ele não for, vou conversar com Bolsonaro para ver se posso permanecer no Podemos", diz.
Medeiros espera concorrer ao Senado com o apoio de Bolsonaro. Hoje, o partido do presidente tem um nome natural para concorrer ao cargo – Wellington Fagundes, que é senador e tem seu mandato terminando. A expectativa de Podemos é que Fagundes concorra ao governo estadual.
Indecisões no MDB ligado a Bolsonaro
O senador Luiz do Carmo (GO), defensor do governo, anunciou recentemente sua desfiliação do MDB, partido no qual esteve por mais de uma década. Seu desligamento do partido teve menos conexão com o plano federal, e mais motivações estaduais. Carmo pretende concorrer à reeleição e o MDB deve indicar o vice na chapa do atual governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil).
Outro senador emedebista, o líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (TO), não confirma a permanência no partido. Segundo a assessoria do parlamentar, ele só definirá seu futuro partidário em uma ocasião posterior. Gomes foi eleito em 2018 e, por isso, não precisa disputar eleições neste ano.
Também eleito pelo MDB em 2018, o senador Márcio Bittar (AC) indicou que permanecerá no União Brasil. Ele se filiou ao PSL no segundo semestre do ano passado e optou por continuar na agremiação quando houve a fusão que culminou na criação do União Brasil. Bittar é apoiador de Bolsonaro.
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