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O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes.
O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes.| Foto: Clauber Cleber Caetano/PR

Embora tenha enfrentado um período de recessão e pressão inflacionária recorde ao longo do mandato, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem na manga uma série de indicadores econômicos favoráveis para utilizar na campanha para o segundo turno da eleição presidencial.

“O Brasil, levando-se em conta a grande maioria dos demais países no mundo, é o que melhor se saiu, está se saindo na questão da economia”, disse o presidente logo após a apuração dos votos do pleito do domingo (3) confirmar a realização do segundo turno com o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT).

“Temos dados positivos, e acredito, como vai ser um primeiro para segundo turno bastante elástico, quatro semanas, e não três, como geralmente acontecia, dá para a gente explicar bem à população”, afirmou Bolsonaro.

Um dos principais dados que o favorecem é a variação do Produto Interno Bruto (PIB), que representa a soma de todos os bens e serviços produzidos pelo país. Nos dois primeiros trimestres de 2022, o PIB teve alta de 1,1% e 1,2%, respectivamente, acima das projeções de economistas ao início do ano.

De acordo com a última edição do boletim Focus, do Banco Central, divulgada na segunda-feira (3), a expectativa do mercado financeiro é de crescimento de 2,7% na atividade econômica do país em 2022. A projeção, que representa a mediana de mais de cem analistas, vem sendo revisada para cima há 14 semanas consecutivas.

Outro dado que já foi explorado pela campanha do presidente no primeiro turno é a inflação. Após uma série de medidas tomadas para desonerar – ainda que temporariamente em alguns casos – combustíveis e energia elétrica, o IPCA apontou deflação nos meses de julho e agosto, de -0,36% e -0,68%, respectivamente. Prévia do índice "cheio", o IPCA-15 indicou a possibilidade de deflação também em setembro.

Os números favoráveis ao governo também têm influência do contexto internacional. A cotação do barril de petróleo, utilizada como referência pela Petrobras para a definição dos preços dos combustíveis no mercado interno, caiu bastante nos últimos meses. Após passar do patamar de US$ 130 em março e se manter acima de US$ 100 até o início de agosto, o barril do tipo Brent encerrou setembro em US$ 82,55.

Com isso, depois de chegar a 8,89%, a projeção do mercado para o IPCA no ano de 2022 vem caindo semanalmente e já está em 5,74%, aproximando-se do teto da meta do BC para o ano, que é de 5%. Em 2021, a alta de preços foi de 10,06%, recorde desde 2015.

O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e utilizado como referência para contratos de locação de imóveis, também apresenta queda há dois meses. Em setembro, caiu 0,95%, depois de se retrair 0,7% em agosto.

Há números positivos ainda no mercado de trabalho. Em tendência de queda há um ano e meio, a taxa de desemprego chegou ao seu patamar mais baixo em sete anos no trimestre encerrado em agosto, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. Depois de bater os 14,9% em março de 2021, o indicador foi a 8,9% na última medição, divulgada no fim de setembro.

Outro dado positivo para o governo vem das estatais, que, em 2021, apresentaram lucro líquido total de R$ 187,7 bilhões, mais que o triplo do apurado no exercício anterior e o maior resultado desde 2008. O faturamento chegou a R$ 999,8 bilhões.

Com novos recordes em 2022 em empresas como a Petrobras, a União tem recebido montantes também históricos de dividendos, o que deve levar o governo central a ter superávit primário pela primeira vez desde 2013. Conta para o resultado ainda a venda do controle acionário da Eletrobras, que rendeu ao Tesouro R$ 26,6 bilhões.

A melhora do cenário para a atividade econômica e para o mercado de trabalho, além da redução da pressão inflacionária, se reflete na opinião pública sobre a economia. Em setembro, o Indicador de Incerteza da Economia (IIE-Br), da FGV, caiu 4,9 pontos, para 111,7, menor nível desde novembro de 2019, quando chegou a 105,1.

O indicador mede a incerteza da economia brasileira a partir de informações coletadas dos principais jornais do país e das expectativas do mercado financeiro acerca de variáveis macroeconômicas.

“O IIE-Br está agora apenas um pouco acima do que pode ser considerado um nível confortável de incerteza (abaixo dos 110 pontos) pela primeira vez desde o início da pandemia de Covid-19”, explica Anna Carolina Gouveia, economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV, em nota. “O quadro eleitoral parece exercer pouca influência no indicador até o momento, e a convergência do IIE-Br para níveis inferiores a 110 pontos dependerá das perspectivas para a continuidade da atual fase de crescimento e para o cenário político pós-eleição.”

No setor produtivo, a confiança também vem crescendo. Em setembro, o Índice de Confiança Empresarial (ICE), também da FGV, subiu 0,8 ponto, chegando a 101,5, maior nível desde agosto de 2021, quando era de 102,5. Em médias móveis trimestrais, o indicador mantém tendência ascendente pelo sexto mês seguido. O ICE consolida índices de confiança de quatro setores: indústria, serviços, comércio e construção.

O mercado financeiro mostrou ter visto com bons olhos a disputa em segundo turno entre Bolsonaro e Lula em vez de uma eleição do petista já no domingo (2), possibilidade que era sugerida por algumas pesquisas de intenção de voto. No dia seguinte à apuração do primeiro turno, o índice Bovespa subiu 5,54%, e o dólar caiu 4,05%.

Analistas entendem que o contexto, de um lado, eleva as chances de reeleição do atual mandatário e, de outro, força um deslocamento mais ao centro da campanha do ex-presidente. Dessa forma, avaliam, cresceu muito a chance de que o próximo governo mantenha políticas pró-mercado.

Ainda no campo da economia, Bolsonaro enfatiza desde o primeiro turno a ampliação do Auxílio Brasil, de R$ 400 para R$ 600, como uma das medidas para ajudar a população mais pobre a enfrentar a alta de preços.

O adicional de R$ 200 vai até o fim do ano e o Orçamento que o governo mandou ao Congresso não prevê verbas para ele em 2023, mas o presidente afirma que o valor mais alto será mantido no ano que vem.

Na segunda-feira (3), um dia após o primeiro turno, a Caixa Econômica informou que vai antecipar os pagamentos do benefício em uma semana neste mês.

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